O risco para Lula em caso de vitória de Lira na Câmara, segundo Chico Alencar – CartaCapital
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O deputado eleito do PSOL disputa com o líder do Centrão a presidência da Casa
O deputado federal eleito Chico Alencar (PSOL-RJ), que disputará com Arthur Lira (PP-AL) a presidência da Câmara na próxima quarta-feira 1, avalia que a vitória do adversário com larga vantagem é um risco para o governo do presidente Lula (PT) já que a “capacidade de barganha e chantagem do Centrão cresceria muito”.
O psolista reconhece o favoritismo do atual mandatário da Câmara, mas considera que levar a disputa para o segundo turno teria capacidade de conter o fisiologismo dos aliados de Lira.
“Uma candidatura avassaladora, quase única, que representa o Centrão, não pode caminhar sozinha”, diz Alencar em entrevista a CartaCapital. “É muito ruim inclusive para o próprio governo Lula que o Lira venha a ter 400 ou 500 votos, pois ele vai virar uma espécie de co-presidente“.
O apoio da bancada do PT à reeleição de Lira, afirma Alencar, é um erro político e fruto dos traumas do partido com as derrotas para Eduardo Cunha, em 2015, e Severino Cavalcanti, em 2005.
“A nossa candidatura tem um efeito pedagógico que pode reduzir o poder absoluto do Lira, que é muito perigoso para a democracia brasileira”, reforçou o psolista.
Leia a entrevista:
CartaCapital: Deputado, por que uma candidatura contra o favorito Arthur Lira?
Chico Alencar: A suposta maioria não significa melhor posição e nem correção política. O Lira tem muito apoio, inclusive de quem ele combateu ferrenhamente, já que é um bolsonarista, mas a política pede um limite e uma fronteira de princípios.
A gente tem que ser firme na estratégia, mas flexíveis na tática. O Parlamento, por definição, é o espaço do dissenso, da divergência civilizada e do choque de projetos políticos. A nossa candidatura expressa uma parcela da sociedade que quer se ver representada também na Câmara dos Deputados.
Uma candidatura avassaladora, quase única, que representa o Centrão, não pode caminhar sozinha. É muito ruim inclusive para o próprio governo Lula que o Lira venha a ter 400 ou 500 votos, pois ele vai virar uma espécie de co-presidente. A capacidade de barganha e chantagem do Centrão cresceria muito. Muito poder é muito perigoso.
A minha candidatura deriva de efeitos políticos, de ânsia democrática e de maneiras de compreender o funcionamento do Parlamento mais democrático, sem orçamento secreto e mais transparente.
CC: O senhor considera um erro o PT apoiar o Lira. Na sua avaliação, o que levou o partido a tormar essa decisão?
CA: É a realpolitik e o trauma com o [Eduardo] Cunha e com o Severino [Cavalcanti]. O nosso entendimento é que uma candidatura do campo democrático, não vinculada ao bolsonarismo e que não tenha compromisso de proteger os bolsonaristas golpistas do Parlamento, poderia forçar um segundo turno e, mesmo o Lira vencendo, teria um ganho político mais articulado para conter o fisiologismo, o velho e carcomido método do criar dificuldades para obter facilidades.
A nossa candidatura tem um efeito pedagógico que pode reduzir o poder absoluto do Lira, que é muito perigoso para a democracia brasileira.
CC: Em caso de vitória do Lira ele será para Lula o que foi para Bolsonaro ou pode se tornar um Eduardo Cunha para o PT?
CA: Eu tendo a achar que a mobilização dos movimentos e o grau de popularidade do Lula serão determinantes para ver como o Lira se comporta, porque ele é um conservador, reacionário e fisiológico, mas é inteligente.
CC: Lira tem providenciado bondades a deputados às vésperas da eleição. É uma disputa justa?
CA: A paridade de armas não existe. Ele usa a máquina, a casa da presidência da Câmara. Ele tem feito almoços e jantares com bancadas e não é para dar boas-vindas, é para pedir votos. A gente está suando para conseguir o contato dos 42% dos novos parlamentares que ainda nem tomaram posse e ele [Lira] tem todos.
O Lira usa as prerrogativas de presidente da Casa como fez o seu aliado Bolsonaro, que usou e abusou da máquina pública. O Lira está fazendo, guardadas as devidas proporções, a mesma coisa.
CC: Como o senhor avaliou a montagem de ministério do governo Lula com espaços a partidos do Centrão?
CA: A experiência pretérita não recomenda muito. O Centrão é fisiológico, não tem ética pública e onde ele vai tem sempre o toma lá dá cá e o intestino grosso da politicagem. Era melhor não ter esses nomes lá, mas é uma decisão soberana. É um pouco a caractéristica pragmática do Lula, que dá sempre uma no cravo e outra na ferradura. Nomeia ministros de alta qualidade técnica e política, mas outros nem tanto. Vai dar mais trabalho para ele, mas ele considera que é melhor assim.
Mesmo com o PSOL apoiando o Lula desde o primeiro turno, e eu defendi o apoio, nós vamos cobrar do Lula e dos ministérios quando houver iniciativas contrárias ao interesse público. O Parlamento existe para isso. A minha candidatura tenta expressar nem um Parlamento embarreirador e chantagista e nem um Parlamento carimbador, acritico das iniciativas do Poder Executivo.
Alisson Matos
Editor do site de CartaCapital direto de Brasília.
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