Artigo: Juventude e carreira na política – Correio Braziliense

A última eleição foi marcada por um movimento de conscientização dos jovens para a importância do voto. Movidos pela crença de que as escolhas desse grupo têm um enorme potencial de alterar a realidade política, influenciadores e artistas criaram campanhas nas redes sociais para que pessoas entre 16 e 18 anos fizessem o título de eleitor e comparecessem às urnas.
Apesar do potencial, a participação da juventude na política estagnou após a redemocratização. As euforias de 2013 mostraram vontade, mas o clima de esperança da retomada democrática foi substituído pela desconfiança dos jovens em relação aos partidos políticos e ao Congresso Nacional. Grande parte desse descrédito se deve ao fato de que a política parece desconectada dos reais espaços de diálogo e de representação. E, se não se fala sobre política, tampouco há o interesse em atuar na política.
Nos últimos anos, o Brasil viveu uma movimentação de grupos políticos formados por jovens que adentraram o campo político. MBL e Movimento Acredito são alguns deles que elegeram parlamentares com perfil atípico na política: jovens e de famílias sem relação política.
Além de eleger representantes jovens, precisamos dessa população nos espaços de poder, dentro de gabinetes e equipes políticas. Por isso, há cinco anos, nós da Legisla Brasil também lançamos nosso primeiro processo seletivo em busca de pessoas que queriam trabalhar com política. Desde então recebemos mais de 50 mil inscritos, que em grande parte são jovens recém-formados em busca de oportunidades em um universo de trabalho tão fechado como é a política. Quando conseguimos usar a linguagem e os canais da juventude, ela responde.
Há um desafio de convencimento e qualificação para tirar os jovens apenas da interação on-line e levá-los a ocupar cargos na política. É nesse contexto que a Legisla Brasil surge enquanto uma organização que tem como objetivo povoar a política com novos talentos, mostrando às pessoas que desejam impactar o futuro do país que uma carreira no Legislativo é um caminho viável e acessível.
Uma carreira de trabalho na política costuma ser vista com grande desconfiança por conta do nepotismo, flutuações a cada quatro anos e falta de segurança para os cargos comissionados. Todas essas características existem no setor público brasileiro, mas nossa busca vai no sentido de construir caminhos sólidos para que cada vez mais profissionais enxerguem a política como área de atuação com grandes oportunidades de impacto e crescimento profissional.
Para isso, construímos verdadeiras redes de profissionais e lideranças parlamentares que buscam mudar o jeito de fazer política no Brasil. Entre as iniciativas, destaca-se o programa O2 — Oxigenando a Política Brasileira, que recebeu o Selo de Direitos Humanos da Prefeitura de São Paulo. Desde a sua concepção, o programa selecionou mais de 500 pessoas para compor essa rede profissional. Nesses cinco anos, nós conectamos mais de 170 pessoas a mandatos no Legislativo e campanhas eleitorais.
Com essa iniciativa, a Legisla demonstra que uma carreira na política é possível e que a efetividade parlamentar é impactada positivamente quando a escolha dos profissionais é focada em critérios profissionais e de diversidade. Das pessoas selecionadas na primeira edição do O2, aproximadamente 90% se identificaram como parte de algum dos grupos sub-representados na política: 44% dos candidatos selecionados são mulheres, 49% se autodeclaram não brancos e 45% não heterossexuais. Desse grupo, mais da metade afirmou que a iniciativa foi o primeiro despertar para que eles buscassem oportunidades no mundo político.
O caminho para que essas inovações alcancem o potencial desejado ainda é longo, mas iniciativas como a Legisla mostram que uma política mais acessível, representativa e efetiva é possível e está acontecendo. Reconectar os jovens à política é imperativo para o fortalecimento da democracia e trazê-los ao protagonismo dos espaços de decisão é essencial para um Legislativo que tenha a cara do Brasil.
*Luciana Elmais é Diretora Executiva da Legisla Brasil

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