“A educação deve permanecer como prioridade política em todos os países” – Porvir

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Inovações em Educação
por Redação ilustração relógio 24 de janeiro de 2023
Em 2019, a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) passou a celebrar, anualmente, o Dia Internacional da Educação, em 24 de janeiro, a fim de reforçar o papel da educação para a paz e para o desenvolvimento. 
Atualmente, informa a Unesco, 258 milhões de crianças e jovens em todo o mundo ainda não frequentam a escola; 617 milhões de crianças e adolescentes não sabem ler e fazer contas básicas e cerca de quatro milhões de crianças e jovens refugiados estão fora da escola.

Sob o tema “investir em pessoas, priorizar a educação”, a Unesco dedica o dia internacional deste ano a meninas e mulheres no Afeganistão, privadas do direito à educação: 80% delas, em idade escolar, não frequentam escolas por causa da decisão das autoridades locais. 

Em artigo publicado no blog do Banco Mundial, Jaime Saavedra, diretor global de educação da organização e ex-ministro da educação do Peru, faz uma pensata sobre os esforços mundiais para garantir a aprendizagem. Confira a tradução abaixo, publicada pelo Porvir com a devida autorização do Banco Mundial:

Por Jaime Saavedra*
A data de hoje marca o Dia Internacional da Educação. É uma data para mobilizar ambição política, ações e soluções para recuperar as perdas de aprendizagem devido à pandemia, reconhecendo que, mesmo antes da Covid-19, vivíamos uma crise de aprendizagem.
Atualmente, mais do que nunca, precisamos estimular esforços nacionais e globais para acabar com a pobreza na aprendizagem. Cerca de dois terços das crianças em todo o mundo estão em situação de pobreza de aprendizagem. Ou seja, são incapazes de ler e compreender um texto simples aos 10 anos de idade. Isso é inaceitável e uma ameaça às perspectivas de crescimento e desenvolvimento de muitos países. Na maioria dos países, o direito à educação está consagrado nas constituições e é uma parte visível de todas as plataformas políticas. Mas, na maioria dos países de renda média e baixa, esse direito é, na melhor das hipóteses, apenas parcialmente cumprido. Em alguns casos, a educação de baixa qualidade leva a maus resultados dos alunos e, em outros, a educação básica não é gratuita ou a experiência educacional é interrompida por conflitos prolongados.
O problema não é que não saibamos como montar uma boa escola e um sistema educacional decente. Bons exemplos não faltam. O problema é a falta de vontade política e de compreensão do tamanho real do problema. Um artigo de 2021 de Lee Crawfurd (e outros colaboradores) do Center for Global Development mostrou que funcionários públicos de 35 países subestimaram a proporção de crianças de 10 anos em seus países que não conseguiam ler e entender um texto simples. Eles disseram que, em média, o número deveria ser de 25%. A taxa real foi 47%. Isso pode explicar por que muitas vezes não há senso de urgência ou baixa priorização da educação nas decisões orçamentárias.

Como os formuladores de políticas subestimam a magnitude do desafio, não deveria ser uma surpresa que os gastos por aluno sejam insuficientes para fornecer uma educação decente para todos. De acordo com o Education Finance Watch de 2022, do Banco Mundial e da Unesco, os gastos anuais por aluno na educação básica em países de renda média-alta são de US$ 1.080, enquanto são incrivelmente menores, US$ 53, em países de baixa renda. Esses números são insignificantes em comparação com os US$ 7.800 observados em média nos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Os preços diferem entre os países, mas mesmo com essas diferenças, é impossível garantir uma educação decente com gastos tão baixos.
Mais recursos financeiros são necessários para contratar e pagar professores, para infraestrutura, recursos digitais, material didático e desenvolvimento profissional dos educadores, principalmente em países de baixa renda. Mas também há espaço para melhorar a eficiência. Por exemplo, livros, prédios e tablets podem ser adquiridos de forma mais eficiente (em países de baixa renda, 30% da linha de bens e serviços do orçamento não são gastos) e de forma a evitar a corrupção. A tecnologia pode apoiar o gerenciamento de sistemas e ajudar a tornar o trabalho dos professores mais eficiente e impactante. Mas a ação mais importante para melhorar a eficiência é garantir que as pessoas que trabalham nas escolas e gerenciam o sistema sejam as melhores e tenham o melhor desempenho.
O investimento com o pessoal da educação compreende entre 60% e 90% dos orçamentos de educação do país, portanto, alcançar o melhor resultado possível com esses profissionais é uma medida importante para melhorar a educação. Professores e profissionais da educação definem a qualidade de um sistema educacional. E é justamente esse fator humano que define a qualidade de um sistema educacional. A qualidade da experiência de aprendizagem de uma criança ou jovem depende, sobretudo, da qualidade da interação com os seus professores. Os professores devem ser capazes de inspirar os alunos, estimular sua criatividade, ensiná-los a aprender e desenvolver todo o seu potencial. Isso não é um trabalho fácil. Assim, os sistemas de ensino devem trazer os melhores profissionais para a carreira docente.
Lamentavelmente, ainda existem muitos sistemas educacionais nos quais critérios políticos determinam quem é selecionado como professor ou diretor ou onde o educador é alocado. Quando isso acontece, não importa quanto se invista em livros, tecnologia ou prédios: as chances de uma educação de boa qualidade são muito baixas. Os professores devem ser selecionados de forma meritocrática e devem ser apoiados com treinamentos práticos e coaching (mentoria), e planos de aula quando necessário, dando-lhes as ferramentas para melhorar seu trabalho em sala de aula constantemente. E líderes e gestores mais dispostos devem ser selecionados como diretores. Por fim, esses profissionais devem ser bem remunerados, pois têm nas mãos o futuro de nossas crianças.
Uma educação de alta qualidade para todos não é impossível. Ainda assim, requer comprometimento político e financeiro, e o compromisso de estabelecer estruturas e processos eficientes para gerir este complexo sistema.
Apesar das múltiplas crises que enfrentamos e dos atuais desafios sociais e econômicos, a educação deve continuar sendo uma prioridade política em todos os países. Os sistemas educacionais têm muitas necessidades, e a pandemia tornou essas necessidades ainda mais agudas. Líderes políticos, comunidades empresariais, comunidades educativas e a sociedade em geral devem agir com rapidez e determinação para recuperar o aprendizado e reconstruir sistemas que se concentrem incansavelmente na melhoria da qualidade do processo ensino-aprendizagem. Devemos abordar isso antes que as perdas de aprendizado da pandemia deixem uma cicatriz permanente no futuro das crianças. A hora de agir é agora.
* Publicado originalmente no site do Banco Mundial e traduzido mediante autorização.
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