Aborto, drogas: campanha de Lula tenta driblar temas polêmicos no 2º turno – UOL Confere
Do UOL, em São Paulo
10/10/2022 04h00Atualizada em 10/10/2022 08h02
A campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quer desviar o foco neste segundo turno das chamadas “pautas de costume”, caras ao presidente Jair Bolsonaro (PL), mas ainda não sabe como evitar os temas sem prejuízo eleitoral.
Nesta semana, o petista gravou um vídeo falando sobre legalização do aborto, mas objetivo é que esse tipo de assunto saia da órbita da campanha.
Petistas argumentam que grande parte desses temas, como aborto ou legalização das drogas, cabem ao Legislativo —e debatê-los muito pouco viria a acrescentar à campanha.
O desafio é pensar em como responder às investidas do presidente e aos questionamentos da imprensa e do eleitorado sem ter de entrar em polêmicas. As opções? Usar interlocutores, redes sociais e responder na mesma moeda.
Falar ou não falar? Eis a questão. As chamadas pautas de costume, tratadas geralmente com abordagem conservadora, são exploradas por Bolsonaro durante toda sua carreira política e tiveram uma guinada na sua campanha vitoriosa de 2018.
Neste ano, questionamentos sobre legalização do abordo e das drogas ou mentiras sobre fechamento de igrejas por parte de partidos de esquerda voltaram a rondar a campanha com a mira voltada a Lula.
No primeiro turno, com esperança de vitória no último domingo (2), o PT foi tateando a estratégia aos poucos. Primeiro, evitava falar de assuntos como religião —cristão, Lula dizia se recusar a “usá-la como arma eleitoral”. Mas, aos poucos, começou a tratar do tema em seus discursos e, por fim, participou de um evento voltado ao público evangélico na Baixada Fluminense em setembro.
Agora, temas delicados passam pelo mesmo dilema. Nesta semana, o petista divulgou um vídeo em que dizia não só ser contra o aborto como todas as suas esposas (duas ex e a atual) também eram e é. “Lula é a favor da vida”, diz a legenda no fim do vídeo.
Acho que quase todo mundo é contra o aborto. Não só por que nós somos defensores da vida, mas porque deve ser uma coisa muito desagradável e muito dolorosa alguém fazer um aborto
Lula, em vídeo
No início do ano, um vídeo em que ele fala que o tema é um assunto de saúde pública já foi usado contra ele por apoiadores de Bolsonaro. Agora, em meio à busca por novos no segundo turno, o ex-presidente volta ao tema —mas isso não é consenso na campanha.
Quem ganha? Parte da cúpula petista argumenta que não há ganhos em temas como este, embora faça parte do aceno conversador e ao centro que a campanha avalia ser necessário para fechar a eleição. A discussão é longa.
Para alguns, é mais eficiente combater fake news. Para outros, seria mais didático explicar que temas como este cabem ao Legislativo não ao Executivo (a ele caberia apenas sancionar ou não). Enquanto um terceiro grupo diz que há poucas chances de avançar entre o eleitorado radicalmente conservador —parcela que tem isso em mente na hora de votar.
Todos que se dizem contra falar sobre isso concordam, no entanto, que abarcar estas discussões é jogar no campo adversário. Brincam que é como enfrentar um tubarão no mar ou na terra. Debater legalização das drogas (outro tema do Congresso) seria como encarar o animal no oceano. Para o petista, seria mais inteligente trazê-lo para o solo —ou seja, para suas pautas.
Tentativa e erro. A campanha ainda está testando o rumo certo a tomar, mas, com apenas 28 dias de segundo turno (e 22 dias restantes), a avaliação final é que é melhor driblar do que arriscar entrar em uma batalha que possa perder —na campanha, depois que um assunto gruda em você, nunca mais solta, dizem os articulares. Resta saber como.
No momento, algumas opções estão sendo testadas. A primeira, como visto, foi usar um material direto com o ex-presidente tratando do assunto para tentar “encerrá-lo”. Não encerrou.
Nos próximos dias, petistas, apoiadores e outros membros da campanha devem tratar do assunto —assim como foi feito com o tema dos evangélicos no primeiro turno. A avaliação é que ter pessoas ligadas a Lula defendendo o tema faz com que sua imagem seja ligada indiretamente, mas sem ter custo pontual à sua imagem.
Olho por olho. Outro ponto é aumentar o uso das redes sociais para falar de outros temas. Nesta semana, a campanha conseguiu contra-atacar Bolsonaro com outros dois temas não-políticos que, na avaliação deles, conseguem “responder” às pautas de costume.
Na terça (4), a campanha petista surfou na viralização nas redes sociais do vídeo de Bolsonaro na Maçonaria. Gravado antes de 2018, quando ainda era deputado federal, as imagens causaram resistência em especial dentro do eleitorado evangélico.
Sem ter de entrar no tema da religião, a campanha estimulou apoiadores a divulgarem o vídeo e explorarem o tema, com incursões especiais do deputado André Janones (Avante-MG), um dos conselheiros de Lula nas redes sociais.
Na última sexta (7), a propaganda eleitoral trouxe uma entrevista de Bolsonaro para o “The New York Times” em que ele diz que comeria carne indígena. O vídeo, gravado em 2016, voltou a viralizar nas redes sociais e a campanha do presidente pediu ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) pediu que fosse tirado de circulação.
Estes são dois exemplos, dizem os petistas, em que a campanha pode responder às pautas de costume sem entrar nelas diretamente —basta trazer outra polêmica. Essa estratégia, no entanto, também não é consenso. São muitos conselheiros, explicam, embora a palavra final seja sempre de Lula.
Arroz, feijão e churrasquinho. Enquanto isso, Lula deverá focar principalmente em temas econômicos, como tem feito desde a pré-campanha. Para o petista está claro que, se alguém pode ter restrições a algumas de suas ideias, a figura muda se esta pessoa estiver desempregada ou passando fome.
Uma estratégia adotada desde o começo, e que o ex-presidente avalia funcionar, é focar em diminuição da renda e do poder de compra, mesmo que trate de outros assuntos.
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Carlos Madeiro