Ações da Petrobras refletem política de preços, diz analista do UBS – Poder360
Uma eventual mudança na política de preços dos combustíveis da Petrobras, em que a estatal não acompanhe a cotação do petróleo no mercado internacional, pode alterar a dinâmica de percepção de risco de investidores. A avaliação é do analista chefe de Petróleo e Gás Natural do UBS BB, Luiz Carvalho, em entrevista ao Poder360.
Segundo o analista, a percepção de risco nos últimos anos esteve atrelada à cotação do preço do petróleo, entre outros fatores. Ou seja, se o valor do barril subia, os papéis da Petrobras também valorizavam.
No caso de adoção de uma política de preços dos combustíveis “regionalizada”, como defende o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), é possível que o cenário de queda no preço do petróleo favoreça a estatal. Isso porque haverá a percepção de que a política de preços internos mais baixos não incorre em prejuízo para a Petrobras.
“Se olharmos para o que aconteceu nos últimos anos, em que a companhia conseguiu acompanhar o preço do petróleo, o petróleo para cima acaba sendo positivo para a Petrobras. Num cenário em que a companhia não consiga acompanhar os preços domésticos com os preços internacionais, essa dinâmica pode acabar se invertendo em um determinado momento”, declarou.
Depois de baterem US$ 127,9 por barril em março de 2022, os contratos futuros do petróleo tipo Brent foram cotados a cerca de US$ 80 por barril na 1ª semana de 2023.
Em novembro de 2022, o UBS recomendou que investidores vendam suas ações na Petrobras e cortou o preço-alvo da ação em 53%. De acordo com Carvalho, 6 motivos levaram à orientação:
“Na nossa leitura, uma mudança na política de dividendos, na política de preços dos combustíveis, isso tudo faz com que o resultado da companhia seja deteriorado e obviamente isso vai impactar no preço das ações”, afirmou. Para Carvalho, o comportamento dos papéis da Petrobras nos próximos anos vai depender da efetiva mudança na orientação da estatal.
O senador Jean Paul Prates (PT-RN), indicado pelo governo para presidir a estatal, afirmou no último dia 4 que a Petrobras deveria adotar uma política de preços “que reflita o fato de a gente produzir no Brasil”, levando em consideração o câmbio e o preço do barril, mas não os custos logísticos de importação dos derivados.
Para o analista do UBS, “em função de toda a dinâmica com os importadores, é muito difícil implementar essa mudança. Depois, me parece uma discussão injusta com a Petrobras e eventualmente com o setor de petróleo”. Carvalho afirma que, apesar de o Brasil ser um exportador líquido de commodities, os únicos produtos em que há discussão de preços é o diesel e gasolina, por conta de a Petrobras ser uma empresa estatal.
Em 2016, a Petrobras passou a adotar um sistema de correção de preços que considera as variações da taxa de câmbio e o valor do barril de petróleo no mercado internacional. Também são considerados na fórmula custos como frete de navios, custos internos de transporte e taxas portuárias.
Isso blinda a empresa contra intervenções políticas para segurar reajustes. Por outro lado, em tempos de instabilidade –como foi 2022 por causa da guerra entre Rússia e Ucrânia–, a alta de preços acaba sendo quase constante e isso é sentido pelos consumidores de maneira direta.
Depois que o PPI começou a ser adotado, a estatal passou a ter lucros sucessivos e distribuiu dividendos de maneira recorde.
Para o analista, preocupa a diversificação do portfólio da estatal em áreas que não são de sua expertise.
O relatório do grupo técnico de Minas e Energia do governo de transição de Lula indicou uma guinada da estatal para o segmento de energias renováveis. O documento propôs a criação de uma diretoria para a área dentro da estatal e a revisão, em até 60 dias, do plano estratégico da Petrobras para os anos de 2023 a 2027.
O plano quinquenal da companhia é elaborado e divulgado anualmente. O mais recente foi publicado em 30 de novembro, sob a gestão de Caio Paes de Andrade na estatal –último indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A proposta prevê R$ 78 bilhões em investimentos concentrados na área de exploração e produção de petróleo e gás natural –onde será alocado 83% do montante.
“Quando começamos a ver uma diversificação muito grande com esse mote de transição energética, nos preocupa porque, na nossa visão, os retornos desses investimentos são questionáveis e muito provavelmente são menores do que os que a companhia tem investindo ainda em petróleo”, declarou Carvalho.
De acordo com o analista, a Petrobras tem um papel importante na economia, mas não deveria ser a empresa a liderar a transição energética no país. Carvalho afirma que a estatal tem ativos valiosos de exploração e produção de petróleo e um mercado consumidor relevante para os derivados.
“Grande parte das majors, as europeias mais que as americanas, estão indo para esse processo de transição energética por falta de opção, tão simples quanto isso”, disse, referindo-se a Shell, BP e TotalEnergies. As 3 têm intensificado seus investimentos em renováveis e procurado se posicionar como empresas de energia e não mais petroleiras.
A União detém 36,6% das ações preferenciais e ordinárias da Petrobras. Outros 17,09% estão nas mãos de acionistas brasileiros e 46,3% de estrangeiros.
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