Advogado de Lula na prisão revela por que presidente levou Múcio à Defesa – Revista Fórum
O advogado Luiz Carlos Rocha, conhecido como Rochinha, revelou, nesta terça-feira (20), uma das principais razões para que o presidente eleito Lula (PT) escolhesse o ex-deputado José Múcio Monteiro Filho como ministro da Defesa, apontado por grupos progressistas como um nome conservador.
“Embora seja um sujeito conservador, ele tem a confiança do presidente Lula, o que é fundamental. Vamos lembrar que o Múcio assumiu a presidência do TCU (Tribunal de Contas da União) com o Lula preso em Curitiba. No discurso de posse, estavam lá o Moro, o Guedes, e ele fez uma belíssima homenagem ao presidente Lula, de agradecimento pelo fato de ele ter chegado ao TCU. Foi um gesto de muita coragem. Eu peguei o discurso e levei para o presidente Lula, que leu e se emocionou. Pediu para que eu ligasse para o Múcio e agradecesse. Eu fiz essa ligação. Ele me disse: ‘Diga ao presidente que eu continuo firme na trincheira’. Então, eles têm um grau de cumplicidade que eu acho que justifica a escolha”, revelou Rochinha, em entrevista ao Fórum Onze e Meia.
Em seu discurso, ao assumir o TCU, no dia 11 de dezembro de 2018, em Brasília, Múcio deixou o ex-juiz Sergio Moro e Paulo Guedes, no mínimo, constrangidos. Ambos viriam a ser ministros da Justiça e da Economia, respectivamente, do governo de Jair Bolsonaro (PL). Estavam presentes, também, Fernando Azevedo e Silva, futuro ministro da Defesa, e Wagner Rosário, que assumiu a chefia da CGU.
Moro, inclusive, enquanto era juiz, foi o artífice da prisão injusta a que foi submetido o presidente eleito, Lula.
Apesar do fato de o petista estar preso desde o dia 7 de abril daquele ano, Múcio não se intimidou com a presença dos apoiadores de Bolsonaro e do algoz de Lula e fez questão de ressaltar sua gratidão ao petista, de quem foi ministro das Relações Institucionais entre 2007 e 2009.
“Preciso agradecer ao povo de Pernambuco que me deu cinco mandatos e ao ex-presidente Lula que me fez ministro”, disse, se referindo, também, ao fato de ter sido deputado federal, e arrancando aplausos de grande parte de quem estava na solenidade, exceto, é claro, Moro e Guedes.
O então presidente do TCU assumiu com “um misto de sentimentos, mas com coragem e determinação na intenção de criar um país mais justo, mais fraterno e mais solidário”.
Na posse, ele defendeu a união entre os três poderes e classificou o TCU como um órgão que deve ajudar a criar conexões e não somente punir gestores.
Em seu discurso, Múcio destacou, ainda, seu desejo de contribuir para as pautas prioritárias dos três poderes, evocando uma “agenda comum”.
“O TCU é órgão de Estado, não de governo. O controle tem a sua missão, mas deve dialogar e criar conexões. Ao longo de sua história, essa instituição contribuiu controlando recursos públicos federais e auxiliando na melhoria dos órgãos. Temos que ser instituição que lidere pelo exemplo”, ressaltou à época.
O advogado, que acompanhou os 580 dias de prisão de Lula em Curitiba, destacou, ainda, a importância da vitória do presidente eleito, depois de tudo o que ele passou.
“Lula saiu de Curitiba em novembro de 2019. Passaram 2020 e 2021 e ele é presidente da República. É uma coisa maluca. Era absolutamente improvável. Eu mesmo só achei que Lula poderia ser presidente novamente quando anularam as condenações no Supremo. A vitória do Lula é uma coisa tão monumental, exuberante, magnânima que precisa de tempo para mastigar isso. É uma vitória incrível, indescritível”, definiu.
O advogado, que visitou Lula na prisão todos os dias, fez parte da equipe de transição do novo governo e, por isso, esteve em Brasília várias vezes com o presidente eleito nas últimas semanas.
“Lula está em estado de graça. Vocês imaginem uma pessoa leve, de alma lavada, tranquila, serena, ciente de suas responsabilidades e com muita vontade de trabalhar”, acrescentou.
O advogado também abordou a atuação nociva da Lava Jato e criticou o papel da imprensa tradicional, especialmente a Rede Globo.