Alexandre Coimbra: A dor de ver a violência política entre nossos adolescentes – Crescer

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Por Alexandre Coimbra Amaral
Alexandre Coimbra Amaral é mestre em psicologia pela PUC do Chile, palestrante, escritor, terapeuta familiar e de casais. Pai de Luã, 15, Ravi, 13, e Gael, 8

27/12/2022 10h45 Atualizado 27/12/2022
Quando começou o processo eleitoral, estava claro para o povo brasileiro que ele seria uma experiência, pelo menos, angustiante. Pesquisas apontaram, inclusive, que a maioria dos brasileiros temia sofrer algum tipo de violência política durante o período da campanha. Definido o nosso destino a partir de 2023, temos agora imensos desafios para a reconstrução do tecido social. Estamos em processo nítido de esgarçamento das relações, e a perda da confiança no diálogo e na intimidade com muitos dos que amamos está se manifestando como grave dilema nas famílias, entre amigos e colegas de trabalho.
Urna eletrônica, eleições, votação, eleição, política — Foto: Crescer
Acontece que este sintoma social também chegou às escolas. Não há nenhuma instituição com turmas de anos finais de Ensino Fundamental e Médio onde não esteja havendo gravíssimos problemas de relacionamento entre os estudantes e destes com os professores. O discurso da extrema direita tem entre os seus fundamentos a quebra dos limites da civilidade, abraçando a barbárie como possibilidade de intercâmbio humano. Estudantes têm se agredido com palavras, injúrias criminosas e até chegado à violência física. Trabalho como Consultor de Saúde Mental em escolas de todo o Brasil, e tenho atuado com estes fenômenos.
É uma dor ver adolescentes, que deveriam nutrir a construção da esperança no futuro da nação, reproduzindo o pior que já pudemos construir de argumentos falsos e violentos para sustentar posicionamentos humanos degradantes.
Neste momento, urge que a escola se posicione e se coloque a serviço da restituição do chão mínimo da convivência cidadã: a verdade não tem o mesmo peso que a mentira, a injúria é condenável, o racismo é crime, a xenofobia com nordestinos é uma chaga histórica. Esses temas merecem ser transformados em projetos pedagógicos, envolvendo parâmetros de educação socioemocional, ambiental, cidadã e de direitos humanos. Não existe ponto neutro para as instituições, sob risco de construírem a permissão e a permissividade para a violência se instaurar como padrão relacional nas trocas humanas mais cotidianas.
À barbárie, sempre se responde com a lei. Não deixaremos de dar espaço à educação, aos processos mais libertários de diálogos e de construção de aprendizagem. Contudo, até eles têm seus limites e suas molduras. Ao viverem isso na escola, quiçá seja uma matéria neste momento da sociedade, inclusive mais fundamental do que aprender a resolver equações de matemática. Antes de termos contas a prestar na prova, temos de dizer aos nossos filhos que é belo, possível e digno o respeito à diferença como refundação de um país fraturado.
Alexandre Coimbra Amaral É mestre em psicologia pela PUC do Chile, palestrante, escritor, terapeuta familiar e de casais. Pai de Luã, 13, Ravi, 11, e Gael, 7. Psicólogo do programa Encontro com Fátima Bernardes, da Rede Globo. (Foto: Divulgação) — Foto: Crescer
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