Aliados sugerem a Bolsonaro discurso em que reconheça derrota e aponte 'injustiças' – UOL
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Aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL) redigiram um discurso de reconhecimento de derrota, após o mandatário ficar em silêncio por quase um dia sobre o resultado das eleições no domingo (30).
O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) declarou Luiz Inácio Lula da Silva (PT) eleito, com 50,9% de votos, contra 49,1% de Bolsonaro. Ele é o primeiro presidente a não conquistar a reeleição.
Interlocutores do chefe do Executivo sugeriram um texto ao mandatário para o reconhecimento da vitória do adversário. Segundo relatos, o documento não traria contestação ao resultado, mas citaria “injustiças” que o mandatário sofreu em seu governo e na campanha.
A expectativa inicial do entorno do chefe do Executivo era a de que ele falasse ainda nesta segunda-feira (31). Ao final do dia, contudo, eles descartaram essa possibilidade e disseram que ele deve se manifestar na terça-feira (1).
Para aliados, quanto mais tempo demorar, mais negativo será para Bolsonaro.
O chefe do Executivo despachou do Palácio do Planalto pela manhã, mas partiu para o Palácio da Alvorada pouco antes das 16h. Segundo aliados, ele trabalha no texto do seu discurso de derrota.
O documento sugerido ao presidente tem o objetivo de manifestar respeito ao regime democrático, mas foi elaborado com cuidado para não deixar os militantes bolsonaristas órfãos. Há o receio de que uma postura totalmente legalista resultaria em perda dos apoiadores mais radicais, que estiveram ao lado do presidente e ajudaram a propagar os questionamentos de Jair Bolsonaro ao sistema eleitoral, que foram reforçados pelas Forças Armadas.
Eles lembram que, apesar de derrotado, ele teve 58 milhões de votos e elegeu diversos aliados, inclusive o governador de São Paulo, maior estado do país. A ideia é que o chefe do Executivo mantenha acesa essa militância.
A avaliação de correligionários do presidente é que não há espaço para contestação do resultado eleitoral e que uma eventual aventura golpista não teria adesão de grande parte de sua base, principalmente no Congresso.
O próprio presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que fez campanha para o chefe do Executivo e foi crucial em diversas pautas de Bolsonaro no ano da eleição, como na questão do combustível, foi um dos primeiros a reconhecer a vitória de Lula.
Além disso, o reconhecimento da eleição petista por parte dos principais líderes mundiais também reforçou o isolamento de Bolsonaro. Até Vladimir Putin, da Rússia, citado diversas vezes pelo mandatário como um exemplo de que tinha interlocução com todo o mundo, parabenizou o petista.
Diante desse cenário, Bolsonaro não tem cogitado em conversas com pessoas próximas a possibilidade de se negar a admitir que perdeu o pleito. Apesar disso, não deve dar parabéns ao seu sucessor.
A primeira pessoa do clã Bolsonaro a se manifestar foi a primeira-dama Michelle, que compartilhou uma mensagem bíblica nas redes sociais.
“Salmos 117: Louvai ao senhor todas as nações, louvai-o todos os povos. Porque a sua benignidade é grande para conosco, e a verdade do Senhor dura para sempre. Louvai ao Senhor”, escreveu ela nos stories do Instagram.
Já o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho mais velho do presidente e seu coordenador de campanha, publicou nas redes sociais uma mensagem em tom de derrota.
“Obrigado a cada um que nos ajudou a resgatar o patriotismo, que orou, rezou, foi para as ruas, deu seu suor pelo país que está dando certo e deu a Bolsonaro a maior votação de sua vida! Vamos erguer a cabeça e não vamos desistir do nosso Brasil! Deus no comando!”, afirmou nas redes sociais, sem citar Lula.
Cerca de uma hora depois publicou uma mensagem mais enigmática. “Pai, estou contigo pro que der e vier!”
Se nas horas seguintes à sua derrota, Bolsonaro optou pelo isolamento, evitando até ligações e visitas de ministros, na segunda-feira, recebeu aliados que foram prestar-lhe solidariedade.
Ele esteve com integrantes da campanha, como Valdemar Costa Neto, presidente do PL; ministros, como Anderson Torres (Justiça), Ciro Nogueira (Casa Civil), e Célio Faria (Secretaria de Governo); e o presidente da Câmara, com quem esteve por cerca de meia hora.
O silêncio do chefe do Executivo tem como consequência o de seus ministros do governo, entre eles, Paulo Guedes (Economia).
Sem agenda pública, Guedes chegou ao Ministério da Economia pouco antes das 16h. O ministro Adolfo Sachsida (Minas e Energia) também desembarcou na sede da pasta na sequência. Ambos não quiseram falar com a imprensa. Técnicos avaliam que o ministro da Economia deve se pronunciar apenas após a palavra do presidente.
A postura reservada de Guedes no dia seguinte ao pleito contrasta com o seu comportamento “falastrão” na reta final da campanha, quando atuou como cabo eleitoral de Bolsonaro em diversos eventos com empresários.
Na semana anterior ao segundo turno, foram cinco participações públicas em três dias, em diferentes cidades do Sudeste. Nos eventos, o chefe da pasta econômica colecionou derrapadas nos discursos, gerando repercussão negativa para o governo.
Apesar de o primeiro escalão do governo sustentar o silêncio do mandatário e não mencionar nada sobre vitória do adversário, aliados dizem que haverá uma transição civilizada. Auxiliares palacianos já estão organizando como será feita, mas o primeiro passo deverá vir com o PT.
Jair Bolsonaro repetiu várias vezes ao longo de seu mandato que apenas reconheceria o resultado de eleições se elas fossem “limpas”. O mandatário levantou frequentemente dúvidas sobre as urnas eletrônicas e, sem provas, apontou que o sistema era vulnerável e que houve fraudes nas eleições de 2018.
A mais recente ofensiva ao sistema eleitoral se deu após a acusação de que inserções de rádio e televisão da campanha de Bolsonaro foram boicotadas por emissoras das regiões Norte e Nordeste. A tese não foi encampada pela ala política de seu governo e no fim foi abandonada por um de seus articuladores, o ministro Fábio Faria (Comunicações).
O chefe do Executivo também manteve um discurso ao longo de seu governo de que era vítima do “sistema”, com acusações e ataques contra os outros Poderes, a imprensa, os institutos de pesquisa, líderes de outros países, entre outros.
Um de seus principais aliados internacionalmente, o ex-presidente americano Donald Trump, também levou dias para reconhecer o resultado após ser derrotado, até anunciar que faria uma transição tranquila.
Steve Bannon, estrategista de Trump e que mantém relação próxima com o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do presidente, afirmou à Folha que a eleição do Brasil foi “roubada” e que o mandatário não deveria aceitar a derrota.
“Não há possibilidade de o resultado das urnas eletrônicas estar correto. É preciso uma auditoria urna a urna, nem que demore seis meses. Nesse meio tempo, o presidente não deve aceitar sair”, disse ao Painel.
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