Ameaça de Bolsonaro sobre concessão da Globo serviu para agradar apoiadores – UOL Confere

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 29 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na “Folha de S.Paulo”. Começou a carreira no “Jornal do Brasil”, em 1986, passou pelo “Estadão”, ficou dez anos na “Folha” (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o “Lance!” e a “Época”, foi redator-chefe da “CartaCapital”, diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros “Adeus, Controle Remoto” (editora Arquipélago, 2016), “História do Lance! ? Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo? (Alameda, 2009) e “O Dia em que Me Tornei Botafoguense” (Panda Books, 2011). Contato: mauriciostycer@uol.com.br
Colunista do UOL
21/12/2022 11h43Atualizada em 21/12/2022 15h31
O decreto de renovação das concessões das principais emissoras de TV brasileiras, incluindo a Globo, pelo período de 15 anos, conforme prevê a Constituição, confirma que as ameaças feitas pelo presidente Jair Bolsonaro ao longo de quatro anos nunca passaram de bravatas.
Bolsonaro sempre odiou a Globo, a via como inimiga, mas não tinha instrumentos legais para impedir o seu funcionamento. A hostilidade em relação à emissora foi útil ao presidente, do ponto de vista retórico. Ajudou a reunir ao seu redor outros “inimigos” da Globo, emissoras concorrentes e bolsonaristas apaixonados.

Essa postura foi estabelecida ainda em 2018, durante a campanha eleitoral, quando Bolsonaro confrontou a Globo em entrevistas dentro da própria emissora, no Jornal Nacional, e na GloboNews, causando constrangimentos a Renata Vasconcellos e Miriam Leitão. Em mais de uma ocasião, aliás, Bolsonaro e seus filhos atacaram Miriam.
Bolsonaro estabeleceu a Globo literalmente como “inimiga”, ajudando a insuflar os seus apoiadores, em 2019. A hashtag #GloboLixo ganhou impulso neste período, transformando a emissora carioca numa espécie de “Geni” das redes socias. Nas ruas, repórteres da emissora foram ameaçados e agredidos por bolsonaristas em dezenas de ocasiões.
Em fevereiro daquele ano, o vazamento do áudio de uma conversa com Gustavo Bebianno, então ministro da Secretaria-Geral de governo, deixou claro como Bolsonaro buscava posicionar a emissora. Ao exigir que Bebianno cancelasse uma reunião agendada com Paulo Tonet Camargo, vice-presidente de relações institucionais do Grupo Globo, ele dizia:
“Inimigo passivo, sim. Mas trazer o inimigo para dentro de casa é outra história. Pô, cê tem que ter essa visão, pelo amor de Deus, cara. Fica complicado a gente ter um relacionamento legal dessa forma porque cê tá trazendo o maior cara que me ferrou – antes, durante, agora e após a campanha – para dentro de casa.”
No dia 29 de outubro de 2019, numa live transmitida da Arábia Saudita, Bolsonaro se referiu à Globo com as seguintes palavras: “Patifaria”, “não tem vergonha na cara”, “porra”, “patifes”, “canalhas”, “imprensa porca”, “jornalismo podre”, “nojenta”, “imoral”.
Referia-se a uma reportagem do “Jornal Nacional”, exibida naquela noite, sobre as investigações do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), ocorrido em março de 2018. Segundo o telejornal, o porteiro do condomínio onde morava Bolsonaro à época disse em depoimento que alguém com a voz “do seu Jair” autorizou a entrada de um dos suspeitos da morte da vereadora no dia do crime.
Naquela live o presidente voltou a falar, de forma vaga, mas em tom de ameaça, sobre a renovação da concessão da Globo, que deveria ocorrer em 2022. “Temos uma conversa em 2022. Eu tenho que estar morto até lá. Porque o processo de renovação da concessão não vai ser perseguição. Nem pra vocês nem pra TV nem rádio nenhuma. Mas o processo tem que estar enxuto, tem que estar legal. Não vai ter jeitinho pra vocês, nem pra ninguém”.
Em 2021, voltou a tratar do assunto: “A Globo tem encontro comigo ano que vem. Encontro com a verdade”. E acrescentou: “Não vou perseguir ninguém. Tem que estar com as certidões negativas em dia, um montão de coisas aí”. Apesar da ameaça, registrei na época que o presidente não tem o poder sozinho de não renovar uma concessão de TV.
As ameaças vagas e veladas prosseguiram ao longo de todo o mandato, reforçando o interesse do presidente em aparecer, diante dos seus apoiadores, como alguém com coragem de enfrentar a mídia, em especial, a Globo. A tática rendeu frutos no período, insuflando a militância, mas era apenas isso. Palavras.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL
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Mauricio Stycer
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