Análise: com mão pesada de Casagrande, uma vitória acachapante … – ES360

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Coluna analisa por alguns ângulos a vitória do governo, a derrota esmagadora da oposição e as consequências que podem ficar para a imagem do governador pelo modo como seus objetivos foram atingidos desta vez
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Casagrande recebe membros da próxima Mesa Diretora da Ales para o tradicional beija-mão, no Palácio Anchieta, logo após a eleição da chapa. Foto: Adriano Zucolotto/Governo do ES
O desfecho da eleição da Mesa Diretora da Assembleia, nesta quarta-feira (1º), é sem dúvida alguma uma vitória política maiúscula para o governo Casagrande, não só pelo resultado principal – a chegada de Marcelo Santos à presidência –, mas também pela maneira como se deu – com chapa única, como sempre quis o Palácio Anchieta – e pela composição final da chapa vitoriosa – com três deputados muito leais a Casagrande nas três posições mais importantes e a oposição esmagada num canto.
Pode ter sido uma vitória meio torta, por um caminho bastante enviesado, cheio de sustos e sobressaltos, mas nem por isso deixa de ser, no fim das contas, uma vitória acachapante. O governo quase conseguiu se complicar sozinho em uma articulação que poderia ter sido bem mais fácil e suave, mas no fim (que é o que realmente importa) conseguiu fazer barba, cabelo e bigode.
“Essa unidade numa chapa única é muito boa para a população capixaba, para a Assembleia e para a nossa relação com a Assembleia. Os deputados encontraram um bom caminho de unificação”, opinou Casagrande nesta quarta-feira.
“Não vou dizer que seja uma vitória de governo e do governo, porque o governo não estava disputando a eleição da Mesa, mas o governo tinha muito interesse em um movimento único e unitário na Assembleia com os deputados da base. Isso aconteceu, e acho que é uma vitória para a população capixaba”, completou o governador.
O processo de sucessão de Erick Musso esteve em vias de fugir do controle do governo: a dez dias do pleito, o governista Vandinho Leite, que não era o preferido do Palácio, já havia reunido o apoio de dois terços dos colegas, entre eles todos, simplesmente todos, os deputados de oposição.
Isso acendeu o alerta geral no gabinete do governador. Para corrigir o rumo que o processo ia tomando, Casagrande entrou em campo de maneira ostensiva, como não se tem registro que um governador do Espírito Santo tenha feito neste século, declarando publicamente seu apoio a Marcelo Santos.
Foi muito mais que um freio de arrumação. Casagrande meteu o pé na porta mesmo – no caso, a porta do gabinete do presidente da Assembleia. E também por isso essa vitória do governo ficou marcada e será lembrada por muito tempo: para alcançá-la, Casagrande precisou trocar a mão amiga que sempre caracterizou seus gestos políticos pelo braço forte, como se diria no Exército.
A “interferência” do governador, tão bradada por Vandinho, Theodorico Ferraço e Hudson Leal (este num primeiro momento), foi de fato evidente e incontestável. E rende um longo debate sobre o chefe do Executivo ter ou não exorbitado de suas funções, usurpado as prerrogativas dos deputados, descumprido princípios éticos e republicanos, violado a separação dos Poderes e a independência necessária ao Parlamento, incluindo a escolha do próprio chefe. Essa é a discussão conceitual.
Em termos mais práticos, a maneira como foi construída a vitória também deixa para o governo alguns danos colaterais, sendo os mais visíveis o ressentimento não disfarçado de Vandinho e o despertar da fúria do irado Theodorico Ferraço.
Mas, pragmaticamente, a mão pesada funcionou. Tendo ou não tendo apelado, o governo atingiu os seus objetivos. O mais importante deles: isolar e neutralizar a oposição e não deixar a bancada da extrema direita – minoritária, mas temerária – se criar logo no início do mandato.
Com a eleição da chapa única de Marcelo, o governo conseguiu manter essa bancada oposicionista bem distante da Mesa Diretora, logo do comando do Legislativo estadual. O governo temia que, com eventual eleição de Vandinho, apoiado por toda essa bancada, deputados do time Assumção pudessem galgar a postos importantes de comando na Casa. Esse foi um fator preponderante para a virada de Mesa protagonizada por Casagrande.
No fim das contas, a escalação da nova Mesa não poderia ser mais favorável ao governo do socialista e tende a render dor de cabeça zero, ou perto de zero, para o Executivo nos próximos dois anos.
O presidente, Marcelo Santos (Podemos), tem com Casagrande, como este mesmo disse, “uma relação de aliança longa e estável”. Nos últimos anos, provou-se um aliado fidelíssimo ao governador.
O 1º secretário, João Coser (PT), é um aliado ainda mais antigo de Casagrande. A parceria entre eles remonta aos anos 1990, na Assembleia mesmo e no governo Vitor.
A 2ª secretária, Janete de Sá, além de deputada da base de Casagrande, é sua correligionária: desde o ano passado, está de volta ao PSB.
“Acho que não vamos isolar a oposição. A oposição vai continuar sendo a oposição. Tem deputados com uma consistência ideológica definida. Mas [a chapa única] permite pelo menos que dentro da Assembleia haja diálogo permanente entre os deputados. E, havendo diálogo entre os deputados, isso pode ajudar no ambiente para o Governo do Estado”, opinou Casagrande.
Sim, pode-se atalhar que na 1ª e na 2ª vice-presidência ficaram, respectivamente, Hudson Leal (Republicanos) e Danilo Bahiense (PL). Os dois estavam fechados com Vandinho desde o início, e a chapa palaciana aceitou absorvê-los. Não são exatamente aliados do governador. Danilo, em especial, é bolsonarista e foi da oposição a Casagrande no mandato passado.
Mas convenhamos: “dos males o menor”. No fim das contas, a concessão foi pequena, e o tamanho do risco aí contido parece ter sido muito bem metrificado.
Danilo é do PL, ok, mas é dos deputados mais equilibrados e acabou acomodado num dos menos relevantes dos sete cargos da Mesa. O 2º vice-presidente tem cargos na Mesa e tal, mas nenhum poder a princípio. É como o 3º goleiro numa Copa do Mundo: todo mundo sabe que está ali só para compor o grupo, mas que nunca vai de fato jogar.
Quanto a Hudson, a conversa é diferente. O 1º vice-presidente é, sim, um cargo relevante, pois está sempre a um passo de assumir a presidência das sessões. Marcelo mesmo, como 1º vice-presidente nos últimos seis anos, cansou-se de presidir votações de projetos importantes e, com isso, ganhou projeção.
Mas governistas ouvidos pela coluna relativizam a influência e o espaço que Hudson terá para crescer, até pelo perfil que Marcelo deve assumir como presidente. Diferentemente de Erick Musso – que raramente descia para presidir sessões e deixava o seu vice tocar o plenário no dia a dia –, Marcelo tende a ser um presidente, digamos, “batedor de ponto” no plenário.
Desde o início desse processo, como já escrevemos aqui, Casagrande tinha tudo para desta vez, enfim, emplacar um nome de sua confiança como presidente da Assembleia, algo que não havia conseguido desde que voltou ao Palácio Anchieta, em 2019.
Naquele ano, sem tanto empenho, tentou, mas não foi muito longe. Deu Erick Musso reeleito.
Já em 2021, aí sim, o governo se empenhou nos bastidores, ensaiou lançar Marcelo ou Dary Pagung. Mas, sempre pragmático e conciliador (pelo menos até este processo), Casagrande preferiu não enfrentar Erick e seu grupo no voto em plenário, numa disputa com consequências imprevisíveis. Deu Erick re-reeleito.
Desta vez, fortalecido com a sua vitória nas urnas em outubro e finalmente sem Erick a lhe obstar o caminho, Casagrande não podia se dar ao luxo de deixar passar essa chance. Mas, por incrível que pareça, numa articulação errática, a chance estava passando…
Foi por isso então que, desta vez, abandonando o seu estilo de conciliador de bastidores e assumindo o ônus de ser tachado de autoritário para pior, Casagrande resolveu mostrar que estava disposto a tudo para eleger quem quisesse (“Hoje não!”). E assim fez.
Invadiu estrepitosamente as competências de outro Poder? Sim. Influenciou acintosamente a escolha dos deputados? Com certeza. Mostrou um quê de autoritarismo? Pode-se dizer que sim.
Mas justiça seja feita: se ele tivesse cruzado os braços enquanto o bonde de Vandinho passava, quiçá carregando para a Mesa deputados da oposição pesada, nós o teríamos criticado do mesmo jeito, mas pela razão oposta: por ter comido mosca, por ter dormido no ponto, por não ter tido pulso firme, por ter deixado o processo fugir das mãos do governo sem ter feito nada para impedir.
Ou seja, se Casagrande não mostra pulso firme, o criticamos por ser excessivamente pragmático e conciliador até quando deveria ir à luta. Quando enfim mostra pulso firme, também é criticado por isso.
Preso por ter cão, preso por não ter cão, dessa vez ele optou pela segunda crítica.
O que cabe, sim, questionar é por que o articulação do governo deixou que as coisas chegassem a esse ponto, isto é, a ponto de o governador ter sentido a necessidade de se expor dessa maneira. Esta é outra reflexão – e já a fizemos aqui.
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