Analistas divergem sobre impacto de Zema apoiar Bolsonaro em MG – InfoMoney

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Minas tem o 2º maior colégio eleitoral do Brasil e, junto com o Amazonas, tem sido o ‘fiel da balança’ nas eleições presidenciais desde 1989
Analistas divergem sobre qual seria o impacto no segundo turno da eleição presidencial caso o governador reeleito de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), decida apoiar o presidente Jair Bolsonaro (PL). O atual presidente tenta a reeleição contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Minas tem o segundo maior colégio eleitoral do Brasil (quase 16,3 milhões de eleitores), atrás apenas de São Paulo (34,6 milhões), e costuma ser o “fiel da balança” nas eleições presidenciais: desde a redemocratização, em 1989, todos os candidatos que venceram no estado foram eleitos.
“Bolsonaro já tinha procurado Zema no primeiro turno, mas ele não quis apoiar o presidente por causa da rejeição, acima de 50%”, relembra Júnia Gama, analista política da XP, que destaca a nova configuração da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) nos próximos quatro anos como uma das causas de uma possível aliança.
O Novo, partido do governador reeleito, conquistou apenas 2 dos 77 assentos na casa. Já o PL, de Bolsonaro, elegeu 9 deputados estaduais e ficou com a segunda maior bancada da ALMG, ao lado do PSD — e atrás apenas do PT (12).
Bolsonaro admitiu a jornalistas na noite de domingo (2) que havia procurado Zema para conseguir seu apoio no segundo turno.”Existe da nossa parte [interesse]. Vamos fazer contato. Um já foi feito hoje. Conversamos com um interlocutor do Zema. As portas estão abertas para conversar”. Já Zema disse em entrevista à TV Globo nesta segunda-feira (3) que “apoiar o PT é impossível”.
“Nesse momento nós estamos conversando com o presidente, com o PL, e as conversas estão sendo muito boas. Talvez hoje mais tarde, amanhã, nós já venhamos anunciar alguma questão porque o PL fez aqui na Assembleia Legislativa novos deputados”, afirmou o governador de Minas. “Eu vejo que tem tudo para dar certo”.
Mário Braga, analista sênior da Control Risks, avalia que Zema não precisa mais se preocupar com a rejeição a Bolsonaro no estado, por já ter garantido a sua reeleição no primeiro turno (com 56% dos votos válidos). O fato de o desempenho do atual presidente na corrida pelo Palácio do Planalto ter surpreendido também reduz os obstáculos para uma possível aliança no segundo turno.
“Ele (Zema) já está com a fatura liquidada, então tem muito mais liberdade praa influenciar na campanha presidencial, pensando também nos próprios incentivos em 2026 — por exemplo, de se tornar um líder do movimento de direita”, afirmou Braga durante o InfoMorning, programa diário do InfoMoney, que hoje focou nos resultados do primeiro turno das eleições (e seus desdobramentos).
Rogério Schmitt, cientista político e consultor da Empower Consultoria, destacou que Minas e Amazonas são “os dois estados onde o candidato com mais votos vence sempre a eleição presidencial”. “Desde 1989, quem ganha em Minas e no Amazonas é eleito presidente. E Lula ganhou no primeiro turno [nos dois estados]” (veja no vídeo abaixo).

 
Lula teve 57,2 milhões de votos no primeiro turno em todo o país (48,4% dos votos válidos), contra 51 milhões do atual presidente (43,2%). Os números foram bem parecidos em Minas, com o ex-presidente com 5,8 milhões de votos (48,3% dos votos válidos), contra 5,2 milhões de Bolsonaro (43,6%).
Mas pesquisas eleitorais feitas na semana passada apontavam uma diferença maior no estado, de mais de 20 pontos percentuais entre os dois candidatos — pesquisa Ipec divulgada no sábado (1º) mostrava Lula com 55% e Bolsonaro, com 34%.
Júnia Gama, analista política da XP, apontou que o foco principal de Bolsonaro no segundo turno vai ser Minas e São Paulo — os dois principais colégios eleitorais do país — e destacou o desempenho melhor que o previsto do presidente e de seus aliados em ambos os estados.
Bolsonaro aparecia atrás de Lula em São Paulo. Além disso, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ex-ministro da Infraestrutura e seu candidato a governador no estado, também estava longe de Fernando Haddad, ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo, que é apoiado por Lula.
Pesquisa Ipec divulgada no sábado (1º) mostrava Bolsonaro com 39% dos votos válidos em São Paulo, contra 48% de Lula, mas o resultado foi quase o inverso: 47,7% a 40,9%. Já Tarcísio aparecia com 31% e Haddad, com 41%, mas nas urnas o ex-ministro da Infraestrutura teve 42,3% e o ex-ministro da Educação, 35,7%.
Gama diz que esses resultados fortaleceram Bolsonaro tanto em São Paulo quanto em Minas. “Em São Paulo porque Bolsonaro saiu à frente de Lula e porque o Tarcísio tem mais chances de captar o voto do Garcia do que Haddad”, afirmou a analista da XP, citando o atual governador e candidato à reeleição, Rodrigo Garcia (PSDB), que recebeu 18,4% dos votos e deu adeus à disputa ao ficar em 3º lugar.
“Em Minas Gerais, a situação também foi mais confortável [do que o esperado], pois o Lula aparecia muito à frente [nas pesquisas] e não foi o que aconteceu”, destacou Gama sobre a diferença de mais de 20 pontos percentuais entre a pesquisa e o resultado da urna.
Braga destacou ainda que Bolsonaro fez um discurso bastante pragmático após o resultado do primeiro turno, sem questionar a integridade das urnas eletrônicas e abordando questões econômicas. Já Schmitt destacou que, “no segundo turno, os candidatos têm que buscar eleitores onde eles existirem”.
Carlos Borenstein, cientista político e analista político da Arko Advice, diz que “os apoios dos governadores são, sim, importantes”, mas afirma que “eles não serão determinantes sobre o rumo da eleição presidencial [no segundo turno]”. “Em Minas, Zema se reelegeu e Lula venceu, então não necessariamente acontece essa associação automática”.
O analista afirma que o principal vai ser o cálculo político dos governadores. “Zema deve apoiar o Bolsonaro se sentir que há esse sentimento de ‘virada’. Se ele sentir que o Lula vai manter a vantagem, o custo político de apoiar o Bolsonaro — de fazer campanha para o Bolsonaro — é mais alto”.
Borenstein destaca também que a reeleição de Zema em primeiro turno vai desmobilizar os eleitores no estado. “Como a campanha acabou no primeiro turno, tende a ter uma desmobilização das campanhas, porque não vai ter eleição para governador [no segundo turno]. Claro que o Zema pode fazer campanha para o Bolsonaro, mas aí a questão do custo de campanha vai depender do diretório nacional do PL”.
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