Apoio só de perdedores: Bolsonaro fica sem palanque no Nordeste no 2º turno – UOL Confere

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Formado em jornalismo pela Universidade Federal de Alagoas e com especialização em gestão de conteúdo em jornalismo pela Universidade Mackenzie, Carlos Madeiro atua há 20 anos e escreve para o UOL desde 2009, participando de grandes coberturas e fazendo reportagens e análises sobre o Nordeste e o Norte do Brasil.
Colunista do UOL
07/10/2022 04h00
Candidato à reeleição, o presidente Jair Bolsonaro (PL) não conseguiu avançar nas negociações por apoios e ficou sem um palanque para chamar de seu nas disputas do segundo turno aos governos do Nordeste, região em que teve o pior desempenho eleitoral na votação do último domingo (2). Apenas nomes que perderam no primeiro turno anunciaram até agora voto e apoio ao presidente.
Na região, cinco estados terão segundo turno em 30 de outubro: Alagoas, Bahia, Paraíba, Pernambuco e Sergipe. Em todos eles, os mais votados no primeiro turno são nomes que já apoiavam o ex-presidente Lula, o que torna mais difícil a missão de virar o jogo para os desafiantes.

Na disputa presidencial, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teve 66,7% dos votos válidos no Nordeste, contra 27% de Bolsonaro.
Mesmo diante da polarização, candidatos da região mais ligados ideologicamente ou filiados a partidos de direita decidiram não arriscar abrir palanque ao adversário de Lula e nem sequer vão declarar voto para Bolsonaro.
No maior estado da região, a Bahia, ACM Neto (União Brasil) já disse que vai repetir, no segundo turno, a atitude de neutralidade que adotou durante toda a campanha. Afirmou que tem um leque de alianças amplo, inclusive com siglas que apoiam Lula, e não vai pedir voto para nenhum dos candidatos à Presidência.
No estado, contrariando muitas pesquisas, o ex-prefeito de Salvador ficou atrás do candidato do PT, Jerônimo Rodrigues, que superou os 49% dos votos válidos e por pouco não faturou a disputa em primeiro turno.
Em Pernambuco, segundo maior colégio eleitoral da região, o único reforço para Bolsonaro foi o apoio declarado do candidato que ficou em quinto lugar, Miguel Coelho (União Brasil), que disse votar em Bolsonaro agora no segundo turno. Filho do líder do governo no Senado até dezembro, Fernando Bezerra Coelho (MDB), o voto de Coelho já era dado como certo.
O segundo turno opõe a ex-petista Marília Arraes (Solidariedade) —que apoia Lula— e a ex-prefeita de Caruaru Raquel Lyra (PSDB), que deve repetir a tática de não declarar seu voto.
Raquel ainda não voltou à campanha e está em luto pela morte do marido, o empresário Fernando Lucena, 44, no dia da votação do primeiro turno, em Caruaru. A campanha dela pediu ao TRE (Tribunal Regional Eleitoral) o adiamento do início do horário eleitoral por questões “humanitárias”.
Segundo apurou a coluna, a estratégia da candidata será novamente se afastar do presidente e buscar o voto do público mais conservador de outras formas.
Na Paraíba, outro tucano está na disputa: Pedro Cunha Lima, que chegou ao segundo turno contra o governador João Azevedo (PSB). Apesar de não ter tido o apoio de Lula (que na Paraíba estava com Veneziano Vital do Rêgo, do MDB), João pediu votos para o petista e recebeu apoio formal de Geraldo Alckmin (PSB), vice na chapa de Lula.
Cunha Lima é o candidato no segundo turno nordestino que tem a maior ligação histórica com Bolsonaro. Já havia subido no palanque com ele na inauguração do eixo norte da transposição do rio São Francisco. Mas parece seguir firme com o propósito de ficar neutro.
Na quarta-feira, porém, ele publicou um vídeo com uma entrevista sua em que fala que “desalinhamento político algum pode prejudicar o nosso estado”. “A gente vai governar em parceria, independente do presidente que o povo brasileiro eleja.’
“O eleitorado conservador reagiu ao ver que seriam dois lulistas no segundo turno e saiu de Nilvan [PL] para apostar em Pedro. Mas agora ele bateu no teto entre esse público e vai ter que buscar o centro. Só que Bolsonaro joga sua candidatura para longe desse público”, diz o cientista político José Henrique Artigas, da UFPB (Universidade Federal da Paraíba).
Em Alagoas, Rodrigo Cunha (União Brasil) é o desafiante, mas deve seguir a mesma estratégia do primeiro turno e não declarar voto em Bolsonaro. Ele enfrenta o atual governador, Paulo Dantas (MDB), que tem o apoio de Lula e da família Calheiros.
Mesmo contando com o apoio de Arthur Lira (PP) e eleito em 2018 na onda de renovação, segundo apurou a coluna, o senador não fará qualquer menção de voto a Bolsonaro e fará apenas na campanha acenos discretos, tentando resgatar o voto mais conservador.
Em Sergipe, o candidato do PL, Valmir de Francisquinho, era o favorito, mas teve a candidatura vetada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) às vésperas da votação. Ele liderava as pesquisas, mas, como seus votos foram considerados nulos, chegaram ao segundo turno Rogério Carvalho (PT) e Fábio Mitidieri (PSD).
O estado é o único da região com dois candidatos que declararam voto a Lula. Fábio é alinhado ao governador Belivaldo Chagas (PSD) —que apoiou Lula— e deixa claro em suas redes a linha de bater no governo Jair Bolsonaro, como fez ontem ao reclamar dos cortes de verbas na educação.
Educação superior é fundamental, principalmente em um país como o nosso. É inaceitável o corte de verbas das universidades, comprometendo o desenvolvimento estratégico do país e a formação de nossos jovens!Minha solidariedade à luta das universidades,seus servidores e estudantes
Talvez o apoio a Bolsonaro considerado mais importante veio de um estado onde não haverá segundo turno, o Ceará —que tem o terceiro maior colégio eleitoral do Nordeste.
O Capitão Wagner (União Brasil), que no primeiro turno se recusou a declarar em quem ia votar na sabatina UOL/Folha e rechaçou a pecha de bolsonarista, declarou agora voto no presidente. Ele até mudou sua imagem de perfil nas redes sociais para colocar o número do presidente na urna e demonstrar seu apoio.
Nos demais estados, Bolsonaro tem apoio de nomes conhecidos, mas que já tinham sido declarados no primeiro turno, como o do senador Fernando Collor (PTB-AL) e do ex-ministro João Roma (PL-BA), que ficaram fora da disputa.
Para o cientista político Adriano Oliveira, professor da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), o cenário político do Nordeste segue favorecendo Lula na virada de turno, sem alterações na segunda fase da eleição.
“O apoio mais expressivo que o presidente recebeu não está na região que ele mais precisa, que é o Nordeste. Mas está na região mais estratégica, que é Minas Gerais, com o governador Romeu Zema [Novo]”, diz.
No Nordeste, a tendência é o ex-presidente Lula repetir a votação ou até ampliá-la. A dúvida nesse instante fica para saber como será em Minas, se o eleitor vai virar o voto casado do primeiro turno ‘Zema-Lula’ para ‘Zema-Bolsonaro’.”
Adriano Oliveira, da UFPE


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Carlos Madeiro
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