Após 85 anos, legado do conde Matarazzo ainda compõe cenários de SP – Metrópoles
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10/12/2022 5:30, atualizado 10/12/2022 11:14
São Paulo – Primeiro integrante da família Matarazzo a se estabelecer no Brasil, no fim do século XIX, o empresário ítalo-brasileiro Francesco Matarazzo morreu há exatos 85 anos, deixando um legado que até hoje compõe os cenários arquitetônico, empresarial, político e cultural de São Paulo.
O conde Matarazzo, como também ficou conhecido, morreu como o homem mais rico do Brasil e dono da quinta maior fortuna do mundo. No início do século XX, ele ergueu na capital paulista o maior complexo industrial da América Latina, que ostentava seu sobrenome e impulsionou a economia nacional.
“O seu espírito empreendedor é o legado mais importante da sua história. Ele foi o pai da indústria do Brasil”, afirma Andrea Matarazzo, sobre o tio-bisavô Francesco.
Complexo Cidade Matarazzo foi construído onde era um hospital e maternidadeReprodução/ Redes Sociais Cidade Matarazzo
Francesco Matarazzo morreu como homem mais rico do Brasil, italiano mais rico e dono da quinta maior riqueza do mundoArquivo Museu Histórico Municipal Conde Francisco Matarazzo de Jaguariaíva
Edifício Matarazzohttp://www.fotosedm.hpg.ig.com.br/ Wikimedia
Sede da prefeitura de São Paulo, no Edifício MatarazzoDornicke/ Wikimedia
Moinho Matarazzo antigamenteCondephaat
Moinho MatarazzoReprodução/ Google Street View
Parque Trianon e túneis da Avenida Nove de JulhoFoto Postal Colombo S.
Vista aérea do Parque Trianon e do MaspWikimedia
Capela de Santa Luzia reformadaReprodução/ Redes Sociais Cidade Matarazzo
Igreja Nossa Senhora do BrasilReprodução/ Facebook
O político e administrador Andrea MatarazzoWikimedia Commons
Além do parque industrial construído no bairro da Água Branca, na zona oeste paulistana, com imensas chaminés de tijolos que podiam ser vistas a quilômetros de distância e foram preservadas até hoje, o conde Matarazzo foi um dos fundadores da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp).
A sua atuação empresarial era abrangente. Ia de itens de serraria a frigorífico, armazéns e banco, passando pela produção de sabão, perfumes e inseticidas e até pela criação de uma distribuidora pioneira de filmes.
Inaugurado em 1900, para moer trigo para o mercado paulista, que estava em plena expansão à época, o imponente Moinho Matarazzo foi tombado como patrimônio histórico da cidade e domina a Rua Monsenhor de Andrade, no Brás, na região central.
A própria sede da Prefeitura de São Paulo está no icônico Edifício Matarazzo, também chamado de Palácio do Anhangabaú, no centro da capital. O prédio abrigava a sede das indústrias de Francesco, que faleceu no dia 10 de dezembro de 1937.
“O Edifício Matarazzo é uma das maiores construção de travertino do mundo, com o mármore todo vindo da Itália e projeto do italiano Marcello Piacentini”, diz o ex-vereador Andrea, que concorreu ao cargo de prefeito em 2016 e 2020.
Ele menciona ainda o Parque Trianon, localizado na Avenida Paulista, como legado do conde. “O Trianon foi uma doação de Andrea Matarazzo [irmão do conde] e de Francesco para a cidade. Puseram o nome de Siqueira Campos, mas foram eles que fizeram.”
Segundo Andrea, que também já foi ministro da Comunicação Social, secretário de Cultura e das Subprefeituras da capital e embaixador do Brasil em Roma, os Matarazzo fizeram grandes doações a paróquias da Igreja Católica, como a da Nossa Senhora da Paz, no Glicério, e a da Nossa Senhora do Brasil, no Jardim América.
Na mesma região da Paulista, a história da família está presente no Cidade Matarazzo, o complexo que reúne 10 prédios centenários tombados, no local onde funcionava o Hospital e Maternidade Matarazzo e que ainda abriga a Capela Santa Luzia.
“Está escrito lá até hoje uma frase do Francesco: ‘Que o dinheiro dos ricos reverta para a saúde dos pobres’. O Hospital Matarazzo tinha esse objetivo e foi o maior hospital de queimados da América Latina. Para se ter ideia, tinha 800 leitos quando foi estatizado”, conta Andrea.
Com hotel 6 estrelas, centro cultural e lojas de luxo, o complexo mantém o nome do clã, mas o empreendimento não pertence aos descendentes do conde. “Ele volta, obviamente, com outra finalidade, mas é um marco de um período importante. O primeiro pavilhão é de 1904, tem arquitetura florentina e foi todo restaurado”, diz ele.
“A capela foi criada pela minha bisavó Virgínia, porque ela tinha um filho, Paulo, que sofria de um problema grave nos olhos, e Santa Luzia é a protetora da visão. Ela fez a promessa de que ergueria a capela se o filho sarasse — e Paulo sarou”, lembra Andrea.
O legado cultural da família Matarazzo ganhou maior dimensão pelas mãos dos sucessores do conde. Ciccillo Matarazzo, filho de Andrea Matarazzo, irmão de Francisco, foi fundador e patrocinador da Fundação Bienal de São Paulo.
“Ciccillo achava que a forma de inserir São Paulo no mundo era por meio da cultura. Ele criou o Museu de Arte Moderna com o seu próprio acervo e o Museu de Arte Contemporânea, que conta com a maior e melhor coleção de arte moderna da América Latina”, diz Andrea.
Ele vê as realizações de Francesco e os demais Matarazzo também como homenagem a São Paulo e ao Brasil: “É uma vasta herança cultural de uma família europeia que queria agradecer por tudo o que a cidade, o estado e o Brasil proporcionaram a ela”.
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