As mulheres nos futuros governos Tarcísio e Lula – JOTA
diversidade
Maioria da população, elas estão sub-representadas no secretariado de SP; presidente ainda passa longe da paridade
Das 23 pastas já confirmadas pelo governador eleito de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), apenas 6 serão ocupadas por mulheres. Muito longe da paridade de gênero, Tarcísio aponta para o que as mulheres paulistas podem esperar nos próximos anos.
Além das perspectivas não serem animadoras, as mulheres paulistas já enfrentam grandes desafios – muitos deles históricos. O estado de São Paulo registrou aumento de 11,7% nos casos de estupros de vulneráveis do sexo feminino entre janeiro e setembro de 2022, comparado ao mesmo período do ano anterior; também foi o estado que apresentou crescimento de 35% de denúncias de feminicídios em março deste ano – mais de uma mulher morreu por dia, vítima de feminicídio, apenas no primeiro trimestre.
No contexto nacional da pandemia, as mulheres foram as mais impactadas no mercado de trabalho. Cerca de 72% dos postos de trabalho assalariados encerrados no primeiro ano da pandemia eram ocupados por elas, segundo pesquisa divulgada pelo IBGE em junho. Para além da violência e do desemprego, a insegurança alimentar prevalece nos lares chefiados por mulheres, a falta de vagas em creches públicas é uma realidade nas cidades, assim como as filas nos serviços de saúde e a interrupção de estudos motivada por gestações precoces.
Ainda que sejam a maior parte da população no Brasil e em São Paulo, as mulheres estão sub-representadas na política e nos governos – como observado no futuro governo de Tarcísio de Freitas. O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), buscou uma participação feminina maior na composição do ministério, neste terceiro mandato, mas está longe do equilíbrio entre homens e mulheres almejado pelas eleitoras. Dos 21 nomes já anunciados, até o momento somente 6 são mulheres.
Apesar dos obstáculos e episódios de violência política de gênero, nas eleições de 2022, 9.415 pedidos de registro de candidaturas femininas se efetivaram. Ou seja, 33% dos concorrentes a uma vaga nas eleições de 2022 eram mulheres – um recorde nas urnas. Ainda assim, tivemos um baixo crescimento na representação de mulheres no Congresso e nos Legislativos estaduais. Passamos de 15% de mulheres na Câmara dos Deputados para 18%. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), quatro estados não elegeram nenhuma mulher deputada federal: Alagoas, Amazonas, Paraíba e Tocantins.
Os dados acima são resultado das desigualdades estruturais que as mulheres enfrentam na política: baixo financiamento de suas campanhas, estruturas partidárias pouco democráticas, falta de apoio de familiares e amigos, necessidade de escolher entre permanecer em seus trabalhos ou se arriscar na vida política, violência política de gênero, entre outros. Mesmo quando elas conseguem chegar em espaços de poder e decisão, na grande maioria das vezes, são reservados para as mulheres funções de soft politics, ou seja, áreas de atuação ligadas à assistência e proteção social, enquanto aos homens são reservados os lugares de maior prestígio (hard politics), como as áreas econômica, de justiça e relações internacionais.
Do lado do Poder Executivo estadual, os números são ainda mais preocupantes. Das 27 unidades federativas, temos apenas duas governadoras eleitas: Raquel Lyra (PSDB) em Pernambuco e Fátima Bezerra (PT) no Rio Grande do Norte. Essa desigualdade de representação não se dá apenas nos cargos eletivos e no alto escalão dos governos, também está presente nas posições de liderança da iniciativa privada e de outras organizações. Portanto, esse é um desafio coletivo que precisa ser enfrentado por nossa sociedade.
Para superar os complexos problemas sociais que afligem a realidade das mulheres brasileiras e paulistas, é preciso compor governos com equidade de gênero nas diversas pastas, com o objetivo de trabalhar as questões sociais a partir de uma visão sistêmica, intersetorial e, fundamentalmente, diversa. Iniciativas de toda a sociedade são outro importante elemento para fortalecer o debate e a implementação de projetos que comunguem com o ideal de construir um país mais igual e justo para todos.
Tamires Fakih – Presidente do Todaz na Política, gestora de políticas públicas e doutoranda em Mudança Social e Participação Política pela USP
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