As respostas da política e do sistema de Justiça aos golpistas que … – Tudo Rondônia

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“E os outros presos? Ninguém sabe quase nada deles, nem do nome nem do que fazem na vida”, questiona Moisés Mendes
Um pequeno desafio para você que está lendo esse texto: diga dois nomes, apenas dois, de fascistas presos por conspirarem contra a democracia.
Agora, diga 10 nomes ou mais de fascistas soltos, citados diariamente como sabotadores das instituições e da democracia.
Os nomes dos presos dificilmente serão lembrados pelo cidadão comum, mesmo que alguém decida que Roberto Jefferson, um caso à parte, possa ser apontado como um deles.
E os outros presos? Ninguém sabe quase nada deles, nem do nome nem do que fazem na vida.
Não sabem nem quantos ainda estão presos como bloqueadores de estradas, como manés violentos acampados na frente de quartéis ou como ameaçadores de ministros do Supremo.
A ausência de nomes conhecidos entre os presos passa por uma explicação usual e razoável: o sistema de Justiça também lida com ambientes, circunstâncias e tempo certo para agir.
Por isso mesmo não sabemos quase nada dos nomes e da vida dos que foram presos. Mas sabemos os nomes e quase tudo da vida dos fascistas que continuam soltos.
Muitos desses extremistas livres começam agora a dar sinais de rendição com pedidos de trégua.
O tempo certo e as circunstâncias políticas, que podem vir a ser a mesma coisa, permitiram que eles continuem em liberdade. E que, no outro extremo, manés e patriotas tenham sido identificados e presos.
O mesmo tempo certo proporcionou ações do Ministério Público, da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária no sentido de identificar envolvidos em bloqueios de estradas e ameaças, além de financiadores de atos pelo golpe.
São conhecidas as iniciativas do ministro Alexandre de Moraes para que não só manés sejam investigados. Há gente grande com sigilo telefônico quebrado e contas suspensas nas redes sociais.
Mas, como alcance, ainda parece pouco, porque o golpe é articulado há pelo menos dois anos, com atitudes explícitas de conspiração, e os grandes chefes e financiadores continuam impunes.
Pois há gente assumidamente golpista, terrivelmente de extrema direita, que agora se aproxima ou deseja sorte a Lula.
Vamos ver mais adiante quais serão as respostas da política e do sistema de Justiça a esses gestos de desespero.
Reparação e justiça de transição funcionam bem como palavras saídas da boca de juristas. Não significam muita coisa para os ouvidos da maioria do povo.
O tempo certo para que Ministério Público e Judiciário atendam expectativas está na noção de tempo de cada um, de acordo com pressas, interesses, demandas e pressões.
E expectativas são sentimentos justos de quem enfrentou quatro anos de omissões, crimes, ameaças, perseguições e destruição do Estado.
É esnobe e pernóstica a autoridade, o jurista e o palpiteiro que disserem que reparações não são feitas sob pressão e no ritmo desejado pelas pessoas comuns.
São, sim. O sentimento coletivo de que nada acontecerá pode ser o predominante, a partir do momento em que a maioria se der conta de que a hora de agir já passou e de que os criminosos poupados agora erguem a bandeira branca.
Teremos o tempo dos inquéritos e dos processos, mas esse tempo muitas vezes é cúmplice dos que decidem sabotar reparações.
No tempo medido pelos familiares das vítimas do incêndio na Boate Kiss, o que se completa agora, em janeiro, é mais do que uma década da tragédia de 27 janeiro de 2013 em Santa Maria.
O que fica exposto, agressivo e acintoso, é o tempo eterno da impunidade e dos erros na condução do caso na Justiça. Ninguém foi punido. Dez anos depois.
No tempo dos familiares de vítimas da ditadura, não há mais nada a ser feito como reparação na área criminal. Não há mais tempo e nem mesmo o que dizer com alguma consequência.
Hoje, as respostas do sistema de Justiça ao fascismo serão tão importantes quanto as respostas da política para que a democracia quase destruída não seja protegida pela metade.
Não é algo a ser subestimado, e mais ainda quando circulam recados de grandes golpistas que começam a caminhar na direção do governo em busca de um entendimento.
Dirão que MP e Judiciário não têm nada com isso, porque o espaço da política é outro.
Pois é o que sempre se diz e sempre se ouve, enquanto o tempo corre contra os que subestimam sua capacidade de produzir estragos.
Quem vai embarcar nesses pedidos desesperados de trégua?

Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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