Astro da Holanda omitiu sobrenome no futebol por mágoa de pai ausente – UOL Esporte

Demétrio Vecchioli
Colunista do UOL, em São Paulo (SP)
08/12/2022 20h36
Na maior parte do mundo do futebol, com poucas exceções, notadamente entre os latinos, é o sobrenome do jogador que vai na camisa e faz a fama. O craque da seleção francesa é conhecido por Mbappé, não por Kylian. O artilheiro da Inglaterra é o Kane, não o Harry. Memphis Depay, o 10 da Holanda, é exceção.
Ele até usa o nome completo nas redes sociais, como de praxe no futebol, mas faz questão de levar nas costas da camisa apenas seu primeiro nome: Memphis. A razão é uma mágoa do pai, de quem herdou o sobrenome, que passou a ser ausente depois que a mãe e o pai se separaram, quando o jogador tinha quatro anos.

Atualmente os dois até têm relação, mas Memphis não esconde quão ruim foi, para ele, não ter o pai por perto. “Agora a gente está bem. Quando eu tinha 22 anos, eu o perdoei. Ele não é um cara ruim, ele só não assumiu a responsabilidade, e ele sabe disso. Por muito tempo eu tive raiva, porque você é perguntado muito sobre isso. Em entrevistas, no meio do futebol, as pessoas fazem piada, mas no fim das contas isso vai me fazer ser um bom pai quando eu for um pai”, disse Memphis em uma entrevista de 2020.
“Bem, ele me mostrou o que eu tenho que fazer, o melhor, o que eu não tenho que fazer, para ser um bom pai. Eu sou muito orgulhoso de mim, e foi ele quem perdeu um monte de coisas”, continuou.
Dennis Depay, o pai do craque da Holanda, é ganês, imigrou para Holanda, casou com a local Cora Schensema, e do relacionamento nasceu Memphis. Apesar de o pai, depois do divórcio, ter se afastado da família, o jogador não se afastou das raízes ganesas.
Escolheu jogar pela seleção holandesa, país onde nasceu, foi criado e formado atleta, mas manteve vínculos com Gana. Nas últimas férias, visitou o país, como faz com alguma regularidade, e até se encontrou com o presidente Nana Akufo-Addo.
“Grato por conhecer o presidente de um país que tanto amo. Voltar para casa é sempre incrível e Gana é o futuro, fiquem ligados”, escreveu no Twitter. Nas redes sociais, ele também já se deixou fotografar em um iate com as bandeiras de Gana e da Holanda. Além dele, o meia Cody Gakpo, outra estrela da seleção holandesa, também tem asscendência ganesa.
Aos 28 anos, Memphis tem números expressivos com a camisa da Holanda. Com 43 gols, está a sete de ultrapassar Robin van Persie e se tornar o maior artilheiro da seleção laranja em todos os tempos. E, com mais 15 apresentações, entrará na lista dos 10 jogadores que mais atuaram pela seleção. Se continuar na equipe por mais um ciclo de Copa do Mundo, tem tudo para se aproximar, se não passar, Van de Sar e Sneijder no topo da lista.
Apesar disso, ele ainda não se mostrou o jogador que prometia ser no início de carreira. Depois de jogar por todas as seleções de base da Holanda e aparecer bem no PSV Eindhoven, ele foi vendido para o Manchester United por 25 milhões de libras, em uma das maiores transferências do ano.
Mas o holandês não rendeu o esperado. Fez só dois gols e saiu pela porta dos fundos, vendido para o Lyon. Na França, em quatro anos, reencontrou o bom futebol. Anotou quase um gol por partida e despertou de novo a atenção de gigantes da Europa. Acabou acertando com o Barcelona para a temporada 2021/2022.
Dono da camisa 9, esquentou o banco durante boa parte da temporada, mas ainda assim fez 12 gols no Campeonato Espanhol. Com a chegada de Raphinha e Lewandowski, passou a ter ainda menos espaço, ainda mais porque porque passou mais de um mês machucado. Com a confiança de Van Gaal, foi convocado para a Copa, começou no banco, mas virou titular na campanha e fez um dos gols da vitória sobre os EUA.
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