Ativistas condenam FIA por censura na F1 e veem "reação particular" a Hamilton – Notícia de Fórmula 1 – Grande Prêmio

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A censura promovida pela FIA (Federação Internacional de Automobilismo) foi recebida pelo grupo pró-direitos humanos barenita BIRD (sigla em inglês para Instituto pelos Direitos e Democracia do Bahrein) como uma resposta em particular a Lewis Hamilton. O diretor da organização, Sayed Ahmed Alwadei, enviou uma carta aberta ao presidente da entidade que gere o esporte, Mohammed Ben Sulayem, acusando-o de querer “silenciar” os pilotos que usam suas vozes para denunciar abusos “quando FIA e F1 falham”.
A rede britânica BBC teve acesso à carta de Alwadei, que criticou duramente a postura da federação em exigir que, a partir de agora, os pilotos se submetam a uma espécie de aprovação prévia antes de qualquer tipo de manifestação durante o fim de semana de atividades de F1.
O texto do Regulamento Esportivo passou por uma atualização. Agora, o artigo 12.2.1 diz que “a realização e exibição geral de declarações ou comentários políticos, religiosos e pessoais que estejam claramente violando o princípio geral de neutralidade promovido pela FIA em seus estatutos, a menos que previamente aprovados por escrito pela FIA para competições internacionais ou pela ASN (sigla em inglês para Autoridade Esportiva Nacional), para competições internacionais dentro da sua jurisdição”, constitui violação das regras.
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Na visão de Alwadei, uma mudança que indica “uma reação aos pilotos, em particular Lewis Hamilton”, que “usou sua plataforma para expressar apoio ao Black Lives Matter e aos direitos humanos em países com graves problemas nessa área, incluindo Bahrein e Arábia Saudita“.
“Ao longo de sua carreira, nenhuma declaração feita por Hamilton pode ser considerada mais política do que a decisão da FIA de retirar a Rússia da última temporada por causa da invasão à Ucrânia“, disparou o ativista, dirigindo-se, em seguida, a Ben Sulayem. “Em suas próprias palavras ditas no último ano, você condenou a invasão russa e expressou ‘tristeza e choque’ pelas vítimas na Ucrânia. Embora eu aplauda essa declaração, ela é claramente política”, enfatizou Alwadei.
“Quando FIA e F1 decidem conceder corridas a alguns dos regimes mais repressivos do mundo, como Bahrein e Arábia Saudita, estão facilitando o sportwashing (a utilização do esporte para melhorar a imagem de um país) e permitindo que essas ditaduras ‘lavem’ os registros horríveis sobre os direitos humanos”, seguiu.
O líder humanitário lembrou ainda um episódio acontecido no ano passado, quando Hamilton recebeu uma carta de um prisioneiro político do Bahrein, chamando atenção para a causa. “É perturbador ver a FIA imitando as táticas de seus despóticos parceiros de negócios, tentando amordaçar as vozes de críticos e defensores. Onde FIA e F1 falharam, pilotos como Lewis Hamilton se levantaram e denunciaram os abusos, e sua voz em apoio aos prisioneiros políticos no Bahrein esclareceu essa terrível injustiça.”
“Agora, a FIA quer silenciá-lo e também os outros, puni-los se ousarem falar. Estamos dizendo a Mohammed Ben Sulayem que esta política está errada e deve ser revertida imediatamente”, bradou.
Alwadei ainda citou a gestão passada, dizendo que “infelizmente, a presidência de Jean Todt terminou sem uma política de direitos humanos em vigor, e não está claro se isso ainda é algo a ser trabalhado pela FIA”.
Ben Sulayem teve de lidar com as questões sobre o polêmico tema, mas reiterou o posicionamento à imprensa presente no Rali Dakar. O mandatário disse que nenhum piloto seria impedido de falar, mas seriam “muito bem-vindos a passar pelo processo da FIA”.
Protestos e censura na Fórmula 1
A censura na F1 já havia dado o ar da graça logo após Lewis Hamilton subir ao pódio do GP da Toscana, de 2020, vestindo uma camiseta preta com os dizeres “Prendam os policiais que mataram Breonna Taylor”, jovem americana de 26 anos que foi assassinada a tiros após a polícia invadir sua casa no meio da madrugada como parte de uma investigação contra o ex-namorado dela. Breonna se tornou um dos símbolos do movimento Black Lives Matter — Vidas Negras Importam, que explodiu em todo mundo após outro assassinato brutal de uma pessoa preta nos Estados Unidos, George Floyd, também por violência policial —, e Hamilton não pensou duas vezes sobre usar a visibilidade que tem para cobrar justiça.
A entidade, no entanto, não gostou nada da atitude do heptacampeão e decidiu proibir pilotos de vestirem camisetas sobre o macacão. “Ao longo dos procedimentos da cerimônia de pódio e das entrevistas pós-corrida, os pilotos que terminarem em 1°, 2° e 3° precisam seguir vestidos apenas com seus macacões, fechados até o pódio, e não abertos até a cintura”, apontou a determinação da FIA.
As manifestações, porém, nunca deixaram o paddock, na maioria das vezes puxadas por Hamilton e por Sebastian Vettel. Em várias ocasiões, o agora ex-piloto desfilou nos fins de semana de GPs com camisetas protestando contra a crise climática global, como no GP do Canadá, quando vestiu uma blusa com a frase “Parem de minerar areias betuminosas” e despertou a ira das autoridades locais.
O tetracampeão também se tornou uma voz ativa pelos direitos da comunidade LGBTQIA+ — este último, não por acaso, uma vez que o calendário da F1 passa por países onde homossexuais são perseguidos e até condenados à morte, como o Qatar. A postura de Vettel, aliás, chegou a incomodar o presidente da FIA, Mohammed Ben Sulayem.
“Niki Lauda e Alain Prost só se preocupavam em guiar. Agora, Vettel pedala numa bicicleta de arco-íris, Lewis é apaixonado pela questão dos direitos humanos e Norris fala de saúde mental. Todo mundo tem o direito de pensar. Para mim, é uma questão de se devemos impor o tempo todo nossas crenças em algo além do esporte”, declarou o dirigente este ano ao site britânico GrandPrix247. As aspas, no entanto, repercutiram mal, e Sulayem se viu obrigado a mudar o tom, dizendo que diversidade sempre esteve em sua pauta de governo diante da FIA.

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