Ator compara série de terror com política: 'Cegos para a lógica' – Tangerina
FILMES E SÉRIES
Divulgação/HBO Max
Em entrevista à Tangerina, Marcos de Andrade fala sobre as analogias do primeiro terror nacional da HBO Max, Vale dos Esquecidos
Primeira série de terror nacional da HBO Max, Vale dos Esquecidos foi uma das principais apostas do conglomerado Warner Bros. Discovery para o público brasileiro em 2022. Com a primeira temporada finalizada, a atração conquistou fãs após explorar um gênero pouco valorizado no país e entregar um thriller psicológico bastante complexo.
Marcos de Andrade fez parte do elenco da atração inovadora e interpretou o padre Aleixo, um dos moradores do misterioso Vale do Sereno, lugar em que se passou boa parte da trama da primeira temporada. É exatamente por lá que um grupo de jovens se perdeu depois de uma expedição pela floresta.
A série é inspirada em lendas de Paranapiacaba, distrito de Santo André (onde a série foi gravada), e aborda mistérios, sacrifícios e até rituais canibais. Para Marcos de Andrade, porém, a produção de terror faz grandes analogias a relacionamentos abusivos, à morte e, principalmente, à política brasileira.
“É um movimento de manada. Eu acho que reflete muito do que a gente vive. Quando você é muito afetado por uma coisa, por uma ideia, seja algo mais ligado a uma questão ideológica ou quando um movimento de grupo caminha para um lugar que te apaixona, a lógica é mais frágil do que a paixão que você tem”, reflete o ator em entrevista exclusiva à Tangerina.
“Acho que a gente tem visto movimentos de manada, de uma espécie de surto coletivo, que tem muito parecido em Vale dos Esquecidos. Quando mostram que, em nome de um suposto ideal paradisíaco de grupo você tem que se apaixonar, tem que estar acima de tudo em sua vida, [a série] parece refletir coisas que a gente tem visto atualmente. A vontade de que nada estrague aquilo que você tem, algo do tipo ‘finalmente tenho algo pelo que lutar’. Então, se precisar cantar o hino para um pneu, nada mais importa, você fica cego para a lógica”, compara o artista, em alusão aos movimentos que aconteceram nas estradas do Brasil quando o ex-presidente Jair Bolsonaro perdeu as eleições em outubro.
Vale dos Esquecidos ainda não tem uma segunda temporada confirmada, mas as expectativas estão altas. Para Marcos, foi incrível poder mergulhar em um personagem de tamanha complexidade e contando uma história de terror, uma oportunidade que ainda não havia tido em sua carreira.
“Trabalhar a dubiedade, a imprevisibilidade e as diversas camadas que qualquer personagem ser humano apresenta é o que tem de encantador nesta profissão. Poder participar de um projeto em que eu possa trabalhar minha sensibilidade como ator com temáticas tão profundas é uma oportunidade única”, afirma. “A gente tenta deixar o personagem um pouco mais complexo na intenção de frear esses impulsos do clichê e do lugar-comum que te envolvem. Só que nesse caso, ainda tem o aspecto do universo fantástico, com uma passagem de tempo diferente.”
Para ele, a série subverte aquele conceito de um personagem 100% bom e mau e dá camadas complexas a cada um dos envolvidos na narrativa. Além de Vale dos Esquecidos, Marcos de Andrade fará parte da segunda temporada de Cidade Invisível, da Netflix, e retornará ao teatro com O Homem do Subsolo, clássico de Dostoiévski (1821-1881).
Giulianna Muneratto
Jornalista pela Faculdade Cásper Líbero. Adora um filme clichê, música pop e sonhava em ser cantora de cruzeiro, mas não tem talento pra isso.
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