Atuação política de Janja motiva ataques misóginos da imprensa – Brasil de Fato

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O nome da futura primeira-dama Rosângela Lula da Silva, mais conhecida pelo apelido Janja, tem sido assunto frequente nas redes sociais do país nos últimos quatro dias. O motivo é a série de ataques misóginos que, desde sábado (12), a socióloga vem recebendo de veículos empresariais de comunicação e de seus comentaristas.
O primeiro ataque veio da jornalista Eliane Cantanhêde, comentarista política e colunista. Na sexta-feira (11), no programa Em Pauta, da GloboNews, Cantanhêde afirmou que existe um "incômodo" com a participação política de Janja. O comentário, no entanto, não informou quem estaria incomodado com a atuação da primeira-dama.
"O presidente é o Lula. Tudo tem limite, tudo o que excede pode dar problema. E há um incômodo com o excesso de espaço que a Janja vem ocupando. Ontem (10), por exemplo, quando o Lula fez aquele discurso em que ele chorou quando falou da fome, (…) ela estava ali sentada. Mas ela não é presidente do PT, ela não é líder política, ela não é presidente de partido, enfim, por que ela estava ali? Qual é o papel da primeira-dama?", questionou a jornalista.
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Em seguida, ela enumerou as mulheres que estiveram nesse papel desde a ditadura militar, para concluir que Ruth Cardoso, mulher do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) (1994 a 2002), foi a primeira-dama exemplar. "Acho que um bom exemplo de primeira-dama foi a Ruth Cardoso, que, como a Janja, tinha brilho próprio, era uma professora universitária, uma mulher super respeitada na área dela e cuidou da Comunidade Solidária. Mas ela não tinha protagonismo, ela não tinha voz nas decisões políticas. Se tinha, era a quatro chaves, dentro do quarto do casal", disse a comentarista.
Por fim, Cantanhêde fez um exercício de futurologia sobre a atuação de Janja no governo Lula. "Ou seja, já incomoda sim, porque ela vai começar a participar de reunião, já vai dar palpite e daqui a pouco ela vai dizer 'Ah, esse pode ser ministro, esse aqui não pode'. Isso dá confusão".
No mesmo programa, o jornalista André Trigueiro chegou a defender Janja dos comentários de Cantanhêde. "Acho importante demolir esse termo. (…) Eu acho que a gente tem que reinventar palavras e expectativas em relação ao papel da mulher do homem mais poderoso do Brasil. Já ficou muito claro que, nesse governo, não será propriamente alguém que vai cumprir o papel de dona de casa subserviente ao marido", disse.
Mas o estrago já estava feito. A repercussão nas redes sociais ao longo dos dias seguintes foi intensa. 
Exigir das primeiras-damas que sejam silenciosas é reproduzir pior da misoginia e do machismo. Janja tem de ser respeitada. Lugar de mulher é onde ela quiser estar. Isto vale para jornalista, vale para militante que seja mulher de presidente, vale para cada uma de nós, mulheres.
O mais bizarro desse machismo todo pra cima da Janja é o povo tendo coragem de dizer que ela não tem conhecimento político pra estar lá, sendo que a mulher além de socióloga, foi por anos assessora parlamentar e já atuou dentro do partido e organização https://t.co/6aZ1CJQoF5
Os jornais e jornalistas que estão atacando a JANJA alegando que ela não recebeu votos e que sua fama e influência não se justificam, não entendem nada de política. O machismo disso tudo é tão escancarado que dá vergonha alheia.
Janja entende muito, trabalha dia e noite e é um orgulho pro Brasil tê-la como primeira-dama.

A mulher é socióloga com MBA em Gestão Social e Sustentabilidade.

Respeita a Janja! pic.twitter.com/eY5bii3PaP
A declaração da jornalista Eliane Cantanhede sobre Janja precisa ser colocada em seu devido lugar: é violenta, é delinquente, é machista, misógina e perversa. Vamos repetir o que foi feito com dona Marisa? Não aprendemos nada? Nojo. Muito muito nojohttps://t.co/74EOJxQ6Yo
No domingo (13), Janja voltou a ser o centro das atenções. Ela concedeu uma entrevista exclusiva ao Fantástico, da TV Globo. Sua participação no programa teve um tom positivo, mas a misoginia voltou a aparecer na repercussão nas redes e no próprio grupo de comunicação carioca. Nesta terça-feira (15), o jornal O Globo publicou um editorial que, em linhas gerais, repete a opinião externada por Eliane Cantanhêde alguns dias antes. 
No texto Nova primeira-dama precisará achar papel compatível com sua experiência, o jornal afirma que, em comparação com Michelle Bolsonaro e os cônjuges de outros candidatos, o papel de Janja na campanha se sobressaiu. "[Ela] escalou quem entrava em reuniões ou voos com o marido, participou de encontros reservados e nunca deixou de dar sua opinião quando quis. Recentemente, ganhou espaço na transição, com a missão de organizar a festa da posse", diz o texto.
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A peça de opinião não considerou como importante ou decisiva a participação da primeira-dama Michelle Bolsonaro na campanha com o marido, apesar do papel importante que teve na tentativa de diminuir a rejeição de Bolsonaro entre o eleitorado feminino.
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O editorial continua: "Embora seja filiada ao PT desde 1983, não tem histórico de cargos eletivos nem de altos postos no partido. Seu currículo não parece justificar a influência que adquiriu na campanha", avalia. O texto, por fim, afirma que é desafiador encontrar um papel a cumprir como cônjuge de um mandatário, mas que "o mais importante é sempre lembrar quem foi eleito para tomar decisões".
Nesta segunda (14), mais manchetes com tom de fofoca voltaram a colocar Janja sob os holofotes. O assunto? O preço da camisa utilizada pela futura primeira-dama na entrevista ao Fantástico.
Lula chegou no Egito. Acabou o medo da gente passar vergonha internacional. Não vai mentir nem delirar falando de comunismo. Vai nos encher de orgulho porque vai voltar maior do que chegou e contribuir para que o planeta melhore.

Mas a manchete é sobre o preço da blusa da Janja.
Genocídio indígena 😎😴🤙
Camisa da Janja 😡🤬👎

E, pouco a pouco, retornamos à normalidade 😏 pic.twitter.com/BqItDAPzMA
Lula viaja para um dos eventos mais importantes de justiça ambiental.
Vai representando o Brasil, diante da inépcia de Bolsonaro.
A conversa fiada é sobre a roupa da Janja na televisão ou sobre o jatinho usado na viagem.
No entanto, o que os ataques ocultam é que Rosangela Lula da Silva é socióloga formada pela UFPR, com MBA em Gestão Social e Sustentabilidade e filiada ao Partido dos Trabalhadores desde aos anos 1980. A paranaense participou ativamente da Vigília Lula Livre, enquanto o recém-eleito presidente Lula estava preso em Curitiba, durante 580 dias.
Edição: Arturo Hartmann
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