Azarões eleitos em 2018 mudam e abraçam política profissional – Política Livre

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18 outubro 2022

Há quatro anos, eles despontaram na onda antipolítica surgida na esteira do bolsonarismo, com escasso apoio e estrutura partidária.
Agora, montaram amplo arco de alianças, replicando acordos já formados nas Assembleias, tiveram acesso a financiamento de campanha milionário e tentam se equilibrar em um discurso que mantenha o mote de novidade política.
Governadores que se elegeram como azarões em 2018 neste ano abraçaram nomes da política tradicional e profissionalizam as campanhas para renovar o mandato.
Dois deles, em Rondônia e Amazonas, estão em campo disputando o segundo turno.
Wilson Lima, que trocou o PSC pela União Brasil, está em situação mais confortável no pleito amazonense, após ter sido o mais votado no primeiro turno no domingo (2), abrindo 22 pontos percentuais de vantagem sobre o senador Eduardo Braga (MDB).
Em Rondônia, Marcos Rocha, outro da União Brasil, também liderou a primeira votação, mas encara disputa mais acirrada contra um outro apoiador do presidente Jair Bolsonaro, o senador Marcos Rogério, do PL.
Quatro anos atrás, os dois surpreenderam e derrotaram a elite política local na primeira vez em que concorreram a cargo público. A mesma onda alçou ao comando de governos estaduais nomes como Romeu Zema (Novo) em Minas e Wilson Witzel (então no PSC) no Rio de Janeiro.
Se em 2018 Wilson Lima e Marcos Rocha tinham poucos segundos no horário de TV, agora conquistaram o maior espaço no primeiro turno. O caixa de campanha também mudou drasticamente.
Enquanto há quatro anos Rocha havia obtido ao fim do primeiro turno apenas R$ 270 mil (corrigidos pela inflação), valor baixo até para uma campanha a deputado, agora já soma mais de R$ 8 milhões.
Uma das maiores despesas dos dois é com táxi aéreo, item muito relevante sobretudo em estados com vastas distâncias no interior a serem percorridas.
A União Brasil, fusão do antigo DEM com o ex-bolsonarista PSL, é o partido que possui a maior fatia do fundo eleitoral neste ano, com recursos públicos quase bilionários.
Wilson Lima conseguiu formar a maior aliança, incluindo o PL de Bolsonaro, de quem recebeu apoio. Trocou o vice eleito da chapa eleita em 2018, escolhendo um indicado que ampliasse a ligação com o prefeito de Manaus, David Almeida, do Avante.
Na propaganda na TV, adota tom emotivo, aparecendo enrolado na bandeira do estado ou em visita a uma kitnet onde morou. Diz combater “poderosos do passado” e que “nenhum governador sofreu tanta pressão”, em referência à pandemia.
O candidato à reeleição sofreu também com acusações de corrupção ao longo do mandato. Em 2021, virou réu no Superior Tribunal de Justiça sob suspeita de compra superfaturada de respiradores na pandemia.
Uma empresa de vinhos chegou a participar de negócio para o qual não tinha competência, segundo as investigações. Ele sempre negou todas as irregularidades.
Há quatro anos, Lima entrou na política após se tornar conhecido como apresentador de um programa de TV policialesco. Mesmo com o apoio apenas de dois partidos nanicos, conseguiu ir ao segundo turno e por fim vencer o ex-governador Amazonino Mendes, do PDT.
Roteiro parecido ocorreu com Marcos Rocha, coronel da PM de Rondônia que já tinha sido secretário municipal e estadual, mas sem expressão política.
Rocha tem dito que só se lançou na política há quatro anos a pedido de Bolsonaro, com quem tinha contato pela atuação institucional em Brasília, como forma de abrir um palanque no estado ao então presidenciável do PSL.
Com ascensão inesperada nas vésperas do primeiro turno naquele ano, o policial militar bateu um ex-senador do PSDB na segunda votação.
Ainda antes de assumir, indicou colegas militares e agentes penitenciários para pastas como do Ambiente e da Justiça. A primeira-dama assumiu a pasta da Assistência Social.
Começou a gestão fazendo na posse o gesto de “arminha”, característico de Bolsonaro.
Posteriormente, tentou manter alinhamento com o presidente. Na questão ambiental, por exemplo, dizia que não tinha como divergir da Presidência sob pena de provocar “o enfraquecimento da federação”.
Evangélico, o governador costuma fazer lives e orações em redes sociais. Em seu espaço na TV, apareceu batendo continência e lendo a Bíblia.
Neste pleito, Rocha se aliou aos tradicionais MDB e PSDB, que já governaram o estado cinco vezes, e apoiou uma ex-tucana deputada para o Senado.
“Ele teve uma dificuldade em lidar com o Parlamento no início, mas logo depois acaba aderindo a uma dinâmica tradicional da política. Faz aliança com velhas lideranças da Assembleia”, diz o professor de ciência política João Paulo Viana, da Universidade Federal de Rondônia, que vê uma certa “inaptidão” no governo estadual.
As articulações políticas se mostraram ainda mais importantes para esses novatos diante dos precedentes ocorridos com outros governadores eleitos na mesma safra.
Witzel, no Rio, tinha pouco apoio no Legislativo e sofreu processo de impeachment em 2021, quando já estava afastado do cargo pela Justiça em decorrência de acusações de corrupção.
A falta de base política também pôs em risco o mandato de um dos outsiders de 2018, que acabou derrotado no primeiro turno.
O catarinense Carlos Moisés, que abandonou neste ano o epíteto “Comandante” usado na eleição de 2018 derivado de sua atuação no Corpo de Bombeiros, enfrentou na Assembleia dois pedidos de impeachment nos quais inclusive chegou a ser afastado temporariamente. Recuperou o cargo e colocou na chapa um vice do MDB, partido que mais vezes vitorioso no estado desde a redemocratização.
Mesmo assim, terminou apenas em terceiro lugar, de fora do segundo turno.
Em Minas, Romeu Zema também ampliou sua base política neste ano, ao se aliar a outros nove partidos, mas ainda assim viveu situação inusitada para um reeleito.
Sua legenda, o Novo, elegeu apenas dois deputados estaduais e nenhum federal. Para efeitos de comparação, o governador reeleito no Paraná, Ratinho Junior, emplacou 15 eleitos de seu partido, o PSD, na Assembleia.
O professor Joscimar Silva, da Universidade Federal do Piauí, que pesquisou políticos outsiders em trabalho de doutorado, diz que a onda não trouxe nenhuma ruptura no modelo de alianças e de divisão de espaços de governo tradicional da política regional.
“Eles não tiveram dificuldade de adequação, embora permanecessem com o discurso antipolítica ao longo do tempo, como estratégia de mobilização de seu eleitorado.”
Silva diz que desde a eleição municipal de 2020 já se observa um declínio do fenômeno da antipolítica. “Agora há essa reconfiguração. O eleitorado não quis arriscar tanto em novos políticos, e a maior parte [eleita] é uma continuidade de gente já conhecida, com carreira.”
Na eleição deste ano, só houve pelo país um caso de azarão bem-sucedido nos moldes do que ocorreu em 2018. É o candidato Capitão Contar, do nanico PRTB de Mato Grosso do Sul, que passou ao segundo turno.
Sem alianças, ele foi empurrado nas vésperas do primeiro turno por declaração de apoio do presidente Bolsonaro em pleno debate nacional da TV Globo, três dias antes. O presidente endossou a candidatura na ocasião apesar de seu partido, o PL, estar formalmente coligado com um tucano, Eduardo Riedel, que também ainda na disputa.
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