Banif. Teia de negócios e corrupção entre Portugal, Angola e Brasil – Diário de Notícias
O jornalista António José Vilela conta como o antigo Banco Internacional do Funchal foi usado pela elite angolana para lavar dinheiro e as redes que foram geradas a partir daí.
O Banif acabou por ser intervencionado pelo Estado e fechou
© Leonardo Negrão/Global Imagens
A Teia do Banif. O título do livro do jornalista António José Vilela condensa a forma como o antigo Banco Internacional do Funchal foi usado pela elite angolana para branqueamento de capitais e corrupção em Portugal e para criar uma rede a partir dessa instituição financeira.
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No prefácio deste livro, editado pela Casa das Letras, João Paulo Batalha escreve: “A partir da investigação a uma tentativa obscura de figuras do Estado angolano comprarem discretamente um banco menor do sistema financeiro português (Banif) chegamos a um procurador comprado pelos angolanos (Operação Fizz), aos esquemas de lavagem de dinheiro e fuga ao fisco montados ao serviço dos poderosos em Portugal (Operação Monte Branco e Furacão); à cultura de tráfico de influências que apanhou Armando Vara , um dos grandes políticos de negócios do país (Face Oculta), (…) à máquina de lavar dinheiro que Isabel dos Santos e outros figurões angolanos montaram no sistema financeiro português e à cúpula desta economia da corrupção que dominou o país durante anos, no plano económico (BES) e no plano político (Operação Marquês).”
Esta teia começa então, como explica António José Vilela, diretor-adjunto da revista Sábado, na tentativa de controlo deste banco, criado em 1988, projeto de investidores privados, entre os quais Horácio Roque.
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Nesta investigação que demorou vários anos, o jornalista revela centenas de documentos inéditos, escutas telefónicas – algumas entre Armando Vara e José Sócrates, antigo primeiro-ministro envolvido na Operação Marquês – e emails confidenciais. O banco terá sido usado para “lavar” 1, 5 mil milhões de euros em negócios envolvendo a elite angolana e com ligações mesmo ao caso “Lava Jato” no Brasil.
António José Vilela demonstra que a empresária angolana Isabel dos Santos não foi o único rosto deste esquema de negócios opacos no nosso país, a que o sistema financeiro português fechou os olhos.
A sua irmã Tchizé dos Santos, também empresária, o então administrador da Sonangol, Manuel Vicente, o banqueiro Carlos José da Silva, ou o general Kopelipa, próximo do então presidente angolano José Eduardo dos Santos, foram figuras centrais na circulação de milhões pelos bancos portugueses.
“Esta é uma história de um banco maldito (e do Millenium BCP, BPI, BPA Atlântico e Eurobic e dos seus banqueiros) que terá lavado mais de 1,5 mil milhões. E acabou intervencionado e vendido pelo Estado português arrastando investidores privados e muito dinheiro público. Um caso que ainda hoje se encontra em investigação”, refere do autor.
Ainda no prefácio, João Paulo Batalha “dá má notícia” que o livro revela: “Há um núcleo de corrupção no centro do regime democrático em Portugal, que captura a política, a finança, a economia e partes importantes da Justiça”.
Toda a investigação contida em A Teia do Banif foi feita em grande parte através da consulta das investigações judiciais de vários processos e demonstra que existe “ineficácia do poder judicial na acusação e condenação dos responsáveis”.
No livro são citadas escutas de telefonemas entre responsáveis portugueses que se cruzam com o caso Banif. “Os factos penais dos casos Face Oculta/Atentado ao Estado de Direito e Banif eram bem diferentes, mas surgiram dois elos improváveis a ligá-los: várias conversas de voz e SMS sobre o banco Banif foram gravadas a partir dos telefones de Armando Vara (com Sócrates e não só), e depois surgiram documentos encontrados no escritório do administrador do Millenium BCP”, escreve António José Vilela.
O diretor-adjunto da Sábado revela também nesta obra como a maioria dos processos que foram abertos em Angola acabaram por ficar pelo caminho, já que o poder angolano conseguiu sempre controlar todo o sistema.
paulasa@dn.pt
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