Baú da política: o dia que uma cidade do Ceará virou a ‘Capital da República’ – Diário do Nordeste
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O Diário do Nordeste relembra a história nesta reportagem que integra uma série sobre casos inusitados na política cearense
Escrito por Igor Cavalcante, igor.cavalcante@svm.com.br 06:00 – 06 de Outubro de 2022.
Os relógios em Brasília marcavam 16h10 quando o então presidente da República, José Sarney (MDB), partiu em 20 de fevereiro de 1989 para uma viagem oficial rumo a Tóquio, no Japão, para participar do funeral do imperador Hirohito. Começava ali uma sequência de eventos que mudariam a história de Mombaça, uma cidade do interior do Ceará distante 16.675 km da capital japonesa.
Confira a série ‘Baú da Política’
Enquanto Sarney despedia-se do líder japonês do outro lado do globo, o município cearense era alçado à Capital Federal, recebendo uma comitiva de jornalistas, congressistas e ministros, todos a convite do presidente interino, o mombacense Paes de Andrade, então presidente da Câmara dos Deputados.
Nesta reportagem que integra a série “Baú da Política”, o Diário do Nordeste relembra como uma cidade, à época, de 55 mil habitantes, localizada no Sertão Central do Ceará, tornou-se a Capital Federal do Brasil por um dia e fez de Paes de Andrade o “presidente de Mombaça”.
Antes mesmo de Sarney fazer a primeira escala rumo à longa viagem, o presidente interino Paes de Andrade, na Base Aérea de Brasília, já falava sobre sua intenção de viajar à cidade onde nasceu. À época, essa era uma espécie de “tradição” entre os comandantes da República. Nos planos do presidente, conforme disse à época ao Diário do Nordeste, ele chegaria a Fortaleza no dia 24 de fevereiro e visitaria Mombaça no dia seguinte.
![Matéria de fevereiro de 1989 do Diário do Nordeste](/image/contentid/policy:1.3279957:1663620929/Chegara.jpg?f=default&$p$f=c30451e)
Mas a agenda tinha um motivo oficial – além do retorno à terra natal –, o presidente da República percorreria os 1.643 km entre Brasília e Mombaça para inaugurar uma agência do Banco do Nordeste (BNB) na cidade.
“O presidente em exercício disse ao Diário do Nordeste que vai convidar os deputados da bancada cearense e vários jornalistas que são seus amigos. Os ministros Jáder Barbalho, da Previdência Social, e Vicente Fialho, das Minas e Energia, já foram convidados a compor a comitiva. Paes de Andrade gastará algumas horas de sua agenda de hoje para fechar a relação dos convidados”, narrou reportagem, em 21 de fevereiro, do Diário do Nordeste.
A posse de Paes de Andrade ocorreu em uma segunda-feira, a viagem ao Ceará seria na sexta-feira. Nesse meio tempo, a notícia mobilizou lideranças políticas cearenses e, principalmente, os conterrâneos do presidente. Os mombacenses fizeram uma força-tarefa para deixar a cidade pronta para receber o seu filho ilustre.
A inauguração da agência bancária pelo presidente da República era algo considerado como “histórico, tanto do ponto de vista sócio-político quanto do lado sócio-econômico”, narravam os políticos da época ao Diário do Nordeste.
“Podiam ser observados garotos varrendo o pátio externo da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Glória, (…) garis, às dezenas, limpando praças, meio-fios, aparando grama e pintando o meio-fio nas principais ruas e avenidas; notadamente aquelas por onde passará a comitiva presidencial”, dizia uma reportagem do Diário do Nordeste.
![Reportagem de fevereiro de 1989 do Diário do Nordeste](/image/contentid/policy:1.3279960:1663621128/Preparativos.jpg?f=default&$p$f=335cad6)
“Nas ruas, faixas saúdam o presidente, enquanto carros de som conclamam à população a participar da recepção preparada para Paes de Andrade. O cenário é ainda enriquecido pela presença de um carro tipo trio elétrico, pertencente não se sabe a quem, nem contratado por quem também. O fato é que esta cidade de pouco mais de 55 mil habitantes e com um total de 25.168 eleitores, adormeceu ontem sonhando com a visita presidencial que acontece hoje pela manhã”, dizia a matéria.
Ainda conforme a reportagem, a grande expectativa dos populares era “poder chegar perto de Paes de Andrade, apertar sua mão, desejar boa sorte ao presidente” – um desejo repentino para alguns, que descobriram naquela semana que tinham um conterrâneo na presidência da República. “Uns talvez concretizem este sonho. A maioria, com certeza não”, antecipava a reportagem.
![Reportagem de fevereiro de 1989 do Diário do Nordeste](/image/contentid/policy:1.3279963:1663621162/Chegada.jpg?f=default&$p$f=38dbd31)
Em 24 de fevereiro, como previsto, Paes de Andrade desembarcou em Fortaleza acompanhado da esposa, Zilda Martins Paes de Andrade. Eles trouxeram ao Estado uma comitiva com as principais lideranças nacionais, incluindo o presidente do Senado, Marcondes Gadelha, ministros, parlamentares e jornalistas, somando mais de 50 pessoas.
![Na foto chegada do presidente em exercício Paes de Andrade em Fortaleza. Movimentação no Aeroporto Velho. Data: 24/02/1989](/static/diario/assets/images/blur.jpg)
Na Capital, o presidente teve uma demonstração do que o aguardava no Estado. Já na pista do aeroporto, uma grande comitiva recepcionou o presidente, tendo à frente o governador Tasso Jereissati, o vice-prefeito de Fortaleza Juraci Magalhães – o prefeito Ciro Gomes estava em viagem –, o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Antônio Câmara, entre outras autoridades.
Além desse grupo, partiram para Mombaça, no dia seguinte, alguns familiares de Paes de Andrade, entre eles o até então pouco conhecido genro do presidente, Eunício Oliveira (MDB).
Quase três décadas depois, era Eunício quem se tornaria presidente do Congresso Nacional e assumiria a Presidência da República durante viagem do ex-presidente Michel Temer (MDB). Diferentemente do sogro, ele não visitou Lavras da Mangabeira, sua cidade natal, quando assumiu o cargo mais alto do Executivo nacional.
![Foto da visita do presidente em exercício Paes de Andrade a Mombaça. No detalhe Paes de Andrade discursando no palanque. Data: 25/02/1989](/static/diario/assets/images/blur.jpg)
A madrugada do dia 25 de fevereiro de 1989 foi agitada em Mombaça. Conforme narrou o repórter Jurandir Garcia em reportagem do Diário do Nordeste, a banda da Polícia Militar tocava a alvorada por volta das 5 horas. Os preparativos, no entanto, não estavam saindo como planejado pelo prefeito Nelson Benevides, que precisou ser medicado.
![Reportagem de fevereiro de 1989 do Diário do Nordeste](/image/contentid/policy:1.3279964:1663621188/No-Ceara.jpg?f=default&$p$f=8c62803)
“Os problemas explodem por todos os lados. Nem todas as faixas estão colocadas e a água para ser servida no palanque oficial, bem como os refrigerantes, não tinham chegado ainda. Para aguentar toda a pressão e não podendo ser descortês com ninguém, o prefeito apelou para um providencial tranquilizante”, contava reportagem da época.
A matéria também narrou os impactos da visita na vida cotidiana. Sete casamentos previstos para ocorrer naquele dia foram desmarcados e os noivos tentavam encontrar consolo na possibilidade de ver o presidente. Servidores da Emater, por outro lado, preparavam uma manifestação contra a possível extinção da empresa.
![Na foto a cidade de Mombaça recepciona o presidente em exercício Paes de Andrade. Data: 26/02/1989](/static/diario/assets/images/blur.jpg)
Por volta de 9 horas, os céus de Mombaça foram cortados por onze aeronaves, sendo nove de pequeno porte e duas da Força Aérea Brasileira. O político, acompanhado dos aliados, seguiu direto para uma missa solene acompanhado de milhares de conterrâneos, além de lideranças políticas do Estado e as principais autoridades nacionais.
“Na igreja, alguns antigos correligionários de Paes arriscam um cumprimento, mas todos estavam felizes porque ‘Mombaça hoje é a capital do País’”, dizia a reportagem. À época, o presidente foi questionado e criticado sobre os custos envolvidos na viagem até o interior do Ceará para inaugurar uma agência bancária.
“Estou pagando tudo de meu bolso e não tem história de empresários políticos estarem patrocinando isso. Tudo o que for dito em contrário não é verdadeiro”.
![Visita do presidente em exercício Paes de Andrade chegando no Aeroporto da cidade de Mombaça. Data: 25/02/1989](/static/diario/assets/images/blur.jpg)
E mais: “Estou exercendo o cargo de presidente da República em toda sua plenitude e nunca vi matérias em jornais criticando viagens de outros presidentes interinos. Essa viagem tem um caráter todo especial para mim e minha família. Trata-se de uma viagem sentimental, de amor e reconhecimento àqueles que acompanham minha vida pública”, declarou Paes de Andrade.
Além da inauguração da agência bancária, houve ainda o anúncio da construção do açude Serafim Dias, uma demanda de quase 100 anos da população daquela região. “Vamos proceder a novos estudos, não para construirmos um açude de três milhões de metros cúbicos de água, mas para 42 milhões de metros cúbicos”, disse Paes sob aplausos dos conterrâneos.
![Visita do presidente em exercício Paes de Andrade a Mombaça. No detalhe, Paes de Andrade discursando no palanque. Data: 25/02/1989](/static/diario/assets/images/blur.jpg)
No discurso oficial, o presidente voltou a rebater a imprensa que constatava: quando o mombacense retornasse a Brasília, já não seria mais presidente – devido ao retorno de Sarney do Japão.
“Disse que todos os vice-presidentes que chegaram a assumir interinamente a presidência tinham empreendido esta viagem à terra natal. Chegou a destacar que uma viagem dessas era uma viagem do coração, uma forma de revigorar-se espiritualmente e ganhar nova inspiração. Encerrou seu discurso citando Clóvis Beviláqua, que quando visitou de certa feita sua terra, Viçosa do Ceará, proferiu: ‘A pátria grande, que a gente ama, não apaga a pátria pequena que adoramos’”, concluiu a matéria do Diário do Nordeste.
![Reportagem de fevereiro de 1989 do Diário do Nordeste](/image/contentid/policy:1.3279966:1663621209/Chegada.jpg?f=default&$p$f=38dbd31)
Além do discurso oficial em um trio elétrico, o político ainda visitou a casa de lideranças políticas da cidade. Horas depois, ainda naquele mesmo dia, Paes de Andrade retornou para Fortaleza, onde o avião da FAB pousou por volta de 15 horas. Dali, seguiu para Brasília, encerrando a primeira das mais de 10 vezes que assumiu a presidência da República e cravando de vez Mombaça na história da política brasileira.
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