Bolsa tem espaço para novos tombos por causa de declarações de Lula? – Mercado – Estadão E-Investidor – As principais notícias do mercado financeiro – E-Investidor

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O índice de referência da Bolsa de Valores brasileira fechou a quinta-feira (10) com um tombo de 3,35%, aos 109.775,46 pontos – o pior desempenho em um pregão desde 26 de novembro de 2021. No lado do câmbio, o dia também não foi positivo para o real, com alta de 4,14% ante o dólar e de 5,98% em comparação com o euro. O motivo para tal desempenho? Os receios com a política fiscal no novo mandato do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O presidente recém eleito compareceu ao Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) de Brasília, onde acontecem as reuniões da transição dos governos. Lá, declarou que a grande prioridade de seu mandato será acabar com a fome no País e que seguirá com as políticas sociais mesmo que isso signifique furar o teto de gastos.
Para Leandro Petrokas, diretor de research e sócio da Quantzed, casa de análise e empresa de tecnologia e educação para investidores, Lula disse “tudo o que o mercado não queria ouvir”. “O mercado trabalhava com a hipótese do governo Lula não ser tão radical à esquerda, mas o presidente mostrou um flerte com a irresponsabilidade fiscal. Então o mercado vendeu Bolsa, comprou dólar e o juro também estressou”, diz.

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Paulo Cunha, especialista em mercado financeiro e fundador da iHUB Investimentos, explica que o dia já havia começado difícil com a divulgação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de outubro, que trouxe a primeira alta depois de três meses de deflação. Segundo ele, as declarações de Lula ao longo do dia contribuíram para aumentar o mau-humor dos investidores.
“Várias outras coisas negativas foram acontecendo, como falas do próprio presidente Lula no evento, enquanto novos nomes começaram a surgir na equipe de transição, como Guido Mantega. A cereja do bolo foi o Meirelles sinalizando que ele mesmo já está pessimista”, destaca Cunha.

O ex-ministro Henrique Meirelles, que declarou apoio a Lula nas eleições e vinha sendo visto como uma possível ponte entre o petista e o mercado financeiro, disse em um evento privado no BTG Pactual que a postura do presidente eleito estava mais próxima das adotadas no governo Dilma Rousseff e terminou sua fala desejando “boa sorte” aos investidores brasileiros.
A transição política começou a apenas uma semana e já movimenta o País, inclusive o mercado financeiro. E, segundo os especialistas, até que as medidas do novo governo estejam claras os investidores podem esperar mais volatilidade. “O mercado vai continuar penalizando enquanto as coisas continuarem soltas”, diz Gustavo Cruz, estrategista na RB Investimentos.
Cruz explica que não basta só aprovar a Proposta de Emenda À Constituição (PEC) de Transição, em discussão em Brasília para abrir um espaço no Orçamento para acomodar a manutenção do Auxílio Brasil em R$ 600. Na visão do estrategista, a nova gestão precisa demonstrar como fará para contrabalancear o aumento de gastos com um novo arcabouço fiscal. “Tudo depende de como será a narrativa daqui para a frente”, afirma.
Nesta sexta-feira (11), por exemplo, os ânimos estavam mais calmos. Apoiado na melhora do cenário internacional, o Ibovespa tinha alta de 1,20% aos 111.089,75 às 12h03. No mesmo horário, o dólar caía 1,74% a R$ 5,30, enquanto o euro tinha queda de 0,74% a R$ 5,45.
Até que o cenário seja de maior clareza, investidores devem acompanhar as discussões com atenção. Mas sem tomar decisões precipitadas, orienta Mario Goulart, analista de investimentos e criador do perfil “O Analisto”. “Para quem está comprado, deixa quieto e vamos ver o que vai acontecer”, diz. “Declarações desse tipo geram um certo pânico no mercado, porque é uma sinalização negativa, mas sabemos também que as coisas sempre tendem à racionalidade. Os fundamentos continuam os mesmos”, explica.
Lana Santos, especialista de renda variável da Acqua Vero Investimentos, concorda que o momento é de cautela. “Para quem já tem posição em renda variável, é preciso buscar uma certa proteção, porque poderemos ver mais quedas ou altas dependendo do que ele (Lula) sinalizar. Tudo vai depender do que ele falar nesse período, as nomeações de ministros, esse momento de transição traz muita volatilidade para o mercado devido a tanta incerteza”, afirma.

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