Bolsonarismo deu recado pra Bolsonaro: o governo Lula pode ser … – Jornal Opção

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12/01/2023
09 janeiro 2023 às 10h42
Não se brinca com aqueles que põem fogo na história. Porque colocam uma vez, duas vezes e, até, várias vezes.
Quando o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (agora, legitimamente, afastado; seu pedido de desculpas o incriminou), do MDB, indicou um bolsonarista para a Secretaria de Segurança Pública — Anderson Torres, policial federal e ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro —, o cheiro de fumaça foi sentido alhures, do Chuí ao Oiapoque, mas não foi percebido pelo ministro da Justiça, pelo diretor da Polícia Federal e pelo chefe da Abin.
Ibaneis Rocha, bolsonarista, nomeou um bolsonarista. E tudo bem? Em tese, sim. Porque o Brasil é democrático e um governador indica quem quiser, mesmo uma pessoa que responde a processos e é investigada em inquéritos.
Então, tudo bem? Que nada. Tudo mal. Se o governo Ibaneis Rocha não sabia o que poderia acontecer, e acabou ocorrendo, é sinal de incompetência? O mais provável é que alguém importante, mesmo sabendo da possibilidade de extrema violência, optou por não informar sobre o que estava sendo sendo planejado por pessoas relativamente hábeis, que manejaram os cordões muito bem e, depois, ficaram à distância, assistindo o circo pegar fogo, literalmente. Há há indícios de que a invasão do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal tenha sido orquestrada por gente bem informada e articulada.
Que os setores de informação do governo de Lula da Silva não tenham percebido os sinais de fumaça — revelando o amadorismo dos nefelibatas — é altamente preocupante. Nos últimos dias, ministros do governo Lula da Silva falaram muito, até demais, mas, quiçá embevecidos com o poder e com a cobertura favorável da imprensa, esqueceram aquilo que quem está no poder (e mesmo fora dele) não pode esquecer jamais: a realidade real, o que está de fato acontecendo.
Ante a radicalização do bolsonarismo, que criou milícias políticas nacionais — talvez paramilitares —, todo cuidado é pouco. Mas cuidado, aparentemente, é o que não teve o governo do PT. O ministro da Justiça, Flávio Dino, é competente, tem boa formação jurídica, mas me parece perdidão, ante questões reais. Quando era mais do que óbvio que Ibaneis Rocha deveria ser afastado — o ministro do STF Alexandre Moraes tomou a decisão correta —, o político maranhense o defendeu publicamente, numa entrevista coletiva. Deu a impressão de não ter uma compreensão precisa da gravidade dos acontecimentos e da relativa leniência de Ibaneis Rocha e Anderson Torres. Flávio Dino precisa entender que, ante fatos graves, bonomia em excesso às vezes é defeito.
Não se pode acusar o governo de Lula da Silva pelos acontecimentos. Porque é vítima. Mas deve ser criticado, isto sim, por não ter percebido os intensos sinais de fumaça. Faltou realismo aos petistas e aos seus aliados (alguns deles bolsonaristas, diga-se). Portanto, a culpa do governo do PT, se se pode falar em culpa, é grave, mas no sentido de que parece que não está percebendo os “tumores” e “humores” do bas-fond do país.
Tudo indica que há brigadas paramilitares — e, quem sabe, armadas — que vão precisar ser combatidas com extremo rigor. O bolsonarismo, tudo indica, criou um sistema, perigoso e orgânico, de milicianos. Quem olha de fora, sem se envolver nas minúcias, pode até pensar que um movimento espontâneo de repente explodiu. Não houve nada disso. Há organização e planejamento, possivelmente. Há inocentes-úteis, como em qualquer movimento, mas há cabeças, grupos pensantes, instalados no meio da multidão. São guias. E há, claro, os agentes financiadores dos movimentos e ações contra a democracia, que, ante a gravidade dos fatos, precisam ser investigados, denunciados e, em alguns casos, presos.
Tenho a impressão de que os paramilitares do bolsonarismo — só não tenho certeza se estão indo armados para as ruas (mas, quando algum é preso, logo são apreendidos fuzis, rifles, pistolas em suas casas etc.) — querem produzir “mortes”. Entre eles mesmos. Querem uma justificativa para um movimento de maior envergadura, com mártires — “mortos” pelas polícias dos supostos “comunistas” —, para tentar galvanizar apoio nacional. Querem criar “vítimas nacionais”, ou seja, vítimas “patriotas”, pessoas embandeiradas. Felizmente, não morreu ninguém, de nenhum lado.
A rigor, o que faltou no “golpe” de 8 de janeiro de 2023, num domingo (dia mais tranquilo, portanto adequado para ações violentas) —, não foram golpistas, que compareceram em grande quantidade e dispostos a tudo, tanto que, numa ação extremamente ousada, invadiram dependências dos três poderes que são pilares da democracia e as vandalizaram. Bêbados de direitismo, atletas do caos, os terroristas — não devem ser tratados como cidadãos (estes retiram os políticos dos quais não gostam por intermédio do voto) — não demonstraram medo algum. Ante a falta de um poder, ativo e reativo, fizeram o que quiseram. E nem fugiram. Não se intimidaram. Quem se intimidou foi a Polícia Militar. Os militares foram omissos. Foram, é claro. Mas, ante a quantidade de vândalos, talvez tenham pensado em salvar a própria pele. Imagens mostram um policial (e seu cavalo) sendo agredido pelos terroristas sem que nenhum militar — ou um cidadão de bem — aparecesse para defendê-lo.
O que os terroristas querem, de fato, é um golpe de Estado que deponha Lula da Silva — um democrata, vale frisar, e que nada tem a ver com comunismo — e recoloque no poder Jair Bolsonaro, que não foi eleito.
Os jornais e as emissoras de televisão falam em “tentativa de golpe” e em “golpistas”. Ora, os golpistas praticamente tomaram o poder, ao invadir, violenta e alegremente, o Supremo Tribunal Federal, o Palácio do Planalto (chegaram à porta do gabinete do presidente Lula da Silva) e o Congresso Nacional. Avacalharam tudo, e não foram combatidos com a devida energia.
O que realmente faltou para o golpe ser bem-sucedido? A presença do líder golpista. Jair Bolsonaro viajou para os Estados Unidos não para descansar, e sim por receio de ser preso. Ele só voltará se perceber que não há ambiente para a prisão. Seus aliados deram um golpe — só não assumiram o poder — para mostrar para Bolsonaro que há ambiente para uma derrubada do presidente Lula da Silva, sobretudo que sua queda pode ser mais fácil do que se imagina. O recado do bolsonarismo parece claro e meridiano: o governo petista pode ser defenestrado.
Por fim, ao afastar Ibaneis Rocha, o ministro Alexandre Moraes demonstrou muito mais experiência, inclusive política, do que Flávio Dino e Lula da Silva (que pediu o afastamento apenas do preposto, Anderson Torres). O membro do Supremo Tribunal Federal percebeu, com nitidez, que, se não agir duramente contra os golpistas — os articuladores e os financiadores —, eles não poderão ser contidos. As multas altas têm a ver com isto. Os terroristas das ruas são controlados, como marionetes ativos, por pessoas endinheiradas, com advogados do primeiro time. Os das ruas precisam ser presos, devem responder a processos e indenizar o Erário pelos estragos feitos. Mas é preciso prender também, e sobretudo, aqueles que, mesmo perdendo eleições, se julgam os donos do poder.
Mas o que Bolsonaro realmente quer? É provável que está mandando um recado: não mexam na minha “caixa-cinza”…
No Caminho com Maiakóvski
Eduardo Alves da Costa
Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.
Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.
Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne a aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.
Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.
E por temor eu me calo,
por temor aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita – MENTIRA!
Só numa república de bananas importa saber a opinião política…
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