Bolsonaro corta liderança de Lula e batalha por Minas esquenta – Yahoo Finanças

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(Bloomberg) — Na cobertura onde Rosangela Cosenza reúne a família nos fins de semana e feriados em Belo Horizonte, conversas e risos correm por uma grande sala de estar. Com pão de queijo e xícaras de café, três gerações se amontoam em sofás conversando sobre parentes e amigos.
Ultimamente, no entanto, tudo é política, enquanto o país de 215 milhões de habitantes se prepara para escolher, em 30 de outubro, entre o presidente Jair Bolsonaro e seu oponente, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para Rosângela, a escolha não poderia ser mais clara: “A única situação em que eu deixaria de falar com um parente é se ele votasse em Bolsonaro”.
A poucos quilômetros dali, no luxuoso apartamento de Sérgio e Maria Helena Botrel, com vista panorâmica da cidade, fala-se também de política. Lá, a preocupação é Lula, que é visto como um corrupto da esquerda que deve ser mantido fora do cargo a todo custo. “Ele seria um desastre”, diz Sergio.
A cidade onde as duas famílias moram é a capital de Minas Gerais, estado obrigatório nas eleições brasileiras. Desde a redemocratização, há quatro décadas, nenhum candidato perdeu Minas e conquistou a presidência. É onde profissionais de marketing e pesquisadores – e candidatos – passam seu tempo.
Centenas de quilômetros ao norte do Rio de Janeiro e São Paulo e tão grande quanto a Espanha, divide o Brasil ao meio. O norte é pobre e abraça Lula por seus programas de assistência social. O sul e o oeste abrigam grandes mineradoras e metalúrgicas, redutos de Bolsonaro.
O que mais se destaca nessa eleição é o medo do adversário. Quase metade dos eleitores está mais preocupada em derrotar o outro candidato do que em eleger o seu, de acordo com Felipe Nunes, chefe do instituto de pesquisa Quaest, de Belo Horizonte.
No feriado de 12 de outubro, na casa da família Cosenza, que pendura uma bandeira com o retrato de Lula na janela, Rosangela, uma assistente social aposentada de 70 anos, seu marido, um médico, suas três filhas, seus cônjuges e netos não pararam de expressar repulsa por Bolsonaro.
“Ele é racista, homofóbico e machista”, insistiu a neta Maria Eduarda, estudante de direito de 19 anos. Ela vem conversando com seus colegas, muitos deles bolsonaristas, e se orgulha de dizer que ganhou pelo menos um voto ao focar não na ideologia, mas na integridade pessoal. “Esta eleição não é sobre apoiar a esquerda ou a direita”, ela tem dito a seus colegas. “É sobre caráter e democracia.”
Sua mãe, Rafaela, colocou a questão de forma sucinta: “Voto em qualquer um que não seja Bolsonaro”.
A família Botrel, que cobriu suas paredes com bandeiras brasileiras para o primeiro turno e vestiu a camisa amarela da seleção brasileira de futebol, tem uma visão marcadamente diferente.
“O Brasil teve que quebrar um esquema de corrupção”, disse Botrel, 71, engenheiro que vendeu sua construtora. “Bolsonaro foi o homem para fazer isso. Ele não é uma pessoa sofisticada e fala grosseiramente. Concordo com isso. Lula tem ideias retrógradas. Ele quer que o Estado resolva todos os problemas da nação.”
A aposta mineira pende um pouco para Lula que, no primeiro turno, levou 48% dos votos contra 43% de Bolsonaro tanto no estado quanto no país. A corrida se acirrou, porém, com as últimas pesquisas do estado mostrando algo como 50-48 para Lula. E a derrota de Lula no primeiro turno em São Paulo fez com que sua campanha fosse reiniciada urgentemente.
Nunes explica que a razão pela qual todos estão focados no estado é que praticamente “tudo, de sabonete, xampu e loções à música, é testado primeiro em Minas”. O estado é um microcosmo da nação.
É também o estado onde Bolsonaro, 67, foi esfaqueado por um homem mentalmente instável em um evento de campanha há quatro anos. Bolsonaro, ex-capitão do exército e defensor do livre mercado de armas, quase morreu antes de ganhar a presidência.
Bolsonaro se tornou conhecido internacionalmente por minimizar a pandemia da Covid-19 – se recusou a ser vacinado e raramente usava máscaras – e por sua política para o meio ambiente, que aumentou o desmatamento da Amazônia.
Ele atacou o judiciário, a academia e a mídia nos mesmos moldes que seu aliado, o ex-presidente Donald Trump. E, como Trump, afirmou que, se perder, será devido a fraudes e manipulação das urnas, não à vontade popular.
Lula, de 76 anos, é a favor da redistribuição de terras e renda para combater a desigualdade e diz que vai trabalhar para preservar o meio ambiente. Ele não questiona a integridade do sistema eleitoral. Passou um ano e meio na prisão pelo papel que ele e seu Partido dos Trabalhadores desempenharam no escândalo de corrupção apontado na operação Lava Jato. E embora sua condenação tenha sido derrubada pelo Supremo Tribunal Federal, muitos ainda o veem como inescrupuloso.
Como disse Botrel, “provavelmente há corrupção neste governo, mas nada se compara ao que vimos em governos de esquerda. Acho um absurdo que Lula esteja concorrendo à presidência”.
A política eleitoral em Minas também manifesta uma cisão entre preocupações locais e nacionais. O estado acaba de reeleger o governador Romeu Zema, um rico empresário e recém-chegado político apoiado por Bolsonaro. Sua campanha projetou a imagem de um trabalhador humilde colocando sua casa em ordem após um mandato impopular de um ex-governador do Partido dos Trabalhadores Fernando Pimentel.
Auxiliado por grandes repasses do governo federal no auge da Covid-19, Zema pagou salários atrasados ​​a servidores públicos, reduziu gastos públicos e retomou os repasses da arrecadação estadual para os municípios.
Durante a pandemia, quando Bolsonaro atacou as vacinas, Zema se afastou do presidente e o fez novamente durante o primeiro turno da campanha. Como o presidente se saiu melhor do que o esperado e agora que Zema venceu, volta a abraçá-lo publicamente.
“Meu trabalho é dizer a Minas Gerais que um governo liberal será muito melhor para o Brasil do que o desastre passado do Partido dos Trabalhadores”, disse ele à Bloomberg em entrevista em seu escritório em Belo Horizonte, vestindo sua roupa de trabalho habitual – uma camisa com a bandeira do estado no peito.
Zema reconhece que Lula está à frente e diz que vem tentando explicar a Bolsonaro que mineiros não gostam dos discursos agressivos que costuma fazer. Mineiros, segundo ele, são desconfiados e cautelosos: “Se fôssemos um país, seríamos a Suíça”.
Para quem lembra dos anos de Lula na presidência, de 2003 a 2010, como ambiciosos, e alimentados por um superciclo das commodities, é surpreendente saber que em Minas ele é considerado o candidato da contenção e modéstia.
Essa é a visão de Renato Meirelles, especialista em tendências de comportamento. É natural, disse ele, que mineiros votem em um moderado e, nesta eleição, Lula é esse candidato.
O setor industrial mineiro está principalmente do lado de Bolsonaro. A política econômica do presidente foi bem sucedida, diz Flávio Roscoe, presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg).
O ambiente de negócios do país melhorou e o PIB industrial de Minas Gerais superou o nacional em 2021: 10% contra 4%, segundo Roscoe, cujo nome tem sido citado como potencial ministro da Indústria caso o presidente seja reeleito.
Roscoe disse que a Fiemg fez um estudo mostrando que o Brasil pode perder 5 milhões de empregos e 5% de seu PIB se Lula seguir promessas de campanha como reverter a atual reforma trabalhista, acabar com a regra do teto de gastos e suspender o programa de privatizações.
Na família pró-Lula Cosenza, isso é visto como o tipo de difamação que afetou até alguns deles quando Lula foi condenado por corrupção.
Marcela, 46, advogada e funcionária pública, é a mais apaixonada nesse quesito. Ela diz que ficou profundamente decepcionada em 2005, quando os aliados políticos de Lula foram acusados ​​de comprar votos para aprovar projetos de lei no Congresso. “Eu briguei com minha mãe naquela época e disse que nunca mais votaria em Lula”, disse ela. Mas não havia provas de que Lula estivesse diretamente envolvido, disse Marcela, e depois de quatro anos de Bolsonaro, fica claro qual é o lado certo.
A família diz que se sente isolada em seu círculo social porque a maioria das pessoas ao seu redor apoia Bolsonaro. São sócios do Minas Tênis Clube, onde se reúne a alta sociedade de Belo Horizonte. Ultimamente, a família tem se afastado. “Muitos bolsonaristas”, diz Rafaela.
Botrel, o engenheiro, que pertence ao clube e é seu diretor de marketing, vai votar sim em Bolsonaro, mas porque é a única maneira de derrotar Lula. Questionado se se considera bolsonarista, ele disse que não, é apenas eleitor de Bolsonaro.
Sua esposa Maria Helena, designer de interiores, está mais entusiasmada. Foi ela quem decorou o apartamento com bandeiras brasileiras para o primeiro turno da eleição e fez com que todos da família vestissem a camisa amarela da seleção.
Em uma rua movimentada no centro de Belo Horizonte, os brindes de campanha de ambos os candidatos são exibidos com destaque em uma loja chamada Tem de Tudo. Toalhas, camisetas e bonés de ambos os candidatos estão pendurados lado a lado.
Simone Andrade, 48, está lá para vendê-los, vestindo um sorriso e uma camiseta roxa neutra. Quando questionada, ela diz que seu candidato é Bolsonaro porque os bloqueios pandêmicos, pressionados pelo Partido dos Trabalhadores, foram ruins para os negócios.
Dito isso, os produtos de Lula são mais procurados. Durante uma visita de 15 minutos, apenas as lembrancinhas de Lula foram vendidas. Simone diz ter noção do rumo da eleição em Minas pelo que vê em sua loja.
Algumas pessoas não compram nada, ela disse: “Eles simplesmente vêm e beijam ou batem nas toalhas e seguem em frente”. A maioria dos beijos, ela disse, tem sido em Lula.
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©2022 Bloomberg L.P.
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