Bolsonaro dará uma banana ao Brasil ao fugir com medo da posse … – UOL Confere

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em países como Timor Leste e Angola e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). Diretor da ONG Repórter Brasil, foi conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão (2014-2020) e comissário da Liechtenstein Initiative – Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos (2018-2019). É autor de “Pequenos Contos Para Começar o Dia” (2012), “O que Aprendi Sendo Xingado na Internet” (2016), ?Escravidão Contemporânea? (2020), entre outros livros.
Colunista do UOL
29/12/2022 10h51
Uma fuga de Jair Bolsonaro para a Flórida antes da posse de Lula marcará o fim do seu mandato com duas doses de covardia: uma por não reconhecer a vitória do sucessor, outra por temer ser responsabilizado por eventuais atos de violência que seus seguidores cometam no Primeiro de Janeiro.
Ou seja, a prioridade é proteger o próprio pescoço. O Brasil, vítima de terrorismo de seus seguidores que não aceitam o resultado da eleição, que precisaria de um estadista que abaixasse a fervura que ele mesmo criou? Que se exploda.

Dessa forma, a cena do atual presidente decolando com um avião da Força Aérea Brasileira rumo a Orlando soará como a banana dada ao país pelo personagem mau-caráter Marco Aurélio, vivido pelo ator Reginaldo Faria, na icônica novela Vale Tudo, transmitida pela Rede Globo entre 1988 e 1989. O empresário também fugiu do país em um avião no fim da novela.
Tanto Jair quanto Marco Aurélio presentearam os brasileiros com declarações amorais. E se o personagem fictício que parece real era acusado de montar esquemas para desviar recursos em benefício próprio, o mesmo pode ser dito do personagem real que parece fictício e as denúncias de desvios de recursos públicos e de lavagem de dinheiro através da compra de 51 imóveis usando dinheiro vivo.
Aliás, a Era Bolsonaro foi uma grande Vale Tudo. O fato da atriz Regina Duarte, que viveu Raquel Accioli, mãe da gloriosa Maria de Fátima (desculpe o trocadilho), estar na mesma novela política de Marco Aurélio, digo, Jair, ao ter assumido a Secretaria Nacional de Cultura, ajuda deixar mais tênue o limiar entre ficção e realidade. Além disso, a esposa de Reginaldo Faria era interpretada por ninguém menos que Cássia Kiss, que hoje se tornou habitué de manifestações golpistas e ícone da extrema direita religiosa.
E ainda há quem diga que o ministro da Economia, Paulo Guedes, nunca gostou muito de pobre, como a vilã Odete Roitman – da genial Beatriz Segall. E que o ex-ministro das Comunicações, Fabio Faria, caso despachasse de sunga, seria uma nova versão de César, disposto a tudo para vencer, interpretado por Carlos Alberto Riccelli.
A novela veio a público quando o Brasil vivia um momento turbulento de sua história, em meio a uma Assembleia Constituinte que tentava refundar a democracia após 21 anos de uma ditadura de rapina dos verde-olivas e seus apoiadores parasitas da iniciativa privada.
A Nova República estava dando os primeiros passos, em maio de 1988, quando a novela veio ao ar pela primeira vez. Hoje, a Nova República está sendo velada de corpo presente após o contexto que deu sustentação à retomada democrática ter chegado ao fim nas eleições de 2018.
Durante o mandato de Bolsonaro, as instituições que levaram três décadas para serem construídas foram se esfacelando em praça pública, atacadas pelo próprio governo. Instrumentos de controle como setores da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal, da Procuradoria-Geral da República, do Coaf, da Receita Federal, da Funai, do Ibama, entre outros, foram se dobrando às necessidades presidenciais.
“Vale a pena ser honesto no Brasil?” era a grande pergunta da novela. A reflexão sobre a atualidade dessa questão deve ser feita à luz das tantas denúncias de que o presidente usou a coisa pública para o seu interesse privado, cultivando mortos e famintos, e, ainda assim, teve 49,1% dos votos.
Da tentativa de indicar seu próprio filho ao cargo de embaixador nos EUA (“Pretendo beneficiar um filho meu, sim“), passando pelos gritos exigindo dobrar a PF às suas necessidades na reunião ministerial de 22 de abril de 2020 e pela indicação de amigos pastores que cobraram propina em barras de ouro no Ministério da Educação até o uso da Polícia Rodoviária Federal para impedir que eleitores de Lula chegassem às urnas no segundo turno, Bolsonaro respondeu várias vezes a essa pergunta.
“Você precisa fazer um personagem fascista para que as pessoas entendam o que significa o fascismo”, disse Reginaldo Faria, em uma entrevista ao jornal Extra, em 2015.
O problema é que o Brasil produziu um presidente fascista. E muitos se reconheceram nele, sonhando também em dar uma banana ao seu país.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL
Leonardo Sakamoto
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