Bolsonaro, o crepúsculo de um ninguém. Por Carlos Fernandes – Diário do Centro do Mundo

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É, na verdade, uma não notícia. Mas termos que lidar com a informação de que o ainda atual presidente em, digamos, “duvidoso-exercício” está com claros sintomas de depressão é daquelas coisas que se situa entre o trágico e o cômico.
Trágico porque queira-se ou não é o homem que, acreditem os mais céticos, ainda governa o país oficialmente e que encontra-se em profundo estado de letargia que – diga-se de passagem, também em benefício de nossa tragédia particular – acaba por ser muito melhor do que qualquer outra coisa que tenha feito nos seus momentos de maior, vá lá, atividade.
E cômico porque desnuda de vez a real dimensão de um sujeito limítrofe, tacanho, medíocre e incapaz inadvertidamente chamado de “mito”, unicamente explicado na presidência da República por um desastre civilizatório democrático que muito mal ainda haverá de nos causar.
Mas o fato é que resumido-se tão somente a isso essa não notícia, o que nos sobra é a comparação inevitável do nosso atual presidente com o seu sucessor, esse sim, já em exercício.
E para que se fique claro, antes de qualquer coisa aqui definitivamente não quero minimizar nem tampouco menosprezar os limites psicológicos de qualquer ser humano frente às suas angústias particulares. Mas, de novo, a comparação nos é inevitável.
Jair Bolsonaro simplesmente abandonar por completo as funções inerentes ao mais alto e importante cargo do Brasil no qual ora é ocupante simplesmente porque não sabe lidar com uma derrota eleitoral é só mais uma prova do erro tamanho de sua própria eleição.
Se ladeado com o fato de que Lula precisou amargar três derrotas consecutivas sem qualquer reclamação em relação às eleições só para chegar ao seu primeiro mandato presidencial, a coisa fica ainda mais caricata.
Se ainda nos é dado incluir tudo o mais a que foi preciso passar para chegar a esse momento de sua vida, temos enfim a diferença gritante entre um homem de Estado ciente de seu papel na história e um homem de ocasiões erradas completamente perdido na alegoria que lhe foi irresponsavelmente oferecida.
Mas para que não nos acuse de inocência e/ou simplificação, claro também está que a derrota recente não explica sozinha o estado deplorável de ânimo em que o atual presidente se encontra.
O ano da esperança para pelo menos 60 milhões de brasileiros que votaram em Lula é também e por consequência o ano da desesperança para o clã Bolsonaro.
O que espera o atual mandatário do país em 2023 contempla os piores pesadelos de um sujeito que passou a vida entoando o mantra de que “bandido bom, é bandido morto”.
Atolado em denúncias criminais de toda ordem, o fim do seu foro privilegiado, muito mais do que o fim de seu mandato presidencial, ainda que para as atuais circunstâncias uma coisa esteja diretamente ligada a outra, é o que dá sentido plausível aos seus maiores medos.
Bolsonaro, em frontal disparidade com Lula, não possui envergadura moral nem firmeza de espírito para passar um único mísero dia na prisão ainda que fosse, a exemplo do próprio Lula, ilegalmente.
A depressão que Bolsonaro ora vive, justiça lhe seja feita, tem razões bem tangíveis de ser.
A expectativa cada vez mais próxima de ver o sol se pôr quadrado é, segundo uma má analogia, o crepúsculo merecido para o verdadeiro ninguém que é, e que assim deve ser tratado.

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