Bolsonaro quebra o silêncio e diz que reclusão "dói na alma" – DW (Brasil)
Após ficar 37 dias sem se pronunciar publicamente, presidente falou com apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada. Mandatário não reconheceu derrota no pleito de outubro, elogiou as Forças Armadas e admitiu "erros".
Trinte e sete dias. Foi o tempo que o presidente Jair Bolsonaro ficou sem dar declarações públicas. Nesta sexta-feira (09/12), ele quebrou o silêncio e falou por cerca de 15 minutos a apoiadores em frente ao palácio da Alvorada, em Brasília.
Na declaração, ele disse que a reclusão “dói na alma” e que “quem decide para onde vão as Forças Armadas, a Câmara e o Senado” é o povo.
“Estou praticamente há quarenta dias calado, não é fácil. Dói, dói na alma. Sempre fui uma pessoa feliz no meio de vocês, mesmo arriscando minha vida no meio do povo, como arrisquei em Juiz de Fora em setembro de 2018”, disse, lembrando a facada que levou durante a campanha eleitoral quatro anos atrás.
Bolsonaro fez as declarações acompanhado do ex-ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, e do ex-ministro do Turismo, Gilson Machado, pouco depois da derrota do Brasil para a Croácia nos pênaltis, pela Copa do Mundo do Catar.
“Hoje, estamos vivendo um momento crucial, uma encruzilhada. Quem decide o meu futuro são vocês, quem decide para onde vão as Forças Armadas são vocês, quem decide para onde vai a Câmara e o Senado são vocês”, afirmou Bolsonaro.
O atual mandatário, mais uma vez, não reconheceu abertamente a sua derrota nas urnas e nem parabenizou o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. No entanto, assumiu a responsabilidade por “erros” – que não especificou – e pediu a seus apoiadores para não o criticarem “sem saberem tudo o que está acontecendo”.
“As decisões, quando são exclusivamente nossas, são menos difíceis e menos dolorosas. Mas quando elas passam por outros setores da sociedade são mais difíceis e devem ser trabalhadas. Se algo der errado é porque eu perdi a minha liderança. Eu me responsabilizo pelos meus erros. Mas peço a vocês: não critiquem sem ter certeza absoluta do que está acontecendo”.
O presidente também aproveitou a oportunidade para elogiar o papel das forças armadas, “o último obstáculo para o socialismo” e a “grande responsável pela liberdade”.
“Não é fácil você enfrentar todo um sistema. A missão de cada um de nós não é criticar, é unir. Muitas vezes, vocês têm informações que não procedem. Pelo cansaço, pela angústia e pelo momento, passam a criticar. Tenho certeza, entre as minhas funções garantidas na Constituição, é ser o chefe supremo das Forças Armadas”, afirmou.
Também disse estar do “lado da verdade, honestidade, respeito pela família e liberdade de expressão e religião” e que “o Brasil estava pronto para dar um salto”, mas que “ninguém esperava” a vitória de Lula “em condições normais”.
“Eu dou a minha vida pelo meu país (…) Podemos mudar o futuro da nossa nação”, disse Bolsonaro. “Vamos acreditar, vamos nos unir, vamos procurar alternativas e deixar que todos vejam o que podem fazer pelo nosso país”, disse.
Bolsonaro também elogiou os manifestantes que permanecem o apoiando em frente a quarteis. “Vocês estão se manifestando de acordo com as nossas leis. Vocês são cidadãos de verdade. Está na hora de parar de ser tratado como outra coisa aqui no Brasil”.
Sem apresentar qualquer prova de fraude, Bolsonaro e alguns apoiadores seguem contestando o resultado do segundo turno.
O PL, partido de Jair Bolsonaro, chegou a pedir a anulação dos votos registrados em 279 mil urnas usadas na segunda rodada da votação. O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, negou o pedido e condenou o partido ao pagar uma multa de R$ 22.991.544,60, por litigância de má-fé.
Desde que perdeu o segundo turno para Lula, Bolsonaro diminui as aparições públicas e a agenda oficial e não realizou mais lives semanais nas redes sociais.
Após a derrota, havia se pronunciado publicamente uma única vez, em 2 de novembro, dois dias após perder para Lula, em um vídeo pedindo que os manifestantes contrários a sua derrota liberassem as rodovias.
Apesar de ter participado de alguns poucos eventos públicos, o presidente não tem falado com a imprensa. Na segunda-feira, ele esteve em uma apresentação de oficiais das Forças Armadas, quando foi filmado chorando.
le (ots)