Brasil, Suíça e uma Pousada de Memórias – O POVO
Futebol nunca foi uma paixão para a família Rüegg, brasileiros com ascendência suíça que vivem em Fortaleza. A partida entre a seleção nacional e a europeia, contudo, foi simbólica para Dominique e Lorena, que pela primeira vez assistiram a um jogo de Copa do Mundo sem a presença do pai, Walter Rüegg, que morou na Capital por 32 anos, até a morte, em setembro passado.
Segundo Ana Maria Batista, 66, cearense viúva do suíço, Walter preferia correr sem uma bola. A verdadeira paixão dele era a Pousada do Suíço, estabelecimento que “criou e cuidou” na Terra do Sol.
Nascido em Kaltbrunn, comuna suíça, em 1956, Walter era viajante e aventureiro e rodou o mundo aos 19 anos, quando desembarcou no porto de Santos (SP) e se apaixonou pelo “calor” do Brasil. Mas foi somente em 1990, aos 34, que conheceu Fortaleza e a mulher que prometeu ser sua noiva ainda sem ela saber, conforme cochichou com o amigo compatriota, que depois revelou a história, bastante conhecida pelos amigos da família.
A pousada, que já foi lar deles durante cinco anos, estava decorada com as bandeiras de Brasil e Suíça, em alusão à partida na Copa do Mundo, e pronta para transmitir aos hóspedes, que variavam entre brasileiros e suíços; esses últimos, em geral, são amigos de Walter, que também se encantaram com o verão da capital cearense, em contraste com o inverno europeu.
Embora não fosse fã de futebol, ver a Suíça jogar na Copa do Mundo era motivo de orgulho para Walter, que cantava e vibrava nos jogos da seleção europeia. Assim como o pai, Dominique e Lorena não são fanáticos pelo esporte, mas colecionam memórias afetivas do clima do Mundial com ele. Nascidos em Fortaleza, ambos não escondem: são torcedores da seleção brasileira, mas simpatizam com a Suíça.
E foi em um jogo da Amarelinha que Lorena, a mais velha, pela primeira vez teve a oportunidade de acompanhar uma partida de futebol diretamente no estádio. Na Arena Castelão, ela, junto do pai, assistiu ao empate sem gols entre Brasil e México pela Copa do Mundo de 2014. Apesar do resultado fora do esperado, a filha do suíço não esquece da empolgação e ansiedade que viveu naquele dia.
Caçula, Dominique também viveu momentos marcantes com o pai naquela edição de Copa. Os dois acompanharam o empate entre Alemanha x Gana (2 a 2) e a vitória histórica da Costa Rica sobre o Uruguai (3 a 1), ambos no Gigante da Boa Vista.
O Brasil venceu a Suíça por 1 a 0 em jogo difícil. O gosto da vitória, entretanto, não foi o mesmo para os filhos de Walter, que desta vez não contaram com as provocações do pai, que costumava ser “do contra”, para irritá-los de maneira descontraída.
Ainda que Ana Maria, Lorena e Dominique não estiveram presencialmente com Walter nesta edição de Copa do Mundo, acompanhar as partidas do Brasil no Mundial no local já virou uma forma de conservar as memórias dele, tendo em vista que a Pousada do Suíço será frequentada pelas próximas gerações dos Rüegg como uma forma de eternizá-lo.
Em dezembro, Walter e Ana Maria completariam 30 anos de casamento, não fosse o falecimento por morte súbita, em setembro. E mesmo que não alcançaram os 50 que ele prometera, os dois jamais deixarão de estar conectados enquanto a Pousada do Suíço estiver funcionando.
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