Campanha de Bolsonaro faz de tudo para perder eleição. Desistiram do voto? – UOL Confere

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Ricardo Kotscho, 72, paulistano e são-paulino, é jornalista desde 1964, tem duas filhas e 19 livros publicados. Já trabalhou em praticamente todos os principais veículos de mídia impressa e eletrônica. Foi Secretário de Imprensa e Divulgação da Presidência da República (2003-2004). Entre outras premiações, foi um dos cinco jornalistas brasileiros contemplados com o Troféu Especial de Direitos Humanos da ONU, em 2008, ano em que começou a publicar o blog Balaio do Kotscho, onde escreve sobre a cena política, esportes, cultura e histórias do cotidiano
Colunista do UOL
27/10/2022 20h57Atualizada em 27/10/2022 20h57
Jair Bolsonaro (PL) é um candidato tão completo que não precisa de inimigos nem de aliados.
Depois de uma breve trégua de sensatez na passagem do primeiro para o segundo turno, em que não reclamou da derrota nem das urnas eletrônicas, de uma semana para cá o presidente e seu “comitê da reeleição” protagonizaram escândalos e trapalhadas em série.

Com qual objetivo? Será que desistiram de disputar a eleição no voto, que está difícil de reverter, e resolveram investir tudo no plano B, que já foi o plano A, para ganhar a eleição no grito e na marra, criando factoides para tumultuar o processo eleitoral e deixar todo mundo inseguro na hora de votar?
O conjunto de crises enfrentado pela campanha neste momento foi todo criado pelo presidente e seus devotos apoiadores. Não podem culpar a oposição, a Justiça Eleitoral, a mídia, o Xandão e as ONGs comunistas de olho na Amazônia.
Estava tudo indo mais ou menos bem, com Bolsonaro recuperando alguns pontinhos nas pesquisas, quando ele mesmo resolveu falar sobre o caso das venezuelanas, sem ninguém lhe perguntar, um caso de dois anos atrás, quando ele “sentiu um clima” ao ver crianças de 13, 14 anos muito bem arrumadas num sábado de manhã, em Brasília, insinuando que eram garotas de programa, tão bonitas que o fizeram interromper seu passeio de moto.
Para abafar o caso, vazaram os “planos econômicos” de Paulo Guedes para ferrar os trabalhadores e aposentados no segundo mandato, e cortar verbas da educação e da saúde, tudo para agradar o centrão e garantir verbas para o orçamento secreto.
Ainda se falava disso quando surgiu um estranho “atentado” contra a comitiva de Tarcísio de Freitas, o candidato bolsonarista em São Paulo, em que apareceu um agente secreto da Abin a serviço da campanha. Na troca de tiros, uma pessoa morreu. Ao tentar abafar o caso, obrigando um cinegrafista a apagar as imagens, deram corda a mais um escândalo de fabricação própria.
Na sequência, Roberto Jefferson, o fiel Bob Jeff, também resolveu dar sua contribuição à campanha, dando 50 tiros de fuzil e detonando três granadas contra policiais federais que o foram prender no domingo. Com a intervenção direta do presidente, as negociações duraram o dia inteiro e ocuparam o noticiário na segunda-feira.
Apenas 24 horas depois, dois integrantes da ala de criação do comitê da reeleição (as outras duas são a militar e a política), o ministro Fabio Faria e o ex-secretário Fábio Wajngarten convocaram toda a imprensa para anunciar uma “denúncia-bomba” que fariam em pleno Palácio da Alvorada.
Sem apresentar nenhuma prova, entregando um documento apócrifo ao TSE, eles queriam que fosse investigada uma conspiração envolvendo emissoras de rádio e a oposição por não levarem ao ar as inserções da propaganda do PL para favorecer o PT.
O implacável ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE, logo percebeu que se tratava de mais uma mutreta amadora e deu 24 horas para que apresentassem as provas. Sem isso, reverteu a investigação para o crime eleitoral praticado por quem apresentou a denúncia vazia.
Bolsonaro estava em Minas quando saiu a decisão e, furioso, em vez de seguir para o Rio, como estava previsto, mudou a rota e retornou a Brasília. Já no Alvorada, convocou ministros e comandantes militares para preparar uma resposta dura a Moraes.
Nesse meio tempo, recebeu más notícias das pesquisas. Apesar do empenho do governador Romeu Zema, que tinha convocado 500 prefeitos para trabalhar por Bolsonaro, Lula mantinha a mesma vantagem de seis pontos que registrara no primeiro turno em Minas.
Nas tensas reuniões que se seguiram no Alvorada, convenceram Bolsonaro a não chutar o balde contra a Justiça Eleitoral para não acabar de vez com suas chances de ganhar no voto. A entrevista coletiva que o presidente convocou virou um pronunciamento sem direito a perguntas, em que ele se queixou de Alexandre de Moraes e anunciou que vai “lutar até o fim”, mas “dentro das quatro linhas”.
Menos mal. Àquela altura, já tinha bolsonarista raiz falando em adiar as eleições até que os comerciais do PL fossem levados ao ar. No desespero em que se encontra o bando de estrategistas trapalhões, qualquer pretexto vale para ganhar a eleição a qualquer preço ou melar o jogo, tanto faz se no Plano A ou no B, nem eles sabem mais qual está valendo.
O fato é que com as suas movimentações heterodoxas dos últimos dias, em lugar de apresentar um programa de governo para o segundo mandato, o governo do capitão se desmoraliza até para dar um golpe. Pode até tentar, mas não vai dar certo. Pode, no máximo, tumultuar o processo, com essa história de convocar suas tropas para acompanhar a votação nas seções eleitorais até o início da apuração. Nada deu certo até agora. Qual será a próxima trapalhada? Como Bolsonaro se comportará no debate da Globo, a última carta na manga?
Preparem-se para fortes emoções nestas últimas horas que faltam para a abertura das urnas. Prevê-se um resultado apertado, o cenário ideal para quem quer denunciar fraudes nas urnas.
Vida que segue.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL
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Ricardo Kotscho
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