Campanha de Bolsonaro usou o governo para atestar mentiras sobre pesquisas – UOL Confere

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em países como Timor Leste e Angola e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). Diretor da ONG Repórter Brasil, foi conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão (2014-2020) e comissário da Liechtenstein Initiative – Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos (2018-2019). É autor de “Pequenos Contos Para Começar o Dia” (2012), “O que Aprendi Sendo Xingado na Internet” (2016), ?Escravidão Contemporânea? (2020), entre outros livros.
Colunista do UOL
15/12/2022 08h16
A revelação de que o ministro da Justiça, Anderson Torres, mandou a Polícia Federal investigar só os institutos de pesquisa eleitoral que não apontavam resultados favoráveis a Bolsonaro a pedido do líder do PL, Valdemar da Costa Neto, mostra que a campanha de Jair usou a máquina pública para tentar dar credibilidade a uma mentira. E reforça que este governo não serve aos interesses do país, mas aos do presidente da República e seus amigos.
Reportagem de Paulo Roberto Netto, do UOL, nesta quinta (15), baseada em documentos obtidos via Lei de Acesso à Informação, apontam uma dobradinha entre Anderson e Valdemar para usar a máquina pública a fim de buscar elementos que comprovassem uma das maiores mentiras desta eleição: a de que as pesquisas foram distorcidas para ferrar Jair.

Tal qual a Lava Jato, eles tinham convicções e estavam indo atrás dos fatos. O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes, acabou abortando o descalabro.
A história trazida pelo UOL pode não chocar devidamente os eleitores, acostumados à transformação do Palácio do Planalto e do Ministério da Justiça em um puxadinho do Vivendas da Barra, o icônico condomínio da Barra da Tijuca que abriga casa de famosos, como a do presidente da República e o de Ronnie Lessa, preso pela execução de Marielle Franco.
Mas deveria porque isso mostra o tamanho do desafio de trazer a República de volta à normalidade a partir do ano que vem.
Bolsonaro atuou, ao longo de seu governo, para subjugar instituições de monitoramento e controle a fim de garantir sua própria proteção e a de seus familiares e aliados. Com isso, sequestrou setores da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal, da Receita Federal, do Ibama, do Incra, da Funai, do Coaf, da Procuradoria-Geral da República e do Congresso Nacional.
Como no Supremo Tribunal Federal e no TSE ele não nunca conseguiu maioria, foi para a ameaça e a porrada.
Sempre bom lembrar que a pasta de Anderson Torres foi fundamental para uma tentativa de golpe durante o segundo turno, quando o diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal, Silvinei Vasques, mandou a instituição emperrar o transporte de eleitores mais pobres, principalmente no interior do Nordeste, onde Lula tinha maior intenção de votos, justo no domingo (30), dia de votação.
A Polícia Rodoviária Federal deu uma banana às ordens do TSE para não dificultar o acesso de eleitores aos locais de votação e priorizou operações contra ônibus, vans, caminhões e caminhonetes. Através da força armada de uma polícia sob o comando de Silvinei e Anderson, Jair operou para tentar conseguir pela sujeira o que, de fato, não foi capaz de obter nas urnas.
Depois, a PRF fez vistas grossas aos protestos golpistas que trancaram rodovias em todo o país, deixando que os bloqueios se instalassem, mentindo que precisava de uma decisão judicial para desobstruir as vias. Vídeos em que policiais rodoviários passavam pano para golpistas viralizaram nas redes levando mais gente a engrossar os bloqueios.
E, como a zoeira nunca termina, a sede e agentes da Polícia Federal, em Brasília, foram alvo de ataques de golpistas, nesta segunda (12), sob a justificativa de tentar libertar um pastor indígena bolsonarista preso a pedido da Procuradoria-Geral da República. A diferença disso com facções criminosas tradicionais é que elas tentam libertar seus presos na surdina, enquanto os bolsonaristas fazem isso a olhos vistos com a certeza de que a PF não irá deter nenhum deles, como não deteve.
O antecessor de Anderson Torres, o ex-juiz Sergio Moro, quando se demitiu em abril de 2020, já havia alertado interferências indevidas de Jair Bolsonaro na estrutura do Ministério da Justiça para atender a seus próprios interesses e proteger a si mesmo, sua família e seus amigos.
Claro que, neste ano, Moro acabou engolindo o orgulho e, para ser eleito senador pelo Paraná, abraçou o bolsonarismo e se tornou cabo eleitoral do ex-chefe, que já o chamou de “mentiroso deslavado”, “sem caráter”, “palhaço” e “idiota”.
A história revelada pelo UOL mostra também que Valdemar da Costa Neto não foi apenas um aliado forçado a agir, mas abraçou as piores práticas bolsonaristas.
Nas últimas semanas, ele protagonizou alguns dos episódios mais tristes da história recente do país ao exigir que o TSE cancelasse os votos de 59% das urnas a fim de evitar a vitória de Lula. De forma cínica, pediu para o tribunal ignorar que as mesmas urnas elegeram senadores e deputados do PL.
Desde que Valdemar da Costa Neto passou a usar o jurídico do partido para dar apoio ao golpismo de Jair, surgiram notícias dando conta de que ele era pessoalmente contrário a isso, mas estava colocando as ações em prática por ser pressionado pelo presidente e pela metade bolsonarista da bancada eleita no PL.
O jogo duplo de Valdemar da Costa Neto é uma fraude. As entrevistas que ele concede ou as conversas que faz com ministros e parlamentares dizendo que não tem más intenções não eliminam a erosão da democracia causada por sua colaboração ao golpismo de Jair Bolsonaro. E a dobradinha com Anderson Torres para um ataque infundado às pesquisas eleitorais mostra isso.
Valdemar aceita o papel que lhe foi incumbido. Poderia dizer não, mas sabe que isso vai lhe garantir dinheiro e poder. Esperemos que a Justiça investigue o papel de ambos nesse grande processo golpista, levando em conta que não são coadjuvantes, mas dois dos protagonistas, e julgue-os por isso.
Alexandre de Moraes disse que ainda há muito a ser feito para punir quem atacou a democracia. A ver se isso é retórica ou fato.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL
Leonardo Sakamoto
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