Campeonato Carioca de 1992: Vasco é campeão invicto sem Maracanã – Última Divisão

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Imagem: Jornal do Brasil/Reprodução
Em 1992, o Vasco da Gama foi campeãoda Copa São Paulo de futebol júnior com um time com muito potencial.
E logo que teve a chance nos profissionais, este potencial correspondeu – tanto que o time conquistou, invicto, o Campeonato Carioca daquele ano.
Foi uma edição bastante emblemática do torneio, que não contou com o Maracanã.
Vamos lembrar o que rolou?
O ano de 1992 foi o último em que o Campeonato Brasileiro foi disputado no primeiro semestre. Naquele ano, o torneio nacional teve 20 times na primeira divisão, 32 na segunda (chamada de Divisão Classificatória) e 31 na terceira (chamada de Série B).
Além dos quatro grandes, outros três times menores do Rio disputaram a segunda divisão: Americano e Itaperuna no Grupo 2 (cujo cabeça de chave era o Vitória) e Bangu no Grupo 3 (o do Coritiba). E os três ficaram na segunda parte da tabela em seus grupos: a Águia foi sexta, o Cano foi sétimo no Grupo 2 e os Castores, no último ano com o comando de Castor de Andrade, que viria a ser condenado no ano seguinte, ficaram em sétimo no Grupo 3.
Porém, na tabela geral, o Bangu foi o melhor, ficando com o 24º lugar de 32 times. Na sequência, vieram Itaperuna e Americano.
Ironicamente, tanto o Alvirrubro, quanto o Glorioso de Campos jogaram a Seletiva para a Série B de 1994 e se classificaram. O Itaperuna também jogou.
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A Série A teve três times cariocas no pódio: os finalistas foram o Flamengo (comandado por Júnior, exibindo muita maestria no meio campo, mesmo aos 38 anos de idade) e o Botafogo (de Renato Gaúcho, afastado após um churrasco com jogadores do rival rubro-negro no dia seguinte à derrota por 3 a 0 na ida da final). O Vasco, de Edmundo e Bebeto, ficou em terceiro, enquanto o Fluminense de Super Ézio ficou em 14º.
No segundo jogo das finais, uma tragédia manchou o título rubro-negro. Naquele 19 de julho, o Maracanã recebeu exatos 122.001 espectadores, e uma parte da grade do primeiro degrau da arquibancada do estádio cedeu. Com isso, centenas de pessoas caíram na geral.
Oficialmente, três pessoas morreram e 82 ficaram feridas. Extraoficialmente, foram 25 mortos e mais de 250 feridos.
O principal motivo do desabamento, segundo o Jornal do Brasil do dia seguinte à final, foi uma confusão onde ficava a torcida Raça Rubro-Negra. Fato é que isso foi determinante para o fechamento do Maracanã por sete meses. E foi com este cenário que o Campeonato Carioca iria começar, no dia 23 de agosto.

Pelo segundo ano seguido, estivemos com o regulamento de dois grupos com peso de divisão. Só que desta vez, a FERJ resolveu aumentar o número de times, de 24 para 26, divididos em dois grupos: um de 12 e um de 14, no primeiro turno. Após a Taça Guanabara, os dois primeiros do Grupo B subiriam para o A.
Na Taça Rio, o segundo turno, tivemos 14 times no Grupo A e 12 no B, invertendo a lógica do turno anterior. No Grupo A, em ambos os turnos, o time que somasse mais pontos seria o campeão. Por outro lado, no Grupo B, os dois primeiros de cada chave subiriam pro grupo de cima no turno seguinte.
O rebaixamento viria só ao final do segundo turno, com os quatro últimos do Grupo A indo para o Grupo B, os dois primeiros do Grupo B indo para o Grupo A no ano seguinte e os dois últimos do Grupo B caindo para a segunda divisão. Conseguiu entender?
Após o terceiro lugar no Brasileirão, o Vasco ainda tinha um time recheado de garotos, muitos deles remanescentes do título da Copa São Paulo de 1992. Ainda tinha o retorno de Roberto Dinamite, que estava se preparando para a sua longa carreira política – ele foi eleito vereador no Rio em 92, ainda jogando, e deputado estadual dois anos depois, já aposentado dos gramados. Também tinha Bebeto, que em 1993 iria para a Espanha fazer parte de um dos times mais memoráveis do La Coruña, e Edmundo, um atacante que na base foi dispensado do Botafogo (porque simplesmente ficou pelado no alojamento dos juniores em um dia de muito calor) e que virou um dos maiores ídolos das torcidas de Vasco e Palmeiras, além de um dos jogadores mais polêmicos dos anos 90.
(Ah, esqueci: um destes atletas que participou deste campeonato é parente deste que vos escreve. É o lateral Pimentel, primo de segundo ou terceiro grau do meu pai, e por tabela, meu primo. Curiosamente, seu filho, Erick Pimentel – que também é meu primo- foi um dos destaques da campanha vascaína na Copa São Paulo de Juniores 2022.)
Embora o campeonato tenha começado em 24 de agosto, a estreia do Vasco foi só no dia 31, e com empate: 0 a 0 contra o Madureira. Mas depois da segunda rodada, o Gigante da Colina emendou sete vitórias seguidas, incluindo um 4 a 0 contra o America e a única vitória em clássicos no primeiro turno: contra o Botafogo por 1 a 0.
Nas últimas três rodadas, mais três empates: contra Fluminense, Bangu e Flamengo. E com essas sete vitórias em sequência, o Vasco foi campeão invicto. Além disso, os vascaínos foram a defesa menos vazada do campeonato: apenas dois gols sofridos, justamente nos clássicos contra a dupla Fla-Flu.
O segundo turno começou em 10 de outubro e tinha duas rodadas a mais. Na estreia, vitória do Vasco contra o Campo Grande: 3 a 2. E depois do Galo, mais quatro vitórias em sequência, que foi interrompida pelo empate com o Americano. Mas o Fantasma não conseguiu parar o Gigante, que emendou mais seis vitórias e foi campeão da Taça Rio de forma antecipada. Nem o empate em 1 a 1 contra o Flamengo na última rodada apagou a festa.
No total, foram 20 vitórias e seis empates. O Vasco viria a vencer os dois turnos pela última vez em 1998 e de forma invicta em 2015.
A grande polêmica do futebol brasileiro em 1992 envolveu o Grêmio. Um ano antes, o Tricolor foi rebaixado para a segunda divisão nacional, sendo o primeiro fundador do Clube dos Treze a cair.
Em 7 de janeiro, foi anunciada uma nova configuração da segunda divisão nacional, que de Divisão Intermediária passaria a ser Divisão Classificatória. Inicialmente, seriam 24 times, mas a CBF anunciou que não daria subsídios aos clubes desta divisão, e sim, para os da Série B (terceira divisão). Com isso, times como o Sampaio Corrêa resolveram largar a segunda para jogar a terceira divisão.
Mas vários clubes quebraram a cara quando descobriram que o tal subsídio seria de apenas Cr$ 2 milhões, enquanto viagens e hospedagens seriam bancadas pelos próprios clubes. Assim, muitos times desistiram, entre eles, os Américas de Três Rios e do Rio e o Campo Grande, além do Vila Nova. A Série B quase foi cancelada, mas rolou, com 31 times em sete grupos, dentre os quais, quatro times que jogaram Série B em 2022: Sampaio Corrêa, CRB, Chapecoense e Operário.
Os campeões de cada chave seriam promovidos e se juntariam a outros 25 times indicados pelas federações para jogar a segunda divisão do Brasileirão em 1993, mas nenhuma promoção foi respeitada. Então, o que a CBF fez no ano seguinte foi um seletivo para a Série B de 1994, com 71 clubes de todo o Brasil.
Já na Divisão Classificatória, foram 32 times, dentre os quais, Vitória e Grêmio (os rebaixados) e outros 22 times remanescente em 1991, além de oito clubes das federações que ficaram de fora: Minas Gerais, Amazonas, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Piauí, Sergipe, Paraíba e Distrito Federal.
O problema foi que Nacional-AM e o Sampaio desistiram. E como nenhum time amazonense e maranhense queria assumir as vagas, a CBF chamou o Criciúma (que embora tenha ido mal na segundona no ano anterior, foi campeão da Copa do Brasil) e o União São João. Também desistiram Novorizontino, River-PI, Sergipe e Dom Bosco-MT, que foram substituídos, respectivamente, por São José-SP, Picos, Confiança e Operário VG-MT.
Na segunda fase, mais confusão. Originalmente, os 12 promovidos seriam divididos em seis pares, na seguinte disposição:
Porém, para reduzir custos de viagem, já que cinco dos seis grupos eram confrontos entre times de Norte/Nordeste contra Sul/Sudeste (sendo a maior distância, Belém a Porto Alegre), a CBF resolveu mexer no regulamento e separou os times em três grupos regionalizados: o Grupo 1, com times Norte/Nordeste; o Grupo 2, do Sudeste mais o Vitória; e o Grupo 3, do Sul. Porém, como compensação, Santa Cruz, Criciúma, Ceará, Remo, América e Paraná Clube ganharam um ponto.
E não parou por aí: originalmente, os dois primeiros iriam para a terceira fase, mas de novo tivemos mais confusão. O Fortaleza, sabe-se lá o porquê, entrou na Justiça com um mandado de garantia exigindo a vaga por méritos.
Conseguiu e foi incluído, junto de Santa Cruz, Remo, Vitória, América-MG, Criciúma e Paraná. Para fechar a lista de clubes, a CBF convidou o Grêmio, que alegou prejuízo financeiro e recusou. Para o seu lugar, o União São João foi chamado.
A terceira fase foi normal: dois quadrangulares, com os dois primeiros de cada chave fazendo a semifinal. Nas semis, o Paraná bateu o Santa Cruz e o Vitória levou a melhor sobre o Criciúma. No entanto, o Leão da Barra, que tinha Vampeta e Alex Alves no elenco, não foi páreo para o Tricolor da Vila, que levou o seu primeiro título nacional, com apenas dois anos e meio de vida.
O grande saco de pancadas do Carioca de 1992 foi a Associação Atlética Cabofriense. O clube, fundado em 1955 e que havia começado no profissionalismo em 1982, colheu alguns bons frutos como profissional, mas perdeu muita força e em 1992, teve uma péssima campanha no Grupo B da primeira divisão.
No primeiro turno, foi penúltimo colocado, enquanto no segundo turno, foi lanterna absoluto, sem nenhuma vitória. A última partida da história da velha Cabofriense foi em 20 de dezembro: um 9 a 1 para o Olympico de Bom Jesus do Itabapoana, clube hoje extinto.
E o Itaperuna sofreu naquele ano pela primeira vez a força de ser opositor do então presidente da FERJ, Eduardo Vianna. A Águia do Noroeste somou cinco pontos na Taça Guanabara (uma vitória e três empates), mas perdeu todos eles por causa do uso irregular de um jogador em uma derrota contra o Vasco.
Na Taça Rio, uma pancadaria em um jogo contra o Americano, time do presidente da FERJ, após uma expulsão rendeu uma pedrada na cabeça do árbitro e a perda dos pontos do empate à Águia. 
O artilheiro do Cariocão de 1992 foi Ézio, do Fluminense. Grande nome do ataque tricolor na primeira metade dos anos 90, Super Ézio (apelido dado pelo falecido narrador Januário de Oliveira) fez 15 gols. O atacante se aposentou em 1998, aos 33 anos.
Em 2010, participou da fundação do Barra da Tijuca, clube que em 2022 jogou a Série B2 do Campeonato Carioca, mas infelizmente não pode ver o clube de desenvolver, já que morreu em 2011.
Completam a lista de artilheiros Bismarck, do Vasco (que em 1993 foi para o Japão defender o Verdy Kawasaki, atual Tokyo Verdy, na recém-criada J.League) com 14 gols; Vágner, do Fluminense, com 12; Serginho, do America e Leonardo, do América de Três Rios, com nove gols cada um.
Considerando apenas o Grupo A da primeira divisão, a maior goleada foi na quarta rodada, em 7 de setembro: um 5 a 0 do Flamengo sobre o Madureira, com gols de Paulo Nunes, Júnior, Júlio César “Imperador” (dois) e Gottardo.
Detalhe: o Fla não enfrentava o Tricolor Suburbano desde 1982, quando goleou pelo mesmo placar e gols de Tita, Nunes, Zezé e dois de Zico.
Porém, se considerar o campeonato inteiro – ou seja, os dois grupos e os dois turnos – , a maior goleada foi justamente a do último jogo da antiga Cabofriense, em 20 de dezembro: 9 a 1 do Olympico.
Jornalista formado pela Universidade Unigranrio. Vascaíno e entendedor de futebol, especialmente do futebol de baixo investimento do Rio de Janeiro, já teve a experiência de cobrir times como America, Americano de Campos e Goytacaz em 2020, quando trabalhou para o site Cariocado. Atualmente, escreve para o site “Papo na Colina”, site de notícias sobre o Vasco.
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