Carlos Madeiro – Era Lula: país ganhou 16 milhões de evangélicos na 1ª década dos anos 2000 – UOL Confere

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.
Formado em jornalismo pela Universidade Federal de Alagoas e com especialização em gestão de conteúdo em jornalismo pela Universidade Mackenzie, Carlos Madeiro atua há 20 anos e escreve para o UOL desde 2009, participando de grandes coberturas e fazendo reportagens e análises sobre o Nordeste e o Norte do Brasil.
Colunista do UOL
08/10/2022 04h00
Alçados ao centro do debate político, os evangélicos ganharam espaço e cresceram como nunca no país em número de adeptos na primeira década dos anos 2000 —nesse período, oito anos foram de governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Nas últimas semanas, o ex-presidente foi alvo de inúmeras fake news que iam de perseguição a cristãos a fechamento de igrejas, se eleito.

Mas, revisitando os dados dos últimos Censos e conversando com especialistas, o que se mostra é que houve um “boom evangélico” entre o final dos anos 1990 e a primeira década de 2000.
Segundo os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o número de evangélicos saltou de 26,2 milhões para 42,3 milhões entre 2000 e 2010, crescendo de 15,4% da população para 22,2%.
“Em 2010, os evangélicos foram o segmento religioso que mais cresceu no Brasil no período intercensitário”, diz o documento do Censo.
Do Censo do ano 2000 para o de 2010, a maior alta ocorreu na Assembleia de Deus, que é a maior igreja pentecostal do país: foi de 8 milhões para 12 milhões de membros.

Não existem dados mais recentes porque o Censo programado para 2010 não foi realizado. A captação dos dados está ocorrendo apenas neste ano, com previsão de término em dezembro.
Em 2010, dos cidadãos que se declararam evangélicos eram:
Em detrimento à explosão evangélica, os católicos reduziram sua proporção na população e caíram de 73,6% em 2000 para 64,6% em 2010.
“Embora o perfil religioso da população brasileira mantenha, em 2010, a histórica maioria católica, esta religião vem perdendo adeptos desde o primeiro Censo, realizado em 1872. Até 1970, a proporção de católicos variou 7,9 pontos percentuais, reduzindo de 99,7%, em 1872, para 91,8%”, aponta o documento.

Segundo o antropólogo e pesquisador Flávio Conrado, da Casa Galileia, existem métricas internacionais que analisam a restrição religiosa e que apontam que o Brasil goza de “profunda liberdade” para exercício da fé. “A igreja tem um ambiente muito tranquilo também com o marco que é a Constituição de 1988”, diz.
Ele lembra que os evangélicos começaram a vir ao Brasil no final do século 19, mesmo período em que o nosso país se tornou laico. “Os pentecostais chegam no início do século 20. O boom começa a partir dos anos 1960, quando começamos a ter uma alta mais relevante”, conta.
Segundo ele, foi a partir dessa época que o evangelismo dessas igrejas passou a usar a comunicação de massa como estratégia. “Eles começam usando o rádio, os grandes eventos, os encontros, tudo com a ação na comunidade, que continua sendo importante”, diz.
Já em 1980, ele cita que teve início um fenômeno de origem norte-americana: o tele-evangelismo, que também ganhou força no Brasil. “No Brasil, há liberdade inclusive para a igreja comprar um canal de TV aberta, de rádio. E, com a Internet, as igrejas têm uma capacidade de se adaptar e usar a rede para criar igrejas virtuais”, diz.
Hoje, por exemplo, a TV Record é uma emissora de propriedade dos mesmos donos da Igreja Universal do Reino de Deus e destinam parte da sua programação para tentar evangelizar.
“Mas no Brasil estamos falando de um evangelismo plural, que tem no seu cerne a evangelização por meio de várias estratégias, inclusive em lugares públicos. Eles são ativos na conversão e em proselitismo”, diz.

Sobre o boom do início dos anos 2000, ele diz que a expansão do evangelismo ocorreu sem qualquer empecilho estatal e aponta que o crescimento e fortalecimento de estabelecimentos religiosos se deve muito ao ambiente de prosperidade econômica do país naqueles anos.
“As igrejas vão receber mais carga de recursos. Esse talvez seja o fator mais importante para impulsionar as igrejas na era Lula. Elas foram ampliadas dentro de um projeto de propagação e de estratégias de evangelização”, comenta.
Nesse mesmo processo, Conrado ressalta a diversidade dessas igrejas. “Nos anos 2000, veio uma categoria que não estava antes, que são as outras igrejas evangélicas, que não pentecostais nem aquelas conhecidas históricas. Ou seja, há um fenômeno de pulverização das igrejas também”, conclui.
Os evangélicos dão um sentido mais totalizador à sua religião, não é só frequentar missa ou culto: a fé orienta toda sua vida. Isso faz com que tenha mais compromisso com doação e participação.”
Flávio Conrado, da Casa Galileia

Segundo Liniker Xavier, jornalista, pesquisador e doutorando em ciências da religião, mesmo sem Censo, foi possível ver que o número de evangélicos continuou crescendo no país no governo Dilma Rousseff (PT).
“Em 2016, no ano em que ela deixou o poder, uma pesquisa Datafolha apontava que a população evangélica no país tinha saltado para 29%”, diz.
“É um contrassenso afirmar que haja perseguição aos evangélicos nos governos petistas porque foi justamente neste período em que as igrejas experimentaram uma série de incentivos, a exemplo da Lei 10.825, que autoriza a livre criação, organização e estruturação das igrejas, facilitando a formalização dos espaços de cultos.”
Ele afirma que um detalhe que marcou o evangelismo nos últimos anos é que desde 2016, a frequência dos fiéis diminuiu nas igrejas. Ele cita pesquisa Datafolha que apontou que o número de evangélicos que afirmam ir à igreja mais de uma vez por semana caiu de 65% em 2016 para 53% em 2022.
“Apesar da queda, ainda é um número importante e expressivo. Para a média geral de devotos de todas as religiões, esse mesmo número é de 29%”, diz.
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Carlos Madeiro
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