Caso perca as eleições, é esperado que Bolsonaro siga 'protocolo trumpista' – UOL Confere

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Fernanda Magnotta é doutora e mestre pelo PPGRI San Tiago Dantas (UNESP/UNICAMP/PUC-SP). Especialista em política dos Estados Unidos, atualmente é senior fellow do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) no núcleo ?Américas – EUA?, professora e coordenadora do curso de Relações Internacionais da FAAP e atua como consultora da Comissão de Relações Internacionais da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/SP). É autora do livro “As ideias importam: o excepcionalismo norte-americano no alvorecer da superpotência” (2016) e diversos outros capítulos de livros e artigos científicos. É co-criadora do ?Em Dupla, Com Consulta?, um dos maiores canais dedicados ao ensino descomplicado de Relações Internacionais no Youtube Brasil. Já foi chefe de delegação do Brasil na Cúpula de Juventude do G-20, na China, acompanhou as eleições presidenciais dos Estados Unidos, em Ohio, a convite da Embaixada norte-americana em Brasília, e foi selecionada pelo Programa W30 da UCLA/Banco Santander como uma das 30 mulheres mais destacadas em gestão acadêmica no mundo. Contribui frequentemente com veículos da imprensa nacional e internacional analisando os Estados Unidos.
Colunista do UOL
29/10/2022 04h00
Às vésperas do segundo turno das eleições no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro ensaia passos importados de Donald Trump, durante o pleito de 2020, nos Estados Unidos —na iminência de ser derrotado nas urnas, deverá investir na já esperada narrativa de fraude eleitoral.
A estratégia de mimetizar o comportamento de Trump, em geral, é velha conhecida do governo. Começou desde a campanha passada, com a ideia de apresentar Bolsonaro como um candidato crítico ao sistema e genuinamente “sem filtros”, mesmo depois de ter passado mais de 30 anos na vida pública.

Eleito, o presidente aderiu ao discurso nacionalista e antiglobalista, além de ter passado a defender pautas conservadoras no campo dos costumes —ora por mera conveniência, ora para sobrevivência política.
Ademais, como também fizeram outros populistas da nova direita radical, passou a mobilizar as paixões de sua base com o discurso “anticorrupção” (Trump falava em “drenar o pântano”, que, na visão dele, era Washington) e com ameaças fantasmagóricas, como o risco eminente da “dominação comunista”, caso a esquerda ganhasse espaço.
Enquanto presidente, Bolsonaro, assim como Trump, adotou medidas polêmicas e, muitas vezes, impopulares. Ambos tiveram dificuldades em criar consensos internos, mas governaram sendo úteis às elites políticas que elegeram-se criticando.
Bolsonaro abraçou o Centrão. Trump transformou-se no recurso disponível para que os Republicanos voltassem a ocupar a Casa Branca. Nos dois casos, os líderes entraram em rota de colisão com a imprensa, com boa parte dos intelectuais e enfrentaram resistência no judiciário, que tornou-se a última fronteira contra excessos autocráticos.
Bolsonaro e Trump fragilizaram o processo de tomada de decisão doméstico, atacaram sistematicamente as instituições democráticas e isolaram, internacionalmente, seus países.
No caso norte-americano, Trump deixou o poder depois de ter entrado para a história dos Estados Unidos como um dos poucos presidentes a não conseguir reeleger-se. Foi banido das redes sociais por propagar, sistematicamente, notícias falsas, e passou a responder a mais de uma dúzia de processos, inclusive pelo ataque ao Capitólio, ocorrido em 6 de janeiro de 2021, por tentativa de fraude eleitoral, por inadequado manuseio de documentos confidenciais do governo e por problemas em seus negócios familiares.
A receita que Bolsonaro pode tentar replicar no Brasil, caso perca as eleições neste domingo, é claríssima para quem acompanha de perto a política norte-americana:
Se isso acontecer, as forças políticas brasileiras, a imprensa e a comunidade internacional poderão ter um papel fundamental para garantir a transição democrática no Brasil, tal qual aconteceu nos Estados Unidos.
O antídoto anti-Trump ainda não é plenamente conhecido. O trumpismo, assim como o bolsonarismo, repousa sobre bases sociais muito profundas e com efeitos de longo prazo. Tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil capturaram até mesmo os partidos tradicionais, fazendo com que a direita radical fagocitasse parte significativa da direita democrática.
Apesar disso, do Norte, a resposta ao discurso golpista veio com veemência para Trump: não se pode promover acusações de fraude sem provas e com base no “hearsay”, como falam em inglês (na tradução livre, boato).
Também é preciso traçar linhas muito claras entre os interesses públicos e privados de um candidato.
E, por fim, que há limites na busca por um discurso que embase uma “saída digna” em vez de uma “saída pelas portas do fundo”. Isso não necessariamente faz surgir mártires, mas certamente revela maus perdedores. Olhos voltados para o Planalto.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL
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Fernanda Magnotta
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