Colômbia tem certificação sustentável para quase 30% de seu óleo de palma – Dialogo Chino
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Embora tenha avanços sustentáveis em sua produção, país ainda enfrenta desafios para evitar impactos de demanda crescente
Diálogo Chino fevereiro 1, 2022
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Plantas de óleo na província de Meta, Colômbia. Atualmente, o país sul-americano é o quarto maior produtor e exportador mundial de óleo de palma, enquanto quase um terço de sua produção está de acordo com certificados internacionais de sustentabilidade (Imagem: Florian Kopp / Alamy)
As palmas de óleo foram plantadas na Colômbia a partir dos anos de 1930, e desde que as operações comerciais começaram a decolar em meados do século, o país se tornou o quarto maior produtor e exportador de óleo de palma do mundo — e o maior das Américas.
Mas, assim como em outras nações líderes na produção do óleo, a exemplo da Indonésia e da Malásia, a expansão da produção vem frequentemente associada a controvérsias e custos socioambientais. Na Colômbia, os impactos podem agravar a situação da infraestrutura que já é precária, além de aumentar o desmatamento e a grilagem.
Apesar dessa conjuntura, a Colômbia tem sido bem sucedida, já que parte de sua produção de óleo de palma é sustentável. Isso a lançou a mercados exigentes como o da União Europeia — destino de mais de 61% das exportações de óleo de palma da Colômbia em 2020. Tamanho sucesso impõe desafios à indústria e às autoridades locais, que devem gerenciar cuidadosamente a produção.
A Colômbia viveu mais de 50 anos em meio a conflitos sociais violentos que envolviam o Estado, grupos paramilitares de direita, criminosos e guerrilhas, como as Farc e o Exército de Libertação Nacional. Apesar das dificuldades desses embates nas zonas rurais, o óleo de palma se expandiu e ofereceu uma resposta à questão global de como se garantir a sustentabilidade do óleo.
Perto de 28% da produção do país está hoje em conformidade com alguma certificação internacional, como a da Mesa Redonda sobre Óleo de Palma Sustentável ou Rainforest Alliance.
Uma das particularidades favoráveis à Colômbia é que a plantação da palma costuma ser feita em áreas já degradadas, o que evita a derrubada de vegetação nativa — uma das principais preocupações relacionadas a essa produção.
“A palma substituiu a pastagem de gado, portanto seu impacto sobre os ecossistemas foi mínimo”, disse Natalia Ocampo-Peñuela, ecologista e pesquisadora da ETH Zurich, universidade pública da Suíça. “O que existia antes não era benéfico para a biodiversidade”.
A disponibilidade de terras degradadas foi positivo à expansão da indústria, que também se beneficiou dos esforços de monitoramento da cadeia produtiva. Um desses sistemas de controle é o mapa de palmas produzido pelo Instituto de Hidrologia, Meteorologia e Estudos Ambientais (Ideam), agência governamental da Colômbia. Com o apoio do Instituto Geográfico Agustín Codazzi, responsável pela cartografia do país, o Ideam mapeia o desmatamento e produz um inventário de plantações legais e ilegais,
Outra instituição que monitora o cultivo da palma na Colômbia é a Fedepalma, uma federação influente criada em 1962, que reúne a maioria dos plantadores do país. A Fedepalma oferece apoio técnico, tecnológico e financeiro, e os ajuda a obter certificações internacionais. A federação assinou em 2017 — e já renovou — um acordo de zero desmatamento com vários ministérios do governo.
Embora a Fedepalma tenha sido criticada por ignorar pequenos agricultores, se envolver em conflitos legais relacionados à terra e por sua enorme capacidade de lobby, ela também facilita a aplicação e o monitoramento de políticas públicas para a conservação.
A palma substituiu a pastagem de gado, portanto seu impacto sobre os ecossistemas foi mínimo
“O óleo de palma, como qualquer outra cultura bem desenvolvida, traz benefícios ao meio ambiente e às comunidades”, diz Andrés García Azuero, diretor de planejamento setorial e desenvolvimento sustentável da Fedepalma. “A plantação de palmas na Colômbia respeita a fauna e a flora, protege os cursos d’água, e é isso que nos diferencia de outros países que produzem óleo de palma”.
Como exemplo de sustentabilidade, Azuero aponta para as planícies orientais do país, onde veados e pumas são vistos em “agroecossistemas” de palma, indicando que a biodiversidade local é maior que em outras monoculturas.
No entanto, Ocampo-Peñuela diz que a mera presença de predadores como o puma não garante que a espécie esteja utilizando aquele habitat. “Isso não significa que uma onça-pintada ou um puma possa sobreviver em uma plantação de palma”.
Em um de seus estudos, Ocampo-Peñuela descobriu que, no sopé da bacia do Orinoco, no leste do país, as plantações de palma trazem benefícios à natureza, porque os produtores mantêm as florestas ao redor dos rios intactas.
“Isto é obrigatório e tem permitido a sobrevivência das espécies”, acrescenta. Essas medidas criam uma paisagem muito diferente da que é vista na Ásia, onde outros ecossistemas são menos frequentemente integrados, e as plantações parecem sem fim.
É claro que a Colômbia não escapou inteiramente dos impactos ambientais comumente associados à expansão do óleo de palma. Dentre eles, há o deslocamento de espécies arbóreas nativas e a crescente ameaça de pragas.
Em 1989, Rodrigo Bernal — talvez o cientista e botânico que mais conhece os dendezeiros na Colômbia — manifestou preocupação com os danos da crescente indústria de óleo de palma do país. Como exemplo, ele cita o que aconteceu com a palmeira da espécie Phytelephas tumacana. Em seu livro Las palmas del andén del Pacífico, ele diz que ela “já foi abundante e formou a base da economia local, [mas] foi dizimada para estabelecer plantações de outro tipo de palmeira, e está à beira da extinção”.
Três décadas depois, Bernal diz que há pelo menos três impactos ambientais que requerem estudos sérios e — se necessário — a mitigação ou compensação por parte dos plantadores.
O primeiro é a hibridização entre a palma africana (dendezeiro) e a americana (Elaeis oleifera), que, “em algumas áreas, como o vale Magdalena, crescia naturalmente nas plantações e agora cresce isoladamente em áreas vizinhas”.
O segundo impacto é o potencial da palma africana como espécie invasora. “Tenho observado a palma africana crescendo nas florestas do vale Magdalena médio e nos arredores de Leticia e Inírida”, diz Bernal. “Em Leticia [na fronteira amazônica com o Peru e o Brasil], por exemplo, a espécie invadiu florestas onde, devido a seu grande tamanho, provavelmente desloca espécies nativas”.
E por último, há a ameaça do gorgulho da palma, inseto originário de regiões tropicais da Ásia que pode ter chegado à Colômbia “possivelmente como resultado do aumento do cultivo da palma africana”, diz o cientista. O inseto já ameaçou safras do chontaduro, conhecido como pupunha, em Buenaventura, na costa do Pacífico, atacando grande parte da plantação.
Outro desafio é o uso d’água. A palma puxa muita água e, por isso, é cultivada em áreas baixas e úmidas. Em María la Baja, por exemplo, o abastecimento tem se tornado estressante a cada estação seca.
“Isto pode entrar em conflito com outras culturas e também com o abastecimento de água para as pessoas que vivem ao redor dessas plantações”, adverte Ocampo-Peñuela. Ela acrescenta que os agrotóxicos aplicados também possam afetar a qualidade da água e da irrigação de outras culturas.
Qualquer novo cultivo de palma na Colômbia deve oferecer benefícios ambientais, e Ocampo-Peñuela trabalha justamente com isso. Atualmente a pesquisadora estuda as características das florestas de alta densidade de palmas. Há uma série de perguntas importantes: “Se você planejar uma plantação e quiser restaurar um ecossistema, qual seria essa estratégia e como você deve plantar essas árvores?”; “o quanto que uma ave ou um mamífero consegue se deslocar dentro da plantação para alcançar outro habitat ou floresta”?
De acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza, óleos vegetais como de soja, canola ou girassol precisam de até nove vezes mais área para sua produção. Isso torna a agroindústria da palma colombiana competitiva, já que existem enormes áreas degradadas, de até 44 milhões de hectares, disponíveis para sua expansão.
Mas isso não vem sem grandes responsabilidades. Mesmo que a conversão de terra não seja necessária para a expansão do óleo de palma na Colômbia, o país e seus produtores devem ficar atentos a outros desafios ecológicos. Enquanto quase 30% de sua produção atende à certificação internacional sustentável, os esforços para aumentar essa porcentagem devem continuar, em meio a uma demanda global vertiginosa e à crescente ambição dos negócios de óleo de palma.
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