Com Janones, campanha de Lula priorizou redes no 2º turno – Poder360

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Deputado deixou pré-candidatura à Presidência para apoiar petista e protagonizou as principais discussões políticas virtuais na campanha
No 2º turno da disputa pela Presidência da República, a campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) intensificou os ataques à Jair Bolsonaro (PL) e entrou ainda mais na “guerra” nas redes sociais. Com a ajuda do deputado André Janones (Avante-MG), a campanha petista deixou seu comportamento defensivo em relação à publicação de notícias falsas e, durante alguns momentos, pautou o debate político na internet. 
Janones retirou sua pré-candidatura à Presidência da República e oficializou seu apoio a Lula em agosto. O deputado fez o anúncio em transmissão ao vivo no Facebook ao lado do ex-presidente, que incorporou suas propostas no plano de governo.
Na campanha, foi escalado para articular nas redes sociais e impulsionar o petista. A estratégia do deputado foi replicar o comportamento bolsonarista na internet, com divulgação de montagens, vídeos descontextualizados e, no caso de Janones, transmissões no Facebook com acusações em tom exaltado. 
O aliado de Lula defende a estratégia “olho por olho, dente por dente” na campanha. Enquanto parte dos eleitores acredita que o deputado estaria “prejudicando” o debate político, há quem afirme que a estratégia poderia “atrasar” a campanha adversária e diminuir as acusações falsas contra o petista. 
Janones é um político com traquejo de redes sociais, algo raro no entorno de Lula. Ele não participa do núcleo duro da campanha presidencial, ocupado principalmente por petistas que acompanham Lula há décadas. Mas passou a frequentar reuniões e integrou viagens. 
Na prática, o deputado federal reeleito tem sido uma espécie de “tropa de choque” lulista na internet. Nas redes sociais, publicou temas que movimentaram o debate político nos últimos 28 dias. Eis as principais:
Dias depois do 1º turno, um vídeo de Bolsonaro discursando em uma loja maçônica em 2017 a convite de um colega em Brasília ganhou força nas redes sociais. O deputado fez uma live em frente ao Templo de Salomão sobre suposta ligação do presidente com a maçonaria. Na ocasião, Janones afirmou que o presidente teria “negociado” para receber o apoio de integrantes da maçonaria em sua candidatura.
Críticos de Bolsonaro apontaram nas redes que, para a Igreja Católica, ser maçom é proibido desde o século 18. Bolsonaro, que se declara católico, disse na live que não voltou mais aos rituais.
O tema pautou o debate religioso nos primeiros dias de campanha. No 1º programa eleitoral veiculado na TV e no rádio no 2º turno, Lula acenou ao público cristão e lembrou de leis de liberdade religiosa aprovadas durante seu governo. 
Em uma das propagandas, a campanha resgatou uma declaração de 2016 em que Bolsonaro diz que “comeria um índio sem problema nenhum”. No vídeo, Bolsonaro narra um suposto episódio em que um indígena morreu e teria sido “cozinhado” por outros indígenas, porque essa seria a “cultura deles”
A peça foi divulgada em 7 de setembro. No mesmo dia, a campanha do presidente entrou com ação no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) contra o vídeo. A Corte Eleitoral atendeu ao pedido e manou retirar do material do ar.
Enquanto a polêmica ganhava força nas redes sociais, Janones também levantava outros rumores. O deputado publicou uma série de tweets afirmando que Bolsonaro já admitiu ter praticado zoofilia, é apoiado por estupradores —em referência ao apoio do ex-jogador Robinho—, e nomearia o ex-presidente Fernando Collor como ministro em um eventual 2º mandato. 
Publicações em seu perfil no Twitter sobre os temas somam quase 350 mil curtidas. No Facebook, uma live indicando que Collor será ministro da Previdência e confiscaria pensões e aposentadorias chegou a mais de 1,1 milhão de visualizações. 
Outro tema que ganhou destaque nas redes sociais foi a participação de Bolsonaro na comemoração do feriado católico de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida do Norte (SP). Na ocasião, apoiadores do presidente hostilizaram jornalistas. O episódio repercutiu entre a oposição, fazendo a pauta religiosa voltar ao debate político. 
Em seu perfil nas redes sociais, Janones divulgou outros ataques em instituições religiosas e afirmou que o presidente tentava transformar a eleição em uma “guerra santa”, em especial contra a Igreja Católica. 
O aliado de Lula resgatou declarações de bolsonaristas contra autoridades da Igreja e chamou Bolsonaro de “falso profeta” e “messias satânico”, voltando a associá-lo a maçonaria. 
Dias depois, o episódio em Aparecida do Norte ganhou destaque na campanha petista na televisão e rádio. Na peça, Bolsonaro é acusado de usar a celebração para “fazer política” e “levar o ódio” ao Santuário de Aparecida. 
Bolsonaro voltou a ser alvo de críticas nas redes sociais depois de declarar, ao canal Paparazzo Rubro-Negro, que encontrou meninas de 14 e 15 anos durante um passeio de moto na cidade de São Sebastião (DF), que estariam “se arrumando” para “ganhar a vida”.
No programa, ele diz: “Eu parei a moto em uma esquina, tirei o capacete e olhei umas menininhas, 3, 4, bonitas, de 14, 15 anos, arrumadinhas em um sábado numa comunidade. E vi que eram meio parecidas. Pintou um clima, voltei. ‘Posso entrar na sua casa?’. Entrei. Tinham umas 15, 20 meninas, sábado de manhã, se arrumando. Todas venezuelanas. E eu pergunto: meninas bonitinhas de 14, 15 anos se arrumando no sábado para quê? Ganhar a vida”.
No Twitter, os termos “pintou um clima” e “Bolsonaro pedófilo” ficaram entre os tópicos mais comentados no Brasil na rede social.
Em seu perfil no Facebook, Janones fez uma live de pouco mais de 3 minutos comentando o caso. Em tom exaltado como o de costume nos vídeos, o deputado chamou o presidente de “pedófilo” e afirmou que caso a declaração fosse falsa, renunciaria ao mandato de deputado federal. O vídeo chegou a 2,4 milhões de visualizações em seu perfil na rede social. 
Dias depois de o episódio ganhar repercussão nacional, o presidente gravou um pedido de desculpas. Segundo ele, o adversário “extrapolou todos os limites” ao “recortar pedaços” do vídeo da entrevista.
O caso repercutiu nas redes sociais e foi parar na propaganda eleitoral de Lula. O vídeo divulgado pela campanha dizia que aliados do atual presidente aprovaram um projeto de lei que dificultava a punição de pedófilos. Em seguida, a seguinte fala foi veiculada: “Pesquise no Google Bolsonaro 14 anos e tire suas conclusões”. 
O material, no entanto, foi barrado pelo presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes, atendendo a pedido da campanha do presidente. A Corte Eleitoral considerou que houve divulgação de um fato “sabidamente inverídico, com grave descontextualização e aparente finalidade de vincular a figura do candidato ao cometimento de crime sexual”.
A 10 dias antes do 2º turno, Janones transmitiu uma live em frente ao Ministério da Econômica em seu perfil no Facebook. Na transmissão, o deputado reeleito acusou o governo federal de propor a redução do valor do salário mínimo, pensões, aposentadorias e do BPC (Benefício de Prestação Continuada). 
Ele afirmou ainda que a medida teria sido anunciada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, e seria válida a partir do próximo ano. Janones afirmou que, se a medida estivesse em vigor, o salário mínimo seria reduzido para R$ 1.094. 
A campanha intensificou o tema e Lula participou de uma live em 21 de outubro com o deputado para criticar a medida. Na ocasião, o petista chamou ainda de “irresponsabilidade” o suposto anúncio feito por Guedes e prometeu o reajuste do salário mínimo acima da inflação em um eventual governo.
Guedes rebateu a acusação durante sua participação em live da Organização das Cooperativas do Brasil. O ministro disse que estudo contrário ao reajuste do salário mínimo e aposentadorias não teve seu aval e sugeriu que supostamente um funcionário público ligado ao PT tenha vazado à mídia a proposta preliminar.
Em 20 de outubro, Bolsonaro chamou de “fake news” a ideia e taxou o aliado aliado do petista de “marqueteiro do Lula”. O presidente prometeu ainda o reajuste do salário mínimo acima da inflação em um 2º governo.
Dias depois, a ministra Maria Isabel Gallotti, do TSE, determinou a exclusão de 24 postagens nos perfis nas redes sociais de Lula e apoiadores levantando as acusações contra o presidente. A transmissão de Janones foi removida das redes sociais, mas o trecho do vídeo anunciando os cortes foi para o programa eleitoral de Lula na televisão em 24 de outubro.
Na reta final da disputa pela presidência, as publicações de Janones estão sob o radar do TSE. O corregedor-geral da Justiça Eleitoral, ministro Benedito Gonçalves, determinou na última 2ª feira que a Corte eleitoral monitore diariamente os perfis nas redes sociais do deputado –a medida também vale para os perfis do vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (Republicanos), filho do presidente.
O objetivo é verificar a “publicação contumaz de informações falsas ou descontextualizadas sobre o processo eleitoral”. As informações servirão de base para que o ministro decida se vai ou não suspender as contas de ambos nas redes sociais. Uma eventual punição do tipo iria até às 23h59 de 21 de outubro, dia seguinte ao 2º turno.
Gonçalves determinou que o trabalho seja feito pela Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação do TSE. O monitoramento será feito nos perfis dos políticos no Telegram e Twitter.
O período a ser analisado vai de 22 até 29 de outubro. Um 1º relatório deve contar as informações postadas até às 12h de 3ª feira (25.out). Depois, serão feitas análises diárias até às 12h de sábado (29.out).
“Advirta-se os investigados André Janones e Carlos Nantes Bolsonaro que, caso se conclua, após análise jurídica de qualquer dos relatórios apresentados pela AEED, que há elementos suficientes para caracterizar a ‘produção sistemática de desinformação’, será determinada, nos termos do art. 4º da Res.-TSE 23.714/2022, a suspensão dos perfis, contas e canais mantidos pelo responsável em mídias sociais, até as 23h59 do dia 31/10/2022”, afirmou o ministro.
A resolução citada por Gonçalves foi aprovada pelo TSE, por unanimidade, na 5ª feira (20.out). A norma aumentou poderes da Corte para determinar exclusão de posts nas redes sociais. Leia a íntegra da resolução (13 KB).
Conforme a decisão, Janones e Carlos poderiam ser enquadrados pela regra e ter seus perfis suspensos.
“A norma contempla expressamente a suspensão temporária de perfis, contas ou canais, desde que demonstrada a ‘produção sistemática de desinformação, caracterizada pela publicação contumaz de informações falsas ou descontextualizadas sobre o processo eleitoral’”, diz o ministro.
A decisão foi tomada de forma conjunta em 2 pedidos de investigação, ajuizados pelas campanhas do presidente e do candidato do PT ao Palácio do Planalto.
O corregedor-geral Eleitoral disse que Janones e Carlos são os responsáveis pela comunicação digital de Lula e Bolsonaro, respectivamente. Gonçalves afirmou que há “pontos em comum” na atuação de ambos nas plataformas. Também declarou que o “forte poder de influência” que eles têm já foi usado “de forma a ultrapassar o aceitável”. 
“Tanto André Janones quanto Carlos Bolsonaro já foram alvo de ordens para remoção de conteúdo reputado falso. Não raramente, suas postagens são feitas sabendo que o teor é, ou tende a ser, alvo de ação judicial. Nesses casos, insuflam os seguidores a espalharem o material o mais rapidamente possível”, disse Gonçalves.
“O objetivo, claro, é tornar inócua eventual ordem de remoção. O efeito colateral pode ser ainda mais danoso: a deslegitimação prévia das decisões, antes mesmo de serem proferidas”, completou.
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