Como Gleisi Hoffmann deixou as sombras de Lula e se consolidou na presidência do PT – JOTA
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Partido se articula para prorrogar o mandato da deputada no comando da legenda por mais dois anos
Em um novo capítulo de sua história, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva novamente à frente do Palácio do Planalto, o Partido dos Trabalhadores se articula para prorrogar o mandato da presidente da legenda, Gleisi Hoffmann, até 2025. O gesto da direção contraria a expectativa de que a deputada federal ainda fosse assumir uma cadeira na Esplanada e demonstra a consolidação dela à frente do partido.
É creditado a Gleisi, por exemplo, o amplo espaço que PT conquistou na composição do primeiro escalão do novo governo de Lula, com dez ministérios, e a unificação da sigla após o período de crise com os impactos da Operação Lava Jato, o impeachment de Dilma Rousseff e a prisão de Lula em abril de 2018.
A decisão de que a parlamentar assumiria o comando da legenda ocorreu um ano antes da prisão de Lula e foi oficializada em junho de 2017. À época, a escolha só foi possível por intervenção do petista, que convenceu dois candidatos ao posto a desistirem da disputa, e, ainda assim, Gleisi concorreu contra o então senador Lindbergh Farias (RJ). Embora tivesse obtido a maioria dos votos (61%), o resultado causou desconforto em muitos correligionários. Uma ala defendia que o discurso do partido se modernizasse, mas Gleisi assumiu com o objetivo de erguer a bandeira em defesa de Lula.
Na avaliação da parlamentar, a busca por provar a inocência de Lula significava proteger o legado do partido e o Estado Democrático de Direito. O compromisso com o maior nome do PT se mostrou presente desde o primeiro discurso dela como presidente do partido. Na ocasião, Gleisi afirmou que tomava posse “para defender o partido, mas principalmente para defender o presidente Lula”.
“Não vamos descansar nenhum minuto de fazer a defesa dele. Não pensem que uma sentença de um juiz de primeiro grau vai deixar uma eleição sem Lula. Uma eleição sem Lula não é eleição, é fraude”, afirmou à época.
Antes de ser preso, Lula a tornou sua porta-voz para que não houvesse ruído sobre sua comunicação na prisão. A lealdade seguiu ao longo dos últimos anos e foi citada por fontes ouvidas pelo JOTA como uma das principais características da parlamentar. Após a campanha presidencial do ano passado, ela foi novamente designada por Lula como ponto focal, desta vez para receber indicação de petistas para integrar o governo. Foi neste momento que se fortaleceu a figura de uma personagem mais independente. A petista mostrou capacidade para brigar pela sigla e ocupar mais de um quarto da Esplanada, em postos-chave como os ministérios da Fazenda, com Fernando Haddad, e do Desenvolvimento Social, com Wellington Dias.
Nos últimos dias, com a explosão dos atos golpistas, ela também tem atuado nos bastidores, especialmente em relação à reação do Congresso e do Ministério da Defesa. Mas nem sempre foi assim. Na época em que foi nomeada ministra da Casa Civil no governo de Dilma Rousseff, em sucessão ao ex-ministro Antonio Palocci, caciques da legenda a consideraram inexperiente e não compareceram à sua posse, evidenciando a insatisfação. Aos poucos, porém, a deputada conseguiu diluir o descontentamento que integrantes da sigla acumulavam em relação a ela. Em 2019, quando foi reeleita presidente do PT, ela já teve mais votos, 71% do total.
Gleisi, hoje, é descrita como firme, determinada, democrática e solidária. Um dos exemplos citados sobre sua habilidade de conduzir situações difíceis foi como ela atravessou o período em que se separou do ex-ministro Paulo Bernardo, ao mesmo tempo, em que foi escrutinada na Operação Lava Jato, sem “abaixar a cabeça”. Ela chegou a ser ré na ação, acusada de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, mas absolvida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) um ano depois.
Essa capacidade de se movimentar sem deixar os atritos à vista foi determinante para que o diretório da legenda traçasse o consenso de que o mandato dela, previsto para encerrar no fim deste ano, deve ser prorrogado para após as eleições municipais de 2024. O partido aposta na repetição da articulação que ela fez nos bastidores da campanha presidencial para eleger prefeitos nas principais capitais do país. Além de ter sido o principal nome de interlocução com movimentos sociais, a parlamentar foi responsável por alinhavar alianças com partidos de centro e montar a federação de esquerda, com PCdoB e PV.
Um dos entraves que Gleisi terá que resolver é a disputa pela prefeitura de São Paulo, em que há compromisso com a candidatura do deputado eleito Guilherme Boulos (PSOL), mas existem petistas dispostos a brigar pelo cargo. A permanência dela à frente da legenda também evita um possível racha, pois não há um sucessor natural. “Ninguém nem fala sobre trocar a presidência do PT, esse é um assunto completamente pacificado dentro do partido”, disse um parlamentar ao JOTA.
Com a prorrogação do mandato, Gleisi poderá ficar no comando da legenda por seis anos, se aproximando da marca histórica do ex-ministro José Dirceu. Ele presidiu a legenda de 1995 a 2002. Antecessor de Gleisi, Rui Falcão ficou de 2011 a 2017.
Filiada ao PT desde 1989, a paranaense se aproximou do presidente Lula em 2002, quando participou do grupo de transição lado da então ministra Dilma Rousseff. Em 2010, foi eleita senadora pelo Paraná, entre 2011 e o fim de 2013 esteve no comando da Casa Civil. Em 2014, voltou ao Senado, onde três anos depois, assumiu a liderança do partido. Nas eleições de 2018, ela foi eleita deputada federal e foi reeleita em 2022. Procurada pelo JOTA, a parlamentar não quis comentar.
Grasielle Castro – Repórter freelancer
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Tags Gleisi Hoffmann JOTA PRO PODER PT
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