Como Lula e Bolsonaro disputaram o voto dos cearenses na eleição de 2022 – Diário do Nordeste

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Estratégias dos candidatos à presidência para atrair o voto no Estado começou mesmo antes do período da campanha eleitoral
Escrito por Luana Barros, luana.barros@svm.com.br 06:00 – 30 de Outubro de 2022. Atualizado às 06:51
A disputa presidencial chega ao fim neste domingo (30) quando os brasileiros vão às urnas escolher entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) para um mandato de quatro anos no comando do Palácio do Planalto.
No Ceará, antes mesmo do início da campanha eleitoral, em agosto, os dois candidatos já vinham tentando atrair o voto dos eleitores, mas por caminhos distintos, apontam especialistas entrevistadas pelo Diário do Nordeste.

O candidato petista teve, durante toda a campanha, um forte palanque, formado pelos então candidatos ao Governo do Ceará, Elmano de Freitas (PT), e ao Senado, Camilo Santana (PT), ambos eleitos no último dia 2 de outubro. 
A estratégia no Ceará teve como um dos focos o voto ‘casado’ para os três cargos, algo que se refletia, inclusive, no slogan da campanha: “O Ceará três vezes mais forte”. Além disso, houve o reforço das obras e projetos realizados no estado ainda durante os dois mandatos do ex-presidente. 
Por outro lado, Bolsonaro possui uma resistência no Ceará, assim como em outros estados do Nordeste. Por isso, o mandatário viu o volume de lideranças que o apoiam crescer apenas no segundo turno, durante a campanha antes do 1 ° turno, muitos candidatos preferiram não se alinhar ao presidente. 
Mas a tentativa de atrair os votos cearenses passou por uma maior presença no estado: Bolsonaro esteve no Ceará quatro vezes ao longo de 2022. Lideranças nacionais ligadas ao presidente, como a primeira-dama Michelle Bolsonaro e ex-ministros de Estado, também passaram por aqui. 

Coordenadora do Laboratório de Estudos em Política, Eleições e Mídia (Lepem/UFC), Monalisa Soares lembra que, ainda em 2021, Lula havia falado que queria “disputar o coração bondoso de Camilo”.
Apesar de petista, o ex-governador do Ceará sempre teve forte aliança com os irmãos Ferreira Gomes, ambos no PDT, e nem sempre ‘vestiu a camisa’ de candidaturas petistas no Ceará. 
Ao conquistar o apoio de Camilo, que acabou, inclusive, rompendo com o ex-ministro Ciro Gomes, Lula “ganhou o maior cabo eleitoral do Estado”, reforça Soares. 

“A aposta de estreitar essa relação, de vincular. O Lula pode oferecer algo para o Camilo, que era uma plataforma partidária de envergadura nacional como é o PT. E fez bem esse investimento de fidelizar o Camilo no PT. (…) O movimento mais importante do Lula foi ter disputado e conquistado o coração do Camilo Santana”. 

Monalisa Soares
Coordenadora do Lepem/UFC

Ela lembra ainda que as duas agendas que o ex-presidente petista teve no Ceará tiveram relação direta com as demais candidaturas na chapa, a primeira na convenção que lançou Elmano de Freitas como candidato a governador e a segunda na reta final da campanha de primeiro turno. 
“Aqui no Ceará, existe o fortalecimento do PT pelo Elmano, pelo Camilo como senador. Esse fortalecimento ajuda muito. Ele consolida essa ideia que o Ceará possui de restabelecimento, de regresso de um PT mais forte”, acrescenta a doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Mariana Dionísio. A estratégia serviu, assim, “para dar visibilidade à aliança” e “garantir o voto casado”.
Além da força de lideranças do próprio PT, principalmente os então candidatos da chapa majoritária, a campanha de Lula no Ceará acabou atraindo outros atores políticos importantes no estado.

Tasso e Cid
Legenda: Os senadores Tasso Jereissati e Cid Gomes entraram na campanha de Lula no Ceará neste segundo turno
Foto: SVM

Ainda antes do 1º turno, a governadora Izolda Cela (sem partido) anunciou apoio ao ex-presidente e se encontrou com ele durante agenda em Fortaleza no dia 30 de setembro. Para o segundo turno, ela esteve em São Paulo para participar da gravação de vídeo para a propaganda do candidato.
Para o 2º turno, Lula recebeu mais dois acréscimos à campanha: o senador Cid Gomes (PDT), que vinha fazendo campanha para o irmão Ciro no 1° turno, e o senador Tasso Jereissati (PSDB), que apoiava Simone Tebet (MDB). 
Por outro lado, uma das dificuldades encontradas pelo presidente Bolsonaro no Ceará foi o fortalecimento de um palanque durante a campanha para o 1º turno, e mesmo antes disso. 
Sem uma candidatura própria do PL ao Governo do Ceará,  que chegou a ser cogitada pela presidência estadual da legenda, o principal candidato da oposição, Capitão Wagner (União), não “bancou” o alinhamento com o presidente durante a primeira parte da campanha eleitoral. 
Durante o primeiro turno, quando concorria ao cargo de governador, Wagner evitava se comprometer com a candidatura do atual mandatário e dizia que iria conversar com ‘qualquer presidente eleito’. 

Contudo, neste segundo turno, o deputado federal anunciou apoio a Bolsonaro e entrou na campanha dele no Ceará. Assim como Wagner, outras lideranças políticas anunciaram apoio ao presidente apenas neste segundo turno, incluindo parlamentares do próprio PL, de partidos aliados e prefeitos cearenses. 
“O presidente Bolsonaro foi ganhando esse fôlego nessa rota do segundo turno. No primeiro, tinha mais resistência e (muitos candidatos) não quiseram se associar a ele”, lembra Soares. “O volume de campanha e de gente na rua para pedir voto tem mais agora do que teve no primeiro turno”. 
Além de Wagner, entraram na campanha o senador Eduardo Girão (Podemos) e a candidata ao Senado derrotada, Kamila Cardoso (Avante). Os deputados federais Júnior Mano (PL) e Genecias Noronha (PL), assim como os federais eleitos Matheus Noronha (PL) e Yuri do Paredão (PL) também se engajaram apenas agora na campanha. 

Bolsonaro no CE
Legenda: Para o segundo turno, lideranças políticas do Ceará anunciaram apoio ao presidente Jair Bolsonaro
Foto: Camila Lima

Entre os prefeitos, que têm sido um dos focos da campanha de Bolsonaro neste segundo turno no Ceará, estão Glêdson Bezerra (Podemos), de Juazeiro do Norte, e Giordanna Mano (PL), de Nova Russas.
Uma diferença nessa campanha de segundo turno também foi a forte presença de lideranças nacionais ligadas ao presidente Bolsonaro. Além do próprio candidato, figuras como a primeira-dama Michelle Bolsonaro e os senadores eleitos Damares Alves e Hamilton Mourão estiveram no estado. 
“O Bolsonaro investiu forte aqui no Ceará”, reforça Mariana Dionísio. Essa presença, no entanto, não esteve restrita à campanha eleitoral. O presidente esteve quatro vezes no Ceará apenas em 2022. Em fevereiro e março, quando visitou Jati e Quixadá, respectivamente, o foco eram as obras do Governo, enquanto em julho, ele participou da Marcha para Jesus em Fortaleza. 

Soares argumenta que essas agendas no Estado possuem, portanto, dois focos: o da gestão e o de fortalecimento da base ligada ao “conservadorismo moral”. No primeiro, o objetivo era “construir uma reputação de que tinha feito algo pelo Ceará”, reforça a pesquisadora. 
Em Quixadá, por exemplo, o presidente participou de cerimônia para o lançamento do programa “Força Tarefa das Águas”, projeto voltado aos estados do Nordeste e Minas Gerais para ampliar o abastecimento de água. 
Já em Jati, ele veio inaugurar a liberação das águas do São Francisco para o Cinturão das Águas. “A outra via é mais do conservadorismo moral e do eleitorado evangélico. Ele tenta explorar isso. Então, ele tentou explorar o lugar de gestão e esse de reafirmar uma base que é o público mais evangélico”, reforça Soares. 
Para Dionísio, no entanto, essa última estratégia pode não ser tão efetiva no Ceará, já que “as pautas de costumes são pautas que costumam ter menos aderência” no estado.
A pesquisadora cita ainda a última visita do presidente, no dia 15 de outubro, quando esteve no Conjunto Ceará, na capital cearense. “Ele chega no Ceará nesse segundo turno e corre para se aproximar dos eleitores que receberam o Auxílio Brasil”, exemplifica.
Mariana Dionísio reforça ainda que, semelhante ao que ocorre a nível nacional, no Ceará, os dois candidatos “não buscaram novas propostas”. “Eles contam com as histórias que os precedem”, cita. 

“O PT conta com a história de sucesso no Ceará na época do governo do candidato Lula. Houve redução dos indicadores de criminalidade e nos indicadores da miséria, um aumento dos indicadores de educação. Mas também capitaneados pelo governo municipal e estadual. Foi um conjunto de fatores”. 

Mariana Dionísio
Doutora em Ciência Política pela UFPE

Tanto Dionísio como Soares apontam ainda que, favorável ao candidato petista, está a própria votação do primeiro turno, quando Lula teve 65,9% dos votos válidos no Ceará. Bolsonaro ficou com 25,3%.  

“Aumentou o volume de campanha do presidente, mas a campanha do ex-presidente Lula não parou. Há um esforço dos eleitos para manter, com a campanha, a larga vantagem do presidente. A campanha do PT tinha que manter e conseguiu. Então, a disputa não se altera drasticamente”, reforça Soares. 
Mariana Dionísio acrescenta que, como “não houve mudança de pauta” nem “novas estratégias ou propaganda de propostas” nesse segundo turno “talvez essa falta de propaganda seja fator decisivo para eleitor, que diz ‘já que tudo permanece da mesma forma, eu vou tender a votar com a maioria do meu Estado”. 
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