Confira o que é verdade e o que é enganoso na live de despedida de Bolsonaro – Correio Braziliense
Durante a live de despedida da chefia do Palácio do Planalto, nesta sexta-feira (30/12), o presidente Jair Bolsonaro (PL) fez um balanço dos últimos quatro anos e ressaltou iniciativas do seu governo. Entre as declarações do chefe do Executivo, ele lamentou sua derrota nas eleições para o futuro presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), falou da relação política de Adélio Bispo com o PSol e voltou sustentar ideias enganosas como a de que o proibiram de falar sobre a pandemia da covid-19.
O Correio fez um levantamento para checar o que procede e o que é informação distorcida nas falas de Bolsonaro, que, momentos após a transmissão, embarcou para os Estados Unidos.
O presidente, ao criticar a mídia e fazer relação dos atos terroristas a apoiadores do presidente, levantou a ficha do responsável por esfaquear Bolsonaro durante evento eleitoral de 2018. Adelio Bispo de Oliveira foi, de fato, filiado ao PSol de Uberaba (MG).
O acusado esteve entre os filiados à legenda entre maio de 2007 e dezembro de 2014, quando pediu para deixar o partido. As informações constam do registro de filiados junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Bolsonaro não foi proibido de falar sobre a doença. Em relatório entregue ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), pela Polícia Federal, o presidente é acusado de ter cometido crimes durante a pandemia, por disseminar informações falsas a respeito do coronavírus.
Este inquérito se refere a um pedido feito pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado em referência a uma live feita pelo próprio presidente, na qual ele vinculou a vacina contra a covid-19 ao risco de se contrair aids.
“Você não podia falar sobre a covid, até a liberdade dos médicos foi tolhida”, afirmou presidente em live. Na verdade, o Conselho Federal de Medicina (CFM) não condenou a prescrição de cloroquina e hidroxicloroquina, remédios sem eficácia comprovada no combate à covid-19. A postura chegou a gerar revolta dentro da própria classe médica. Na época, o CFM chegou a reconhecer que a cloroquina e a hidroxicloroquina não são eficazes contra o vírus. No entanto, justificou a não punição de médicos por “respeito à autonomia médica”.
O presidente fez uma chamada de vídeo com a família do guarda municipal Marcelo Arruda, dirigente do PT que foi morto em sua festa de aniversário pelo agente penal Jorge Guaranho. O contato foi feito na época do ocorrido.
Depois desse primeiro contato, o chefe do Executivo chegou também a receber o irmão da vítima. A reunião durou cerca de 30 minutos e contou com um momento de oração comandado pelo ex-senador Magno Malta (PL-ES).
Bolsonaro disse ter comprado diversas doses da vacina contra covid e que quem quis vacinou. Ele chegou a afirmar que em 2020 não existia vacina. A afirmação porém contradiz o que foi falado pelo diretor do Instituto do Butantan, Dimas Covas, na época da CPI da Covid.
Segundo Dimas, em dezembro, o laboratório tinha quase 10 milhões de doses da CoronaVac (5,5 milhões de doses prontas e 4 milhões em processamento). A vacinação no mundo começou em dezembro. No Brasil, apenas em 17 de janeiro.
A investigação feita pela CPI apontou que o Ministério da Saúde recebeu a primeira oferta de vacinas contra a covid-19 em 30 julho de 2020, mas ficou sem resposta. No total, 60 milhões de doses seriam entregues no último trimestre daquele ano.
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Não há elementos que sustentem a ideia de que a equipe do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) irá taxar o Pix. Quando questionado sobre essa possibilidade, no último dia 14, o futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, descartou uma possível cobrança de tributos nesta forma de pagamento.
A expectativa para os próximos quatro anos é de que os senadores e deputados federais endossem pautas conservadoras. Isso porque partidos como o PL e o União Brasil elegeram um maior número de representantes no Legislativo.
No Senado, o Partido Liberal terá a maior bancada. Até então, o partido do presidente da República, Jair Bolsonaro, conquistou 14 cadeiras na Casa. Atrás do PL no número de parlamentares eleitos, virá a legenda do atual presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, a agremiação conservadora PSD. A partir do próximo ano, o partido contará com 11 senadores.
Na Câmara, o partido de Bolsonaro e do cacique Valdemar da Costa Neto (PL) também terá a maioria, a partir do ano que vem. Ao todo, serão 99 deputados. Em seguida, aparece a federação de centro-esquerda PT-PCdoB-PV, com 80 deputados eleitos (PT com 68, PCdoB com 6 e PV com 6).
É fato que alguns dos então ministros de Bolsonaro — a exemplo do chefe da Casa Civil Ciro Nogueira (PP-PI); do ministro da Cidadania, João Roma (DEM-BA); e da secretaria de Governo, Flávia Arruda — surgiram por meio de boas relações com o parlamento. No entanto, o presidente se contradiz ao afirmar que, com o objetivo de ter relações com o Congresso, não concedeu cargos para funções do primeiro escalão. No ano de 2020, em meio à crise gerada pela pandemia da covid-19, Bolsonaro negociou com os partidos do Centrão a entrega de cargos da administração pública em troca de apoio no Congresso.
Nesta frase, Bolsonaro mistura pontos verídicos com suposições que não se sustentam. A verdade é que, caso a guerra entre Rússia e Ucrânia propusesse falta de insumos para produzir alimentos, haveria uma diminuição na oferta, provocando aumento de preço dos produtos.
No entanto, o presidente ignora o fato de que, mesmo com a estabilização de preços dos insumos vindos da Ucrânia, a fome atinge cerca de 30 milhões de brasileiros, segundo estudos da rede brasileira de pesquisa em soberania e segurança alimentar e nutricional.
*Estagiária sob a supervisão de Andreia Castro
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