Conheça a Appito, a sportech que funciona como o “Tinder do futebol” – VC S/A
futebol movimenta mais do que transferências de atletas, acordos de patrocínio e direitos de transmissão. Há um outro mercado nessa seara, mais silencioso e menos lembrado, só que presente em todos os cantos: o do futebol amador.
Os adeptos das peladas sabem que organizar uma partida nem sempre é uma tarefa fácil. Você precisa encontrar gente suficiente para completar os dois times – incluindo os dois goleiros – e com a mesma disponibilidade de dia e horário. Ainda tem o trabalho de reservar o espaço, dividir eventuais custos, manter a comunicação com todo o grupo…
Foi com o intuito de resolver esse incômodo que surgiram as raízes de empreender do francês Rodolphe Timsit, quando ele ainda trabalhava no banco JP Morgan em Londres. “Eu sempre queria jogar futebol, mas não tinha uma ferramenta para encontrar mais jogadores para poder completar o time. Ficava indo ao parque ver quem estava jogando para juntar outras pessoas”, conta.
Quando desembarcou no Brasil, para fazer sua dissertação de mestrado, Rodolphe concluiu que havia um mercado promissor aí. Juntou-se então com o também francês Alexandre Delepau, hoje diretor de operações (COO), para desenvolver a ferramenta da qual sentia falta. Nascia assim, em 2018, a Appito.
A empresa é uma “sportech” legítima. Seu produto original é um aplicativo de celular que ajuda a encontrar jogadores para completar o time. Você cria sua conta no aplicativo e pode convidar outros usuários para formar suas próprias partidas. Dá para marcar no app todos os detalhes importantes: número de vagas abertas, se o tipo de jogo vai ser society, salão ou grama; gênero e faixa de idade dos participantes, além da “intensidade” da partida (“intensa” para jogos mais sérios ou “lazer” para aqueles mais tranquilos). Você pode agendar jogos avulsos ou numa periodicidade fixa.
O pulo do gato é que o app tem a opção de deixar a partida pública, para que qualquer outro usuário do aplicativo possa ver e se candidatar para preencher as vagas e as posições que faltam. O contrário também é possível: quem não tem time pode preencher com suas datas e horários disponíveis, mais a posição na qual está disposto a jogar, e o app vai indicar partidas na região para o jogador solitário, como um Tinder boleiro.
Jogo encerrado, o organizador da partida também consegue registrar as estatísticas da rodada no aplicativo – quem fez gols, assistências, faltas etc. Esses dados vão se acumulando nos perfis dos usuários, que vão evoluindo de “nível” no app de forma gamificada. Ou seja: conforme você vai acumulando conquistas, vai se tornando mais desejável para outras equipes.
Funcionou. Tanto que o aplicativo já passa de um milhão de downloads na Play Store, a loja de aplicativos para Android. Para os empreendedores, porém, o modelo de negócios ainda não estava claro – afinal, como o serviço é gratuito, não havia um caminho claro para a monetização.
Do on para o off
Os dados coletados nos primeiros meses de uso do app revelaram uma nova e promissora oportunidade de negócio para a startup – agora no mundo real mesmo. A demanda por quadras para jogar as partidas se destacava entre os usuários, que estavam dispostos a pagar um bom preço por elas.
“No Brasil, há 30 milhões de jogadores amadores de futebol e só algo entre quatro e cinco mil quadras”, diz Rodolphe, citando dados de pesquisas internas. Além disso, argumenta o francês, é um mercado muito pulverizado e que não passou por inovações, o que abre oportunidades para quem quer empreender.
Em 2020, então, a startup inaugurou a segunda face do seu negócio, a Appito Arena. Localizado na Vila Leopoldina, zona oeste de São Paulo (SP), o local conta com dois campos de futebol society, além de um bar próprio, vestiários, ambiente de socialização com churrasqueira, televisão e videogame, mais um salão para festas e eventos.
A ideia é que os usuários do Appito possam reservar a quadra para seus jogos pelo próprio aplicativo, podendo escolher entre reservas avulsas (que atualmente variam de R$ 590 a R$ 650, dependendo do horário) ou mensais (a partir de R$ 1.290) que dão direito a 90 minutos de uso por semana.
O timing, porém, não ajudou: logo depois da inauguração veio a pandemia, que congelou os encontros presenciais dos peladeiros. A empresa só sobreviveu porque contava com investidores-anjo – tinha levantado R$ 12 milhões. O pior enfim passou, e hoje a Arena é o principal pilar do modelo de negócios da Appito.
Em novembro, mais de 95% dos horários até o final do ano já estavam reservados. Além do aluguel das quadras em si, a empresa fatura com o consumo do bar, e também aluga o espaço para eventos.
O sucesso da fórmula vem chamando a atenção do mercado. Neste ano, a sportech levantou R$ 27 milhões dos fundos Iporanga, Global Founder Capital (GFC) e Inteligo Bank. A Appito também conta com o patrocínio da Ambev, que, em troca, exige exclusividade de seus produtos no bar da quadra.
Uma das apostas para crescer a marca é a parceria com influenciadores do meio futebolístico – o canal Desimpedidos e o youtuber Cocielo, por exemplo –, que utilizam o espaço para produzir conteúdo e que, com seus alcances de milhões de visualizações, atraem outros patrocinadores para o negócio, conta Rodolphe.
Ainda mais tech
Com a nova rodada de investimentos, os planos agora são construir novas arenas pelo Brasil. Para o começo de 2023, pelo menos o início de duas obras estão previstas, ambas no estado de São Paulo.
Não só: a ambição da Appito é reforçar ainda mais a parte “tech” do negócio. Também para o ano que vem está prevista a instalação de câmeras e sensores nas quadras que filmarão e registrarão, via inteligência artificial, as estatísticas de jogo – chutes ao gol, assistências, faltas, distância percorrida, defesas e todos os outros dados que são comuns em partidas profissionais transmitidas pela TV – diretamente no app do usuário, sem que o organizador tenha que adicioná-las manualmente depois. Os jogadores também poderão recuperar replays e compartilhar destaques das filmagens nas redes sociais.
O objetivo para o longo prazo é levar o negócio a outros países da América Latina. “Temos a oportunidade de criar um produto único através da tecnologia e escalá-lo no mundo”, diz Rodolphe. Taí. No país do futebol, quem está de frente para o gol são os franceses.
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