Corrupção sob Jiang Zemin na China abriu caminho para ascensão de Xi Jinping – UOL

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Para a história, Jiang Zemin certamente será lembrado como um ponto de virada na China comunista.
Vindo de uma família simples da província de Jiangsu, na costa leste do país, ele não tinha pedigree revolucionário. Formado engenheiro eletricista, ascendeu ao Comitê Central em 1982, inaugurando com Li Peng (que chegaria a premiê) e Hu Qili (que alcançaria o Comitê Permanente do Politburo) a era dos tecnocratas: comunistas sem filiação histórica ao partido que cresceram graças à combinação de experiência profissional e sólida formação educacional.
Escolhido prefeito de Xangai em 1985, foi ineficiente na posição. Contou a seu favor, porém, a lealdade irrestrita a Deng Xiaoping —então líder de facto do regime. Dois anos depois, as alianças políticas valeriam a ele uma promoção a secretário-geral do Partido Comunista na cidade, com um posto no Politburo.
A ascensão ao coração do poder político do país se daria então por uma conjunção de fatores.
Após o massacre da praça da Paz Celestial e o expurgo do então secretário-geral Zhao Ziyang —considerado simpático aos estudantes que pediam democracia—, Deng se viu cercado por facções conservadoras remanescentes da Revolução Cultural e sedentas para usar a tragédia em Pequim como desculpa para restaurar a “pureza comunista”.
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Jiang, então, foi promovido por ser fraco. Sem alinhamento a alas tradicionais, mas fiel às reformas, era visto como alguém fácil de controlar. Supervisionado de perto pelo próprio Deng e por quadros fundadores da legenda como Chen Yu, Wang Zhen e Yang Shangkun, ele só consolidaria o poder conforme esse nomes foram morrendo ou se afastando da política.
“Foi preciso que Jiang saísse da sombra para que conseguisse promover muitos dos seus aliados no Politburo e nas Forças Armadas”, avalia Victor Shih, pesquisador da elite política chinesa e professor na Universidade da Califórnia em San Diego. “Mesmo assim, ele nunca foi capaz de dominar o partido completamente e precisou dividir o poder, institucionalizando a chamada liderança coletiva que vigorou até este ano.”
A referência é à promoção de oficiais leais a Xi Jinping ao Comitê Permanente do Politburo no último Congresso do Partido, em outubro.

Na área econômica, Jiang se notabilizou por pavimentar a China para a adesão à Organização Mundial do Comércio em 2001, passo fundamental para consolidar o país como potência exportadora global.
Para alcançar o feito, valeu-se do carisma para vencer a desconfiança do mundo após o massacre de 1989. Interessado em história americana e europeia, falava mandarim, cantonês, xangainês, russo, alemão, romeno e inglês. Em visita ao Chile, chegou a fazer um discurso de 40 minutos em espanhol.
Orgulhava-se da capacidade de se comunicar em múltiplos idiomas e se notabilizou no Ocidente após uma entrevista dada ao lendário jornalista americano Mike Wallace, em que alternou entre mandarim e inglês para discutir temas espinhosos como liberdade de imprensa, perseguição a ativistas e autoritarismo.
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A liberalização econômica não veio sem consequências. Durante os anos em que permaneceu no poder, cresceram os casos de corrupção —incluindo aí escândalos com os próprios filhos, Jiang Mianheng, considerado o czar das telecomunicações na China, que ascendeu na carreira por meio de métodos escusos, e o caçula Jiang Miankang, que atuou como lobista da Siemens na expansão do metrô em Xangai em um contrato superfaturado.
Shih avalia que a corrupção foi consequência direta da expansão do mercado privado em um país controlado por oficiais estatais por décadas. “Ao mesmo tempo, ele liderou uma campanha de expurgo de militares corruptos, o que foi muito arriscado, sobretudo depois da morte de Deng, em 1997, por se dar sem uma figura forte por trás.”

Os sucessivos escândalos, porém, se tornariam frequentes e se ramificariam ao longo do mandato do sucessor, Hu Jintao. A transferência de poder foi pacífica, mas abriu espaço para oficiais linha-dura contra a corrupção, como o próprio Xi Jinping.
“Xi, em grande medida, reverteu muito do legado de Jiang. Mesmo assim, o ex-líder ficará conhecido como representante legítimo de uma nova geração no Partido Comunista. Ao longo dos 13 anos em que permaneceu no comando, ele estabeleceu um novo padrão de engajamento com o resto do mundo, que ressoa até hoje e será sempre referência para a diplomacia e a liderança chinesa”, diz Shih.
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