Débora Thomé: Política é coisa de criança – O POVO

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Enquanto acompanhava ansiosa a apuração da eleição permanecendo distante da TV, meu filho, a cada dois minutos, vinha à sala me comunicar os resultados parciais, o percentual dos votos apurados e quantos estados ainda faltavam para o final. Ao mesmo tempo, minha filha, a caçula, tentava entender melhor o que tanto mobilizava os avós, os pais e os vizinhos que nos acompanhavam das varandas.
Entre as muitas novidades desta eleição, o envolvimento das crianças – seja de forma positiva ou negativa – foi um destaque. Participação semelhante só fora vista antes na eleição presidencial de 1989, quando crianças, como eu, acompanhavam jingles, candidatos e emoções naquela que foi a primeira eleição direta pós-ditadura.
Neste ano de 2022, ao mesmo tempo em que se pôde observar o envolvimento positivo das crianças no processo democrático, muitos incidentes foram relatados em escolas por conta da violência, ocorrida no ambiente da disputa partidária, que foi incorporada pelas crianças, dando origem a discussões e, de forma menos frequente, em agressão.
Diante desses fatos, as pessoas passaram a perguntar se política é, efetivamente, um tema a ser tratado pelas crianças. Mas como podemos evitar dar explicações sobre um assunto que invadiu as casas, as ruas e, também, as escolas?
Inegavelmente, a política faz parte da vida de todos, incluindo as crianças: elas negociam representantes de classe, decisões na escola, nos clubes, nas praças e precisam chegar a acordos sempre que há uma discordância, tentando ouvir os diferentes lados das demais crianças envolvidas. A política, afinal, é uma forma não violenta de resolvermos coletivamente os conflitos na nossa sociedade.
Por isso, é fundamental que escolas e professores estejam preparados para tratar do tema para além da disputa partidária da ocasião, utilizando um vocabulário e exemplos que façam parte do mundo dos pequenos. Por exemplo, no livro infantil “Dicionário Fácil das Coisas Difíceis”, que escrevi com o professor da UnB Lucio Rennó, para explicar o que são partidos, dizemos que é preciso conciliar crianças que preferem usar a quadra para correr com as que querem jogar futebol. Mais que isso, lembramos que todos os partidos são válidos, desde que respeitem a democracia.
No contexto atual, evitar o assunto não é uma opção; assim sendo, é necessária uma educação para a democracia desde a escola, que permita a construção de um Brasil pacífico. n
 


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