Derrota de Bolsonaro deflagrou nova onda de violência política no Brasil – UOL Confere
Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em países como Timor Leste e Angola e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). Diretor da ONG Repórter Brasil, foi conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão (2014-2020) e comissário da Liechtenstein Initiative – Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos (2018-2019). É autor de “Pequenos Contos Para Começar o Dia” (2012), “O que Aprendi Sendo Xingado na Internet” (2016), ?Escravidão Contemporânea? (2020), entre outros livros.
Colunista do UOL
04/11/2022 19h03
Além dos bloqueios e atos golpistas, a derrota de Jair Bolsonaro para Luiz Inácio Lula da Silva, no último domingo (30), deflagrou uma nova onda de violência política nesta semana – que precisa ser contida pela aplicação rigorosa da lei sob o risco das agressões se tornarem o novo normal.
No caso mais grave, Luana Barcelos, de 12 anos, e Pedro Soares, de 28, foram mortos por estarem comemorando a vitória do petista em Belo Horizonte. Ruan da Luz, que alegou estar bêbado, atirou e acertou quatro pessoas. Os outros não estão em risco de morte.
Em Jundiaí (SP), estudantes de uma escola técnica foram agredidos quando o ônibus que os transportava passou em frente a um quartel onde ocorria um ato pró-golpe militar. Após um dos jovens fazer um gesto de “L” pela janela, bolsonaristas subiram no ônibus e agrediram os estudantes, como pode ser visto em vídeo que viralizou nas redes.
Uma criança de sete anos ficou inconsciente e teve que ser atendida em um hospital, em Divinópolis (MG), após um homem apertar o seu pescoço em uma padaria no domingo (30). Segundo a mãe da criança, o responsável é um policial militar reformado e teria se irritado quando o menino respondeu “Lula lá” ao ser questionado se era bolsonarista. A PM disse que prestou atendimento à criança, mas não encontrou o responsável em sua casa.
Golpistas provocaram uma confusão durante um espetáculo infantil na Feira do Livro de Porto Alegre, uma das mais tradicionais do país. Pouco antes da peça, os bolsonaristas chutaram as estruturas de ferro do evento e ofenderam quem estava no teatro. A PM teve que usar gás de pimenta para dispersar os bandidos e permitir o início do espetáculo.
Duas irmãs que defendiam Lula e vestiam vermelho foram empurradas e cuspidas por outros colegas em uma escola de elite em Curitiba. E em um grupo de WhatsApp, jovens estudantes da capital paranaense defenderam atirar em petistas e feministas após a derrota de Bolsonaro. Um sugeriu a arma do pai, outros falaram em comprar metralhadora.
O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, foi xingado por cerca de 20 minutos ao ser reconhecido em um restaurante em Porto Belo (SC) por golpistas que participavam de um bloqueio. Deixou o local para evitar tumultos, mas foi seguido até a residência em que estava hospedado. Quando a situação ameaçou fugir do controle, teve que ir embora. A PM, segundo reportagem do UOL, afirmou que os atos foram realizados de forma “pacífica e ordeira” – o que é um disparate.
A reconstrução de laços de uma sociedade dividida é fundamental para que possamos reerguer o país após Jair Bolsonaro deixar o poder, mas a pacificação dos ânimos não significa ignorar crimes cometidos em nome da inconformidade com os resultados eleitorais.
Já é inaceitável que bolsonaristas radicais tenham trancado rodovias e promovido atos pedindo golpe militar, ou seja, exigindo que o Estado de Direito seja atropelado porque não concordam com a decisão da maioria dos brasileiros. Golpistas e seus financiadores precisam ser denunciados, processados, julgados e presos. Não é possível ser tolerante com quem pede morte à democracia.
Agora, ter o mesmo grupo social radicalizado atentando contra a vida de brasileiros é ultrajante. Todos os envolvidos precisam ser identificados e tirados de circulação, e, no caso de adolescentes, seus responsáveis legais precisam se explicar, porque esses atos descritos aqui representam um risco à integridade da coletividade.
O Brasil viu outras ondas de violência recentemente, por exemplo, quando assassinatos por motivos políticos foram cometidos no período eleitoral – mortes que começaram com o petista Marcelo Arruda pela arma do bolsonarista Jorge Guaranho.
Nem sempre a violência partiu de bolsonaristas, como o caso do carro que atropelou de forma criminosa pessoas que estavam em um bloqueio golpista em Mirassol (SP), e que também merece a punição prevista em lei. Mas a principal fonte da violência nesta eleição tem sido o bolsonarismo, que coloca o justiciamento miliciano acima da Justiça, pregando que se o mundo não funciona do jeito que eles esperavam, o mundo tem que levar porrada até se corrigir.
Essa situação poderia mudar com um presidente da República e seus aliados ideológicos acalmando a sociedade que ajudaram a alucinar. Mas como isso não vai acontecer (nem seus seguidores acreditaram nas declarações que ele fez, pedindo o fim dos bloqueios), resta à Justiça se mexer.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL
Leonardo Sakamoto
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Isabel Harari e Leonardo Sakamoto
Leonardo Sakamoto