Discurso de Lula flerta com um erro velho do PT – UOL Confere

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na “Folha de S.Paulo” (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro “A História Real” (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de “Os Papéis Secretos do Exército”.
Colunista do UOL
10/11/2022 21h22
Numa época em que há tantas tolices novas à disposição, ninguém deveria cometer o mesmo erro duas vezes. Entretanto, a despeito da fartura de alternativas, Lula resolveu cometer um equívoco que é velho conhecido do PT. Desdenhou da importância do equilíbrio das contas públicas.
Enumerou interrogações num discurso. “Por que pessoas são levadas a sofrer para garantir a tal da estabilidade fiscal nesse país? Por que toda hora as pessoas dizem que é preciso cortar gasto, que é preciso fazer superávit, que é preciso ter teto de gastos?”
A resposta para as indagações de Lula é bastante simples. O governo brasileiro é financiado pela dívida pública. Quanto maior for a capacidade do Estado de demonstrar que terá como pagar suas dívidas, menores serão os juros cobrados pelas pessoas que emprestam ao Tesouro Nacional.

Imagine que um vizinho pendurado no cheque especial e no cartão de crédito lhe peça um empréstimo. Se ele não foz capaz de lhe mostrar um plano para retirar o pé da lama, você talvez considere a operação arriscada. Talvez exija juros escorchantes. Talvez bata a porta na cara do vizinho.
Lula se agarra à tese segundo a qual certas despesas públicas não são gastos, mas investimentos. Insinua que produzir superávits de caixa para pagar os juros da dívida pública é o mesmo que engordar financistas graúdos em detrimento do atendimento aos brasileiros mais pobres. Essa noção é duplamente equivocada.
Primeiro porque não são apenas os gatos gordos da Faria Lima que compram o papelório do Tesouro. A classe média também empresta suas economias ao Estado. E ninguém quer perder dinheiro. O segundo equívoco de Lula é fingir que ignora o fato de que o descontrole das finanças nacionais produz inflação. E a maior vítima da carestia é justamente brasileiro pobre.
Lula critica o teto de gastos. Perda de tempo. Esse telhado já não existe. Foi mandado para os ares sob Bolsonaro. Será explodido novamente com a PEC da transição. O que Lula precisa oferecer agora, a exemplo do vizinho endividado, é uma nova regra que ofereça aos credores do governo a segurança de que receberão de volta o dinheiro que emprestaram.
Hoje, 96% do orçamento federal está bloqueado pelo custeio de despesas obrigatórias —dos salários ao custeio da máquina. Restam 4% para o governo investir. É pouco, muito pouco, pouquíssimo. Para complicar, o centrão atravessou na traqueia de Bolsonaro o orçamento secreto, sequestrando parte das arcas.
No orçamento de 2023, a ser herdado por Lula, enfiaram-se R$ 19,4 bilhões em emendas secretas. Foi para preservar as arcas do centrão que o governo Bolsonaro passou na faca verbas destinadas a programas como Farmácia Popular e merenda escolar.
Parece óbvio que o próximo governo terá de racionalizar gastos e aprovar reformas que liberem o caixa para os investimentos, inclusive as aplicações sociais.
A irresponsabilidade fiscal foi a marca da gestão petista de Dilma Rousseff. A aventura resultou na maior recessão da história —um tombo de quase dez pontos percentuais de encolhimento do PIB per capita. O que se espera de Lula é que pelo menos cometa erros novos. No discurso e na prática.
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Josias de Souza
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