Eduardo Cunha | A verdadeira escória da política – Poder360
Sergio Moro fica desmoralizado ao aparecer ao lado de Bolsonaro, escreve Eduardo Cunha
Quando assistimos ao debate da Band com os candidatos a presidente, nos deparamos com a imagem da verdadeira escória da política, que reapareceu junto de Bolsonaro.
Trata-se do ex-juiz Sergio Moro, ex-chefe da organização política Lava Jato –que, pelo que a chamada “operação Vaza Jato” indica, poderíamos chamar de criminosa. Moro, que teve sua parcialidade reconhecida pelo STF, violou direitos e garantias promoveu uma espécie de operação de sequestro de pessoas, com resgate via delação premiada.
Esse mesmo Moro entrou no governo Bolsonaro achando que iria ser ministro do STF ou, ainda, vice-presidente na sua reeleição para depois ser o candidato de Bolsonaro na sua sucessão. Acabou saindo escorraçado com um chute. Por isso fez graves acusações contra o presidente, ainda até hoje apuradas em inquérito no STF.
Enaltecido pela grande mídia, especialmente as organizações Globo, Moro teve uma cobertura jornalística jamais vista ao acusar Bolsonaro. Talvez achassem que desgastariam Bolsonaro e, talvez, acabar fazendo com que fosse deposto em um processo de impeachment.
Agora essa grande mídia assistiu à desmoralização de Moro por Bolsonaro. De maneira bastante astuta, o presidente mexeu com a ambição desmedida do ex-juiz, que não resiste a tentar continuar o seu projeto político, esquecendo que as acusações que ele fez estão na memória de todos.
A Polícia Federal não conseguiu comprovar absolutamente nada das acusações feitas por Sergio Moro a Bolsonaro. Fica a pergunta no ar: não caberia a ele responder por denunciação caluniosa? Por que a PGR não o denunciou?
Ou o que o Moro falou é verdade –e, nesse caso, Bolsonaro tem que responder pelas acusações– ou é falso –o que o inquérito parece indicar.
Para você, que assistiu a essa cena, às diversas entrevistas dele, à sua fracassada campanha de candidato à Presidência da República: qual a sua impressão sobre Moro hoje?
Se ele falava a verdade, jamais poderia estar ao lado de Bolsonaro. Mas se mentia, por que lá está, ao lado do presidente? Hoje aparece até em lives com Bolsonaro. É realmente muita cara de pau.
Para Bolsonaro, é um atestado de inocência: Moro ao seu lado, como assessor de palco ou apoiador em uma live. Ele deve estar rindo de orelha a orelha.
Para os comentaristas das organizações Globo, foi uma decepção. Isso ficou evidente no que falam os seus comentaristas. Finalmente tiveram que reconhecer a parte da personalidade de Moro que tentaram esconder do povo brasileiro durante todos esses anos.
O jornal O Globo chegou a publicar um editorial (link para assinantes) onde relembra publicações feitas por Moro em redes sociais. Ele dizia: “Assim como Lula, Bolsonaro mente. Nada do que ele fala deve ser levado a sério. Mentiu que era a favor da Lava-Jato. Mentiu que era contra o Centrão, mentiu sobre vacinas […] e agora mente sobre mim. Não é digno da presidência.”
Em outra postagem relembrada pelo jornal, o “íntegro” Moro dizia: “Vai abrir as contas do gabinete e da rachadinha, Bolsonaro? E você, Lula? Vai abrir as contas das suas palestras e do sítio de Atibaia?”
A vontade de derrotar Bolsonaro e o medo da sua provável vitória conseguiram materializar essa proeza da desconstrução do Moro-juiz, da perda da sua credibilidade. Amigo do meu inimigo, seja quem for, também é meu inimigo.
Capaz das organizações Globo pedirem de volta aquele prêmio Faz Diferença, quando Moro foi agraciado como personalidade do ano. Agora se constata que Moro não fez nem faz diferença alguma, além de ser uma personalidade nefasta.
Moro sempre foi um oportunista, carreirista, sem qualquer escrúpulo para alcançar seus objetivos. Suas frases e opiniões, assim como as sentenças como juiz, não contêm qualquer verdade que não seja satisfazer o seu interesse pessoal.
Gostaria de revisitar o meu artigo de 25 de abril de 2022 no Poder360: “Moro: o personagem mais odiado da eleição de 2022”. Na época, eu o comparava ao odiado personagem Arturo Román do seriado espanhol “La Casa de Papel”.
Ele já era escória da política, mas de lá para cá tivemos fatos novos para engrandecer seu currículo: a Justiça Eleitoral reconheceu seu domicilio eleitoral como irregular. Moro concordou com a decisão. Não recorreu.
Mas o ex-juiz nem se deu por rogado. Sua mulher foi candidata com o mesmo domicílio irregular. Não foi questionada judicialmente.
Ou seja: Moro retornou ao seu domicílio real, no Paraná, mas sua mulher foi candidata a deputada federal em São Paulo, com domicílio reconhecidamente irregular. Ela não morava com ele? Aliás, ela até tinha, no passado, uma página nas redes sociais chamada Eu Moro com Ele.
Na época, Moro chamou meus advogados de irresponsáveis porque argumentaram que essa página da mulher dele ajudava a comprovar sua parcialidade nos processos. Então a página era falsa? Ela não morava com ele? Se sim, o seu domicílio eleitoral também deveria ser considerado irregular.
Por óbvio, os mandatos deles ainda serão contestados na Justiça Eleitoral. É possível que, com o resultado, eles tenham que se retirar.
Falando no casal: por que que a prestação de contas parcial das candidaturas dele e da mulher trouxeram um gasto de R$1,1 milhão em despesas com advogados, valor absurdamente alto em comparação com as demais candidaturas? Se esse gasto fosse investigado, um juiz com o mesmo modus operandi de Moro não o condenaria por lavagem de dinheiro?
Não deveríamos “seguir o dinheiro” e quebrar o sigilo dos advogados de Moro, verificando se ele não o beneficiou de alguma forma, ou serviu para pagar honorários de outros advogados, que não os eleitorais? Talvez um juiz como Moro chegasse à conclusão de que esse dinheiro pagou os honorários de outros advogados subcontratados –possivelmente os que o defenderam quando ele fez acusações contra Bolsonaro.
Podemos fazer com Moro as ilações que ele sempre fez com os seus jurisdicionados. Imaginem só: fabrica-se um delator e ele afirma que esse dinheiro de fundo público eleitoral foi usado em benefício do ex-juiz, sem apresentar qualquer prova. O que seria do político Moro debaixo do juiz Moro? Seria preso, condenado? Teria de pedi socorro aos tribunais superiores?
Ainda podemos revisitar a história do seu contrato, nos Estados Unidos, com a empresa Alvarez & Marsal, que recebia dinheiro de companhias em recuperação judicial por conta da Lava Jato, como Odebrecht e OAS.
É um acinte. Assistimos a ele pregar contra a corrupção, para depois declarar um gasto fora do padrão com advogados.
Desafio qualquer um a provar se existiu outra candidatura a deputado ou a senador com tamanho gasto com advogados. A prestação de contas final deles ainda pode trazer mais surpresas.
Mas é certo que, para Moro, a corrupção nunca será de si mesmo ou de sua família. Ele é realmente muito “íntegro”.
Mesmo depois de ter seu domicílio eleitoral derrubado pela Justiça, Moro conseguiu enganar uma parte da população de São Paulo. Sua mulher se elegeu. O ex-juiz ganhou mais um gabinete às custas do dinheiro público, que ele tanto gosta de usufruir.
Com o retorno ao seu domicílio ao Paraná, Moro saiu candidato ao Senado. Concorreu contra o senador Álvaro Dias (Podemos), justamente quem o acolheu na política.
Acabou vencendo. Mas, para isso, teve de se assumir como apoiador de Bolsonaro, pois percebeu que iria perder a eleição –não para Álvaro Dias, mas para o candidato do partido de Bolsonaro, o deputado Paulo Martins (PL), que ficou em 2º lugar.
É só ver que, em São Paulo, 521 mil votos para governador foram dados no número 22, do partido de Bolsonaro – e anulados, porque o candidato apoiado pelo presidente, Tarcísio de Freitas, concorre com o número 10, correspondente ao partido Republicanos. Moro viu a onda chegando e resolveu surfar nela, ignorando as acusações que havia feito a Bolsonaro. Para ele, isso era secundário. O importante era vencer, custasse o que custasse.
Imaginem só: como ele poderia vencer a eleição sendo visto como falseador de acusações contra o maior cabo eleitoral do Paraná?
Moro não tinha alternativa. Teve que inventar um argumento de que o PT era o inimigo comum para declarar apoio a Bolsonaro ainda no 1º turno. Traiu inclusive o seu partido, que tinha uma candidata a presidente.
Para quem não tem escrúpulos, como Moro, isso não tem qualquer problema. Trair mais um, como já havia traído Bolsonaro, não lhe custaria nada. O duro seria a derrota eleitoral, que iria enterrar a sua carreira política iniciada com a Lava Jato.
Quem errou foi o PT, que, querendo derrotar Moro, defendeu o voto em Álvaro Dias, sem saber fazer a leitura da eleição. Se tivesse apoiado o candidato de Bolsonaro, Moro sairia derrotado.
Engraçado: a mulher de Moro não declarou apoio a Bolsonaro. Por que será?
Moro teve de se humilhar, abandonando as acusações a Bolsonaro. O convite para virar assessor de palco de estúdio do presidente pareceu para ele uma oportunidade de tentar se integrar de novo. Como se alguém fosse confiar em um ser tão abjeto.
Alguém em sã consciência acredita que Bolsonaro um dia vai confiar no seu ex-ministro? Nem Moro acredita nisso.
Mas, para Bolsonaro, a oportunidade de desmoralizar Moro –e, ao mesmo tempo, usá-lo para lembrar Lula das acusações que sofreu– foi realmente uma dádiva. Alguns podem até mudar seu conceito sobre o presidente: um ser que antes consideravam como outsider da política e da sua lógica acabou dando uma aula de como dar a volta por cima de uma constrangedora ameaça que seu governo sofreu.
Bolsonaro se saiu melhor do que muitos que se livraram de assessores perigosos e depois tiveram de conviver com essas sombras. Já o falso Moro quer tentar se matricular na provável vitória de Bolsonaro para cobrar alguma fatura ou até se apresentar como salvador da campanha. Quanta arrogância desse cidadão.
Moro sabe que Bolsonaro já virou a eleição. O Poder360 publicou um estudo técnico muito bem-feito sobre as perspectivas das eleições. Não tenho espaço para comentar todos os detalhes, mas farei as devidas considerações em cima do real resultado das urnas. Acredito que Bolsonaro vai vencer por 2 a 4 milhões de votos de diferença.
Bolsonaro terá de 51% a 52% dos votos válidos. Lula ficará com 48% ou 49%.
Faço algumas considerações sobre por que aposto nesse resultado. Em 1º lugar, o número de brancos e nulos foi o mais baixo da história: 4,4% no 1º turno. Nenhum estudo levou isso em consideração. O que foi publicado aqui indica que cerca de 8 milhões de votos dados a Lula ou a Bolsonaro podem mudar de dono no 2º turno.
Em 2º lugar, Bolsonaro já tirou a diferença do 1º turno apenas com São Paulo –onde aumentará a sua diferença em 4 milhões de votos– e Minas Gerais –onde transformará a derrota por 600 mil votos em uma vitória com vantagem de mais de 1 milhão de votos.
Sem contar com a região Sul. No Paraná, o governador reeleito teve 600 mil votos a mais do que Bolsonaro no 1º turno. Isso se reverterá agora. Bolsonaro também deve aumentar sua votação no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.
Muitos ficam falando que Bolsonaro depende do aumento da abstenção, pois ela se daria nos mais pobres. Esquecem-se que a abstenção vai aumentar por 2 motivos: primeiro, porque eleitores de Ciro e de Simone vão se abster ou até votar em branco ou nulo, estimo que em uma taxa próxima de 35%; segundo, porque os eleitores destes candidatos que forem votar serão na sua maioria a favor de Bolsonaro, já que muitos que optaram por Lula já o fizeram no 1º turno, em resposta à campanha do petista pelo “voto útil”.
Em 3º lugar, essa análise da abstenção está equivocada. Primeiro porque ela foi maior do que a média no Rio e em Minas Gerais, Estados onde a eleição para governador foi decidida em 1º turno, ou em São Paulo, onde Bolsonaro venceu. Em todos estes casos, a abstenção foi alta por uma razão: as filas. Eu mesmo testemunhei isso em São Paulo e ouvi isso de eleitores do Rio.
Muitos que desistiram pelas filas podem comparecer no 2º turno, quando as filas serão menores porque a votação é menos complexa. Em alguns lugares, só haverá o voto para presidente.
Também muitos se esquecem que quem leva os eleitores às urnas são, muitas vezes, os candidatos a deputado, inclusive com a mobilização de cabos eleitorais e as chamadas “bocas de urnas”. Isso não existirá no 2º turno.
Como os candidatos proporcionais ligados ao PT estão, em sua maioria, onde Lula venceu, principalmente no Nordeste, a tendência é que, nestes lugares, a abstenção cresça. Isso favorece Bolsonaro.
Em 4º lugar, as provocações do PT no TSE, com as suas recentes decisões desfavoráveis a Bolsonaro, vitimizaram o presidente de tal forma que ele deveria distribuir medalhas de agradecimento no fim do processo eleitoral. Quanto mais a campanha de Bolsonaro é punida, mais ele cresce.
Até o sentimento de preservação da democracia já está hoje mais para Bolsonaro do que para seus adversários.
Tirar programas de TV de Bolsonaro não fará a menor diferença. Bolsonaro ganhou em 2018 sem televisão. Ele não liga para isso. Fora que o seu programa de TV é muito ruim. Se Bolsonaro fosse depender da TV para vencer as eleições, ele já teria perdido.
Voltando ao Moro: o ex-juiz foi apenas um instrumento muito bem usado para desmoralizar a si mesmo. Isso impediu que suas acusações fossem usadas contra Bolsonaro por Lula. Até porque, quando Bolsonaro acusa o petista de corrupção, Lula poderia responder que seu governo não interferia nas investigações, citando Moro como contraponto.
Bolsonaro impediu que Lula rebatesse com esse argumento. Moro estava ali ao lado dele, dizendo sem falar: “Eu menti quando acusei Bolsonaro”.
Parabéns, Bolsonaro, pela estratégia. Além de desmontar a do seu adversário Lula, desmoralizou o seu acusador Moro, posando de magnânimo por perdoar o detrator. E estarreceu a mídia, a fazendo constatar que errou com esse ex-juiz. Mas, mais do que tudo isso, conseguir mostrar para a sociedade quem é a verdadeira escória da política. Ela atende pelo nome de Sérgio Moro.
Quem sabe ele não vai virar coach, como o Arturo, do seriado “La Casa de Papel”?
Eduardo Cosentino da Cunha, 64 anos, é economista e ex-deputado federal. Foi presidente da Câmara em 2015-16, quando esteve filiado ao MDB. Ficou preso preventivamente pela Lava Jato de 2016 a 2021. Em abril de 2021, sua prisão foi revogada pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região. É autor do livro “Tchau, querida, o diário do impeachment”.
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