Eduardo Cunha | Por que Bolsonaro perdeu a eleição – Poder360

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Mais do que os adversários, presidente foi derrotado por conta dos aliados, escreve Eduardo Cunha
Peço desculpas pelo texto longo, mas necessário para uma compreensão melhor destas eleições. Na verdade, seria necessário um livro e não um artigo.
Certa vez, o ex-presidente Jânio Quadros estava sendo entrevistado por um repórter, que o chamou de “você”. Jânio o corrigiu imediatamente, pedindo para ser chamado de “senhor”, porque a intimidade provocaria duas coisas: “Dívidas e filhos”. No seu conhecido estilo, completou: “Filhos, eu já os tenho; e dívidas, eu não as quero ter”.
O que isso tem a ver com a derrota de Bolsonaro? A resposta é simples: aliados, alguns se achando e se comportando como amigos íntimos, criaram desgastes que certamente tiraram votos de Bolsonaro no último momento, sem qualquer culpa dele. Acabaram sendo “dívidas constituídas”, pela suposta intimidade.
De jeito simples, absolutamente avesso à pompa do cargo, Bolsonaro acabava transformando a sua humildade e simplicidade em concessão de intimidade a pessoas que deveriam estar bem distantes do seu convívio.
Um exemplo disso foi a deputada Carla Zambelli (PL-SP), responsável pela grotesca imagem onde corria com uma pistola na mão enquanto atravessava uma rua em São Paulo. Esse comportamento caiu na conta de Bolsonaro por conta da proximidade da deputada com ele. Muitos votos foram perdidos na véspera e no dia da eleição por isso. Bolsonaro foi enquadrado como apoiador dessas loucuras, cujas imagens foram transmitidas na TV.
Bolsonaro passou a sua campanha inteira sofrendo as consequências de assumir posicionamentos radicais. Mas, na maior parte do tempo, elas vieram de apoiadores e não dele. No fim da corrida, deparou-se com esse episódio da Zambelli e foi prejudicado.
Sabemos que nestas eleições houve um grande consórcio da mídia para derrotar Bolsonaro, carimbando-o como antidemocrático e combatendo todos os seus atos. Os veículos buscaram sempre ridicularizá-lo com uma cobertura desigual e desonesta, visando a influenciar o eleitor.
A grande mídia conseguiu transformar a ojeriza a Bolsonaro em algo maior que a ojeriza ao PT. Foi a principal razão da derrota. A vontade de tirá-lo era muito maior que a falta de vontade de aturar o PT de novo.
Se a ideia era que as candidaturas tivessem tratamento isonômico, o vídeo da TV Globo em que a redação comemorava o momento em que Lula era declarado vencedor já diz muito. Infelizmente nunca houve essa vontade. Bolsonaro estava escalado pela mídia para perder e sucumbir, custasse o que custasse.
Não vão parar com a sua derrota. Vão buscar sua exclusão definitiva da vida pública, tentando impedir que volte a concorrer de novo. A mídia busca a extinção completa de Bolsonaro.
Era o que já se via na forma que a mídia explorava a pandemia. Bolsonaro fez o melhor que poderia ter feito, mas suas falas eram colocadas como se fossem de desprezo à vida das pessoas. Isso já tinha causado muito estrago na sua imagem e aumentado sua rejeição.
A contínua comparação com Trump também o prejudicou. A derrota do presidente dos Estados Unidos foi amplamente comemorada pela mídia. O objetivo era ligar Bolsonaro à resistência de Trump em aceitar o resultado das eleições e à invasão do Capitólio, comportamentos enquadrados como antidemocráticos.
Tudo para colar na cabeça da população a ideia de que votar em Bolsonaro é ser contra a democracia. O que é absurdo: quem se sujeita à eleição é democrata. O próprio comportamento de Bolsonaro na transição contraria isso.
Do outro lado, Lula prega em conversas com autoridades estrangeiras que está recuperando a democracia no Brasil, mas não explica nem revê o seu apoio a ditaduras estrangeiras. Qual democracia ele está restabelecendo? A de Cuba, a da Nicarágua ou a da Venezuela?
Também não podemos deixar de lembrar que o ex-juiz Sergio Moro, com seus métodos espúrios, contribuiu para tornar Lula vítima. Isso reabilitou o petista para a disputa.
Longe do que falam, Bolsonaro teve um desempenho fantástico no 2º turno e poderia, sim, ter vencido. Eu, aliás, previa que o desfecho seria esse, com base em dados compilados, conforme expus em meu artigo anterior.
No 1º turno, Bolsonaro teve 1,8 milhão de votos a mais do que no 1º turno de 2018. No 2º, teve mais 400 mil em comparação à 2ª votação que o elegeu presidente pela 1ª vez. Se ele tivesse repetido no 2º turno a diferença de 1,8 milhão, provavelmente estaria eleito –considerando-se que o 1,4 milhão de votos que faltaram acabariam vindo em parte de Lula, dos brancos e dos nulos.
Lula liderou o 1º turno com 6,2 milhões de votos a mais que Bolsonaro. O presidente reduziu essa vantagem em 4,1 milhões de votos no 2º turno.
A eleição de 2022 teve algumas características que a diferenciam das outras. O número de brancos e nulos foi menor que em outras. A taxa de abstenção diminuiu no 2º turno. O percentual de votos válidos foi alto.
Para se ter uma ideia, em 2018 tivemos 107 milhões de votos válidos no 1º turno e 104 milhões no 2º turno, em um eleitorado de cerca de 147 milhões de eleitores. Em 2022, o eleitorado aumentou em 9 milhões de eleitores; já o número de votos válidos aumentou em 11 milhões no 1º turno e em 14 milhões no 2º turno, em relação às respectivas votações 4 anos antes. Seria como se todos os novos eleitores tivessem ido votar, junto com mais 5 milhões que não votaram em 2018. É um número muito alto.
A que se deveu isso? Talvez a polarização acirrada tenha estimulado maior presença nas urnas. A eleição nitidamente despertou paixões. Em muitos lugares que a gente caminhava, via-se que os eleitores estavam decididos do voto para a eleição presidencial muito antes dos outros cargos.
Também houve um esforço além do normal para que jovens de 16 a 18 anos tirassem o título. Era visível que esses novos eleitores, na sua maioria, tendiam a votar em Lula. Esse pode ter sido um dos principais fatores –se não o principal– da vitória final de Lula.
Também os eleitores de Bolsonaro, mais idosos, tiveram dificuldades de comparecer às urnas. No 1º turno, as longas filas atrapalharam, apesar do acesso privilegiado que pessoas desse segmento deveriam ter.
No 2º turno, com a redução do número de cargos em disputa, as filas se reduziram bastante, aumentando essa presença.
Analisando-se os votos de 2º turno, nota-se que há uma redistribuição desigual do total de votos dados a outros candidatos, que não foram ao 2º turno (perto de 9,9 milhões), acrescidos dos votos válidos a mais no 2º turno (322 mil). Deste contingente, cerca de 70% foram para Bolsonaro e 30%, para Lula.
Com isso, Bolsonaro ganhou os mais de 4 milhões de votos no 2º turno que diminuíram a diferença para Lula em relação ao 1º turno. Para que Bolsonaro vencesse, seria necessário que tivesse 80% e não 70% desses votos; nesse caso, Lula teria 20%, e não 30%.
Ainda que reconheçamos o desempenho excepcional de Bolsonaro no 2º turno, não podemos de deixar de realçar as razões pelas quais ele perdeu a eleição.
O começo de fato da campanha de 2º turno foi o debate da Band, onde Bolsonaro se saiu bem melhor do que Lula, encurralando-o. Isso se refletiu na semana seguinte, nas próprias pesquisas contrárias a Bolsonaro.
Na véspera desse debate, a campanha de Lula tentou colocar Bolsonaro como pedófilo, desvirtuando palavras de Bolsonaro em entrevista, quando ele falou sobre mulheres venezuelanas.
As decisões pedidas e obtidas pela campanha de Lula na Justiça Eleitoral beneficiaram muito a sua campanha. A Bolsonaro não foi dado o mesmo tratamento. Mesmo quando os seus pedidos foram aceitos, as decisões eram menos céleres. Isso causou enormes prejuízos à sua campanha. A única decisão que de fato o ajudou foi sobre as postagens que o acusavam de pedofilia.
Eventualmente, o excesso de decisões contrárias a Bolsonaro acabou o vitimizando perante a opinião pública, e ele acabou favorecido.
É preciso registrar que o programa de TV de Bolsonaro era muito inferior ao de Lula. Chegaram ao cúmulo de esconder o belo jingle de Bolsonaro, confundindo o público com várias músicas diferentes. Não se deu visibilidade à principal virtude de Bolsonaro, que era a recepção popular por onde ia. O programa de Lula, por outro lado, mostrava uma recepção ao candidato que a gente não via, naquele momento, nas ruas.
O eleitor que queria votar em Lula estava, em parte, envergonhado. Só ao final perdeu essa vergonha.
Depois da Band, Lula fugiu de um outro debate organizado por um pool de mídia, coordenado pelo SBT, que acabou transformado em entrevista de Bolsonaro, onde ele se saiu muito bem. A campanha do presidente também organizou uma live de 22 horas no dia 22. A ideia era boa, mas a execução foi errada. Que apelo popular tinha Roberto Justus?
Naquele momento, Bolsonaro estava convivendo com os boatos sobre um suposto estudo da equipe de Guedes a respeito da correção do salário mínimo em um valor inferior à inflação. Nessa live, Bolsonaro não conseguiu passar claramente a imagem de que essa era uma sabotagem da própria equipe de Guedes, aproveitada pela campanha de Lula.
Bolsonaro também não conseguiu rebater as fake news de que era contrário ao 13º salário e às férias. O PT surfava nestes boatos –o que, aliás, é usual nas campanhas do partido. Na internet, foram distribuídos vídeos com uma inexistente proposta de Bolsonaro de uma PEC (com número falso, inclusive) que visaria a acabar com o 13º salário. Eu mesmo recebi esse vídeo.
Se precisasse encontrar um culpado principal pela derrota, eu me arriscaria a apontar Paulo Guedes. Já antecipei isso em outro artigo, “O que Bolsonaro e o Flamengo têm em comum”. Nele, eu sugeria que Guedes poderia ser o ministro da Economia de Lula, caso ele ganhasse as eleições. Pelo menos ele merecia isso.
Naquele artigo eu sugeria que tanto o Flamengo quanto Bolsonaro deveriam trocar de técnico –na época, respectivamente, Paulo Souza e Paulo Guedes. O Flamengo trocou e acabou campeão da Copa do Brasil e da Libertadores. Bolsonaro não trocou e perdeu a eleição.
Se você me pergunta por qual razão Guedes seria culpado, eu posso listar várias, desde o início do mandato. Até as suas declarações, que o deixam como um falastrão.
Guedes teve o comando de quase tudo que era relevante no governo, incluindo Petrobras, Caixa, Banco do Brasil e BNDES. Ele atrapalhou muito as soluções para a redução do preço dos combustíveis e do novo auxílio Brasil de R$ 600. Ao retardar a implantação desse auxílio, ele impediu que Bolsonaro crescesse o suficiente nesse eleitorado para vencer a eleição. De acordo com reportagem do Poder360, Bolsonaro só cresceu 2 pontos percentuais no eleitorado das cidades mais dependentes do Auxílio Brasil em relação a 2018.
Ele também foi o responsável por enviar uma peça orçamentária sem a previsão de recursos para a continuidade do Auxílio Brasil neste valor. A peça também tinha vários cortes em áreas fundamentais, que desgastaram Bolsonaro na campanha.
Bolsonaro ficou a campanha inteira dizendo que o auxílio iria continuar. Lula rebatia, com razão, que ele não estava na peça orçamentária. Vocês acham que isso não prejudicou a campanha de Bolsonaro?
Eu mesmo ouvi pelas ruas, em comunidades pobres, que Bolsonaro não ia continuar o auxílio e que Lula iria; Bolsonaro só teria feito isso pela eleição, tanto que não estava no Orçamento. A gente rebatia, mas o povo preferia acreditar na versão da campanha do Lula.
Não adianta Guedes dizer que isso seria corrigido pelo Congresso, que dependia de mudar o teto, que poderia ser resolvido colocando-se um artigo na Proposta da Lei Orçamentária ou que isso iria depender da aprovação de uma PEC, que ele mandaria junto com o Orçamento ao Congresso. Agora é Lula que está propondo essa PEC para resolver o assunto, não é?
Guedes não quis enfrentar essa discussão do teto de gastos. Para aprovar o auxílio até o fim desse ano, ele mobilizou o governo para aprovar no Congresso uma PEC somente para isso. Por que não resolveu logo, naquela PEC, o auxílio para 2023? Quis deixar para o Lula resolver?
Por que depois, quando o autor desse equivocado teto de gastos, Henrique Meirelles, passou a oportunisticamente a apoiar Lula, Guedes, também de forma oportunista, passou a criticar o teto? Por que não resolveu isso antes, já que o governo tinha maioria no Congresso?
Em resumo, deve-se somar a atuação de Guedes no governo –com problemas como os preços dos combustíveis, a inflação e a demora no Auxílio Brasil– com a peça orçamentária não estabelecendo a prorrogação desse o auxílio para o ano que vem, com cortes na Educação, na Farmácia Popular etc. Tudo isso em plena campanha eleitoral. Além de permitir que vazamentos de estudos da sua equipe levassem a um debate de algo inexistente por parte de Bolsonaro –a suposta não-correção ao salário mínimo ao menos pela inflação, o que, aliás, contraria a lei.
Que culpa Bolsonaro tinha dessa desastrosa atuação de Paulo Guedes?
É verdade que, em 2018, anunciar Paulo Guedes como futuro chefe da Economia ajudou a Bolsonaro a reduzir as desconfianças da sociedade com relação ao seu governo. Só que isso não dava a Paulo Guedes o direito de se achar o próprio presidente da República, prejudicando as ações políticas do governo e permitindo que uma verdadeira sabotagem contra Bolsonaro fosse perpetrada por sua equipe. Ele ajudou na perda da eleição.
Voltando à ordem dos fatos no 2º turno: antes mesmo do fim da live de 22 horas, estoura o caso de Roberto Jefferson, que já tinha divulgado um vídeo na 6ª feira agredindo uma ministra do STF com palavras de baixo calão. Como advogado que é, Jefferson já sabia das consequências desse vídeo.
Foi ele quem provocou o que viria a acontecer. Resistiu a uma ordem de prisão com uma violência absurdamente inaceitável. Buscou isso seja para prejudicar Bolsonaro, pois estava se achando abandonado, ou buscando a morte de uma forma que o pudesse se transformar em mártir­­ –o que jamais daria certo.
Seria um problema só dele se não colocassem, de forma injusta, o caso no colo de Bolsonaro. Como se Roberto Jefferson fosse algum coordenador da campanha –fato que, apesar de desmentido, ficou na cabeça das pessoas. Também chocou a violência praticada por ele contra policiais.
Importante lembrar que Jefferson inclusive não tinha nem se coligado a Bolsonaro no 1º turno. Lançou-se, ele mesmo, candidato a presidente, retirando preciosos segundos do programa eleitoral de Bolsonaro.
Depois, impedido de concorrer pela Justiça Eleitoral, Jefferson lançou um desconhecido padre. Achou que iria ajudar Bolsonaro, mas acabou o prejudicando ainda mais por associar a imagem do presidente a uma figura folclórica. Apesar de não ter cometido nada que o desabonasse, o Padre Kelmon (PTB) permitiu que a mídia colasse a sua imagem na de Bolsonaro, prejudicando o presidente.
A exposição da situação de Jefferson levou a um desgaste de Bolsonaro, agravado pelo envio do ministro da Justiça para o local –para acompanhar o desenrolar dos fatos, segundo o que foi divulgado. A reação tardia de Bolsonaro, que tentou se desvencilhar dos erros de Jefferson, não impediu que esse desgaste ganhasse força.
Na última semana, a decisiva para eleição, veio a tempestade perfeita: além do caso Jefferson, a campanha de Bolsonaro resolve fazer uma acusação amadora a respeito das inserções em rádios. Todos que são profissionais de campanhas eleitorais sabem que a campanha teria de ter fiscalizado o que relatou.
O pior foi quando grupos de apoiadores quiseram propor o adiamento da eleição. Um absurdo, que jamais seria possível.
A impressão que ficou é que isso só apareceu para tentar abafar a repercussão do caso Roberto Jefferson. Isso piorou ainda mais a situação de Bolsonaro.
Nessa última semana também houve erros de agenda. São Paulo deveria ter sido o centro da campanha.
Lembrando: todos os levantamentos indicavam que a virada em 2º turno seria difícil se Bolsonaro não se aproximasse ao menos em parte do resultado de 2018 em São Paulo. Em 2018, ele teve 68% dos votos válidos no segundo turno, 36 p.p. a mais do que o candidato do PT, o que representou mais de 8 milhões de votos. Mesmo em 2014, quando o PT venceu, com Dilma, ela perdeu para Aécio em São Paulo, por cerca de 7 milhões de votos.
No 1º turno, Bolsonaro teve 7 pontos percentuais a mais que Lula. Mas as pesquisas contratadas pela Globo davam só 4 pontos de diferença em São Paulo. Para vencer a eleição, Bolsonaro precisaria ter de 15 a 20 pontos de diferença sobe Lula em São Paulo. Acabou com 10,5 p.p. de diferença, bem mais do que as pesquisas da Globo apontavam, mas inferior ao necessário.
Em números absolutos, Bolsonaro venceu em São Paulo no 1º turno com vantagem de 1,7 milhão de votos. No 2º turno, foram 2,7 milhões de votos. Se Bolsonaro tivesse alcançado 60% dos votos válidos, essa diferença estaria perto de 5 milhões de votos. Isso teria lhe dado a vitória na eleição.
Depois veio o debate da Globo. A emissora repetiu o modelo da Band, que tinha dado certo naquele dia para Bolsonaro. Mas, na Globo, Lula veio mais preparado para o enfrentamento e conseguiu equilibrar o jogo. Deixou a sensação de que o debate foi ruim para os 2 lados. Como Lula estava na frente, isso o beneficiou.
Mesmo assim a chance de Bolsonaro era grande. Mas então veio a bizarra perseguição da deputada Carla Zambelli, com imagens divulgadas em longa reportagem no Jornal Nacional de sábado à noite, junto com versões não confirmadas da história dela.
Esse episódio foi a gota d’água para impedir que Bolsonaro vencesse, coroando uma semana desastrosa, iniciada por Roberto Jefferson. O eleitor de São Paulo deve ter refletido, e alguns preferiram a representação de um Alckmin a uma Zambelli.
É muito difícil vencer assim, contra tudo e contra todos, inclusive contra os seus “aliados”. Lula, se quiser fazer justiça a quem o ajudou na eleição, deveria convidar Guedes, Jefferson e Zambelli para fazerem parte do seu ministério.
Mas não se iludam. Bolsonaro perdeu com a menor diferença na história de uma eleição presidencial. Lula teve 60,3 milhões de votos, mas, se somarmos os votos de Bolsonaro, brancos e nulos, além da abstenção, mais de 95 milhões de eleitores não concordaram com a sua eleição.
Lula perdeu em 4 das 5 regiões do país. Foi o presidente eleito apenas na região Nordeste. Está longe de ter sido vencedor da forma como apregoam.
Na verdade, não foi Lula que venceu, e sim Bolsonaro que perdeu a eleição. Perdeu para si mesmo. Mais por conta dos seus “aliados” do que dos seus adversários.
Lula, por sua vez, sobreviveu muito mais por seu carisma pessoal do que pelo seu partido ou por alianças. Ele não terá condições de disputar uma reeleição, como já anunciou, ou até em função da idade e as condições dela decorrentes.
Ele não tem sucessor no seu partido, que sempre dependeu única e exclusivamente dele para sobreviver. Dilma está aí de exemplo. Além disso, o PT nunca foi dado a apoiar aliados e jamais abrirá mão de disputar com um nome seu à sucessão de Lula –vai tentar criar uma nova Dilma.
Então, não tenho dúvidas de que Bolsonaro –se não se misturar com alguns malucos e se não o tirarem da eleição com um “gol de mão”– voltará e se elegerá novamente, com relativa facilidade, em 2026.
Eduardo Cosentino da Cunha, 64 anos, é economista e ex-deputado federal. Foi presidente da Câmara em 2015-16, quando esteve filiado ao MDB. Ficou preso preventivamente pela Lava Jato de 2016 a 2021. Em abril de 2021, sua prisão foi revogada pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região. É autor do livro “Tchau, querida, o diário do impeachment”.

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