Eleições de 2022 dão início a um novo ciclo na política brasileira – USP
Esse novo ciclo é marcado, entre outros pontos e na opinião de José Álvaro Moisés, pela emergência explícita de duas forças que, até então, tinham como característica principal a inibição de se apresentarem como tal: a direita e a extrema-direita
“Esta eleição, que ocorreu em 2022, é uma das mais importantes eleições de todo o processo de redemocratização que o Brasil teve desde meados dos anos 80.” A essa afirmação, o professor e cientista político José Álvaro Moisés acrescenta que “foi uma eleição que, em grande parte, colocou em questão como nós, brasileiros, faríamos a manutenção e prosseguiríamos na manutenção e na defesa da democracia”. Para ele, essas eleições deram também início a um novo ciclo político no País, “no sentido de que, depois de muito tempo, essa é a primeira vez que teve a emergência claramente identificada de forças da direita e da extrema-direita na política brasileira”. As inibições que ambas ostentavam, de se apresentar com tanta clareza, caíram por terra, na opinião do colunista.
A disputa, que até então envolvia o PSDB e o PT – “e era uma disputa razoavelmente civilizada, organizada, é como se os dois partidos disputassem a hegemonia das políticas social-democráticas” -, agora mudou, o ciclo é outro. “Na medida em que houve a emergência dessas forças de direita e de extrema-direita, a característica do ciclo é colocar em questão discussões muito mais fundamentais, que dizem respeito ao comportamento, aos costumes e, num certo sentido, questões de natureza moral, mas também questões que envolvem uma visão extremamente autoritária do modo de organizar a relação entre a sociedade e o Estado […] são olhares sobre a política completamente diferentes daqueles que prevaleceram no período anterior”.
Para Moisés, esse quadro de mudanças pode ser datado a partir das grandes manifestações de 2013, “que eram extremamente críticas em relação aos partidos políticos, aos líderes políticos e também uma desconfiança das instituições”. Manifestações que, ainda segundo ele, não tiveram uma resposta clara das forças democráticas, o que, por outro lado, abriu espaço para a “emergência das forças representadas pelo bolsonarismo e pela eleição do presidente Jair Bolsonaro em 2018”. Esse novo ciclo que se abre traz algumas novidades, “talvez a mais importante delas é que nunca nós tivemos no Brasil uma situação de radicalização tão acentuada de polarização entre aqueles que, de alguma maneira, disputavam o poder. E isso acabou por levar à intolerância, à incapacidade de diálogo e à ameaça à democracia”.
Qualidade da Democracia
A coluna A Qualidade da Democracia, com o professor José Álvaro Moisés, vai ao ar toda terça-feria às 8h00, na Rádio USP (São Paulo 93,7 FM; Ribeirão Preto 107,9 FM) e também no Youtube, com produção do Jornal da USP e TV USP.
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Por Fernando Facury Scaff, professor da Faculdade de Direito da USP
Por Charles Mady, professor da Faculdade de Medicina da USP
Por Wânia Duleba, professora da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, Edmir Amanajás, pesquisador da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, e outros autores*