Em jornal francês, Lula sinaliza nova diplomacia e fim da condição de pária – UOL Confere

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Jamil Chade é correspondente na Europa há duas décadas e tem seu escritório na sede da ONU em Genebra. Com passagens por mais de 70 países, o jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparência Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Vivendo na Suíça desde o ano 2000, Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti. Entre os prêmios recebidos, o jornalista foi eleito duas vezes como o melhor correspondente brasileiro no exterior pela entidade Comunique-se.
Colunista do UOL
29/10/2022 09h53
Numa coluna publicada neste final de semana no jornal francês Le Monde, Luiz Inácio Lula da Silva detalha sua estratégia de política externa, sinaliza uma mudança na estratégia de meio ambiente, promete “cuidar” da Amazônia e ataca visão de mundo de Jair Bolsonaro.
Segundo o candidato do PT, “o Brasil aparecerá no cenário internacional para contribuir para a construção de um mundo melhor”. O tom de retorno do país ao debate mundial soou como uma repetição do lema de Joe Biden que, ao vencer sua eleição contra Donald Trump, sinalizou que os EUA estariam de volta no cenário internacional – “America is Back“.

“Hoje, a emergência climática, a desigualdade crescente e as tensões geopolíticas revelam a gravidade da crise que afeta nosso planeta”, escreveu Lula. “Infelizmente, Jair Bolsonaro tem continuado a piorar esta situação, praticando o revisionismo climático, minando as instituições de nossa democracia e promovendo a intolerância. Estas características de seu governo fizeram do Brasil um novo pária no cenário internacional. Isto não pode continuar”, disse.
Entre suas promessas ao mundo, Lula indica que vai adotar “fortes iniciativas para a proteção do meio ambiente, especialmente da Amazônia, e para a luta contra a pobreza global”.
“Meu governo também reposicionará nosso país no coração do investimento internacional, para que possamos criar empregos e fazer a economia funcionar novamente para o benefício de todo o povo brasileiro, não apenas de alguns poucos”, disse.
Segundo ele, sua gestão será marcada pelo lema “credibilidade, previsibilidade, estabilidade” e indicou como cada um dos temas internacionais será tratado por seu governo. “Meu objetivo agora é fazer mais e melhor. Para isso, é necessário que o Brasil esteja novamente presente nos grandes debates internacionais”, escreveu.
“Vamos desenvolver uma política externa soberana e ativa. Trabalharemos em prol da paz, do diálogo e da cooperação internacional”, insistiu.
Em sua coluna, Lula apontou que uma das estratégias será a de restabelecer o foco do Brasil no multilateralismo e com o clima como pilar.
“Acreditamos em um mundo multipolar e, ao contrário de alguns membros do governo Bolsonaro, não acreditamos que a Terra seja plana e que a mudança climática não exista. Meu governo trabalhará, junto com outros países, para reconstruir o Fundo Amazônia e assim cuidar da floresta amazônica e da biodiversidade”, disse.
O Fundo, criado com Alemanha e Noruega, foi desmontado por Bolsonaro ainda em 2019, deixando bloqueados R$ 3 bilhões que poderiam ser usados para a preservação da floresta.
Foi ainda a recusa do governo Bolsonaro de dialogar sobre a situação na Amazônia e os dados de desmatamento recorde que levaram governos em diversas partes do mundo a buscar uma distância em relação ao brasileiro. Acordos foram paralisados e a credibilidade do país sofreu.
Eis alguns dos destaques da política externa de Lula, segundo sua coluna no principal jornal francês:
Uma das prioridades de Lula, segundo ele, será o de “fortalecer o Mercosul e relançar a integração regional”. “Não queremos mais que a América Latina se limite à exportação de matérias-primas. Neste sentido, trabalharemos para garantir que nossos países possam mais uma vez se industrializar e fazer progressos tecnológicos”, disse.
Num outro trecho, Lula deixa claro que a relação com a Europa é fundamental para servir de contrapeso ao mundo dominado por EUA e China.
“Diante da crescente rivalidade entre a China e os Estados Unidos, queremos nos engajar no diálogo com todos eles e construir uma parceria estratégica com a União Europeia (UE)”, disse.
Mas ele também sinaliza que poderá pedir uma reabertura das negociações do acordo comercial com Bruxelas, fechado em 2019 por Bolsonaro e que ficou distante da ambições dos exportadores brasileiros.
“A melhoria dos termos do acordo Mercosul-UE nos permitirá aumentar nosso comércio, aprofundar nossos laços de confiança e fortalecer a defesa de nossos valores comuns”, apontou.
O que chamou a atenção de diplomatas estrangeiros foi ainda a ausência de qualquer referência ao processo de adesão do Brasil na OCDE. O assunto era tratado como prioridade pelo governo de Jair Bolsonaro. Mas não faz parte da Carta publicada por Lula nos últimos dias e que traz informações sobre suas propostas para uma dezena de setores.
Lula ainda destaca que outra prioridade de seu governo será “restaurar a relação com o continente africano. O Brasil estará presente para ajudar e expandir a cooperação política, econômica e social com seus países”.
O que não muda na diplomacia de Lula é a ambição de se negociar uma ampliação do Conselho de Segurança da ONU, uma eterna reivindicação do Brasil em praticamente todos seus governos.
“Acreditamos – e, ao vencer, trabalharemos por – um mundo multipolar unido em torno de valores como a solidariedade, a cooperação, o humanismo e a justiça social. Diante dos desafios da civilização que vivemos, acreditamos em uma nova governança global que deve começar com a ampliação do Conselho de Segurança da ONU e o estabelecimento de novas formas de cooperação entre os países”, disse.
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