Em recado a Lula, Campos Neto diz que inflação depende do fiscal e população sofre com desequilíbrio – InfoMoney
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Presidente do BC diz que Brasil registrou uma piora recente na percepção sobre quando a redução nas taxas de juros será iniciada
BRASÍLIA – A dinâmica inflacionária no Brasil depende das definições do governo sobre o arcabouço fiscal, disse nesta sexta-feira o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ressaltando que o mercado está sensível ao debate sobre as contas públicas.
Em discurso fortemente focado na questão fiscal e com recados ao governo eleito, Campos Neto afirmou que o Brasil registrou uma piora recente na percepção sobre quando a redução nas taxas de juros será iniciada, acrescentando que esse movimento ocorreu “muito devido à percepção sobre qual será o novo arcabouço fiscal”.
Ele disse ainda que a autonomia do Banco Central passará por um “teste importante” com a primeira transição política após a aprovação da nova lei, mas frisou que a autarquia é um órgão técnico e vai cooperar com o governo eleito.
“A gente vê uma dinâmica positiva (da inflação) na margem que precisa ser confirmada. Obviamente, vai depender muito de expectativa, vai depender muito de qual vai ser o plano fiscal, qual vai ser o arcabouço fiscal à frente”, disse Campos Neto durante palestra na associação de finanças CFA Society Brazil.
O presidente do BC afirmou que é necessário “ter um olho” para o social, mas também para o equilíbrio fiscal, sem o qual há ampliação das incertezas e “quem sofre é a população que você quer ajudar”.
“Se não tiver equilíbrio fiscal e começar a afetar as outras variáveis, vai achar que fazendo um gasto adicional muito maior vai ajudar a sua causa de gerar emprego e atender a população carente, mas na realidade pode estar tendo efeito oposto”, afirmou.
“Se você desorganiza o mercado, diminui investimento, gera instabilidade, acaba gerando desemprego. Essa equação que o governo tem que resolver, e o Banco Central vai trabalhar junto.”
O mercado teve forte reação negativa na quinta-feira após o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva afirmar que gastos públicos têm que ser considerados investimentos e voltar a criticar a regra do teto de gastos, com o dólar disparando mais de 4% no fechamento do dia, enquanto o Ibovespa caiu 3,61%.
Em sua apresentação, Campos Neto disse que o movimento observado no mercado doméstico foi uma demonstração clara da sensibilidade em relação ao fiscal, ressaltando que isso tem ocorrido globalmente. Ele ponderou que é normal a existência de ruídos em momentos de transição de governo.
Campos Neto também disse que “o problema” foi que durante a campanha foram feitas promessas pelos candidatos, mas agora o mercado começa a entender que parte dos programas que seriam temporários acabaram se estendendo.
Perguntado sobre eventual existência de risco de a autonomia do BC ser alterada, Campos Neto disse que a regra teve apoio do Congresso e do Judiciário, argumentando ser importante permanecer na presidência do órgão por mais dois anos para mostrar que o mecanismo funciona.
“Mas o Banco Central é técnico, vai trabalhar com o novo governo, vai tentar cooperar no máximo que for possível”, afirmou.
O presidente do BC disse ainda que tem conversado com o economista Persio Arida, membro do grupo de transição de governo. Ele afirmou que a autoridade monetária está aberta a participar dos trabalhos, “entendendo que a gente não faz fiscal”.
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