Entrevista: Nova Secretaria de Negócios Internacionais de São Paulo quer alavancar investimentos – InfoMoney

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Secretário Lucas Ferraz, que está em Davos com o governador Tarcísio de Freitas, tem como meta desburocratizar exportações do Estado
Sob nova direção desde a posse do governador Tarcísio de Freitas, a antiga Secretaria de Relações Internacionais do governo do Estado de São Paulo ganhou nova denominação e atuação. A Secretaria de Negócios Internacionais tem como foco agora desenhar toda a estratégia de inserção internacional do Estado, levantando prioridades, identificando deficiência e atraindo investimentos.
O novo secretário, Lucas Ferraz, que comandava até dezembro a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Fazenda, diz em entrevista ao InfoMoney que o foco de seu trabalho será a promoção das exportações e busca por uma reindustrialização moderna e sustentável. O trabalho de promoção do Estado junto a representantes internacionais começou hoje em Davos, na Suíça, onde os secretário e governador têm marcadas diversas reuniões com CEOs, presidente de organizações multilaterais e representantes de governos.
Além da Secex, Ferraz traz na bagagem experiências na diretoria do New Development Bank (o chamado Banco dos BRICS) e do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF), além de ter ocupado o posto de governador do Brasil junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e ao Fundo Financeiro para o Desenvolvimento da Bacia do Prata (Fonplata). Leia a seguir trechos da entrevista:
IM: A Secretaria não mudou só de nome, mas também de escopo. Qual o objetivo da mudança?
Lucas Ferraz: A Secretaria antiga, de Relações Internacionais, era usualmente focada no que a gente chama de paradiplomacia, a diplomacia no nível subnacional. Era voltada para receber encontros com cônsules, embaixadores, programar missões com o governador lá fora, assinaturas de acordos de cooperação, memorandos de entendimento. Enfim, era uma agenda importante, inegavelmente tem de ser feita. Mas nós entendemos que São Paulo pode muito mais na área internacional. De uma maneira muito sumária, o que nós estamos querendo é transformar essa Secretaria numa alavanca a mais de investimentos. Como a gente transforma isso? Aumentando o nível de inserção internacional do nosso Estado. Mais inserção internacional, mais produtividade, mais investimento, mais geração de emprego e renda.
Como será esse trabalho, na prática?
Temos duas dimensões importantes. A primeira é a dimensão da promoção comercial e segunda da atração de investimentos. No lado da promoção, queremos focar o trabalho nas exportações. Daí, vem uma série de questões voltadas para a desburocratização para eventualmente estudos futuros visando a desoneração dessas exportações. Sabemos que até hoje o Brasil é um país que exporta impostos, quando não deveria. Temos também a questão da desburocratização no lado das importações, a chamada facilitação do comércio. A gente quer falar da desburocratização de portos, quer falar também de mecanismos que diminuam a burocracia portuária no Estado de São Paulo e queremos também falar da atração de investimentos e relacionamento com bancos multilaterais.

E a questão da atração?
A atração de investimentos para o Estado foi, ao nosso ver, de uma forma equivocada, totalmente terceirizada para a InvesteSP, que é uma empresa importante, mas queremos reconfigurar a relação dela com a área internacional. O desenho que estamos criando, é que a Secretaria fique o a parte de Planejamento, de desenho da estratégia de inserção internacional do Estado e, em que a InvesteSP seja o braço executor dessa política. Nossa ideia também é de criar um grupo em conjunto com as demais secretarias selecionar a carteira de projetos prioritários para o Estado. A partir dessa carteira, nossa equipe buscará por meio da relação próxima com bancos multilaterais a captação desses recursos.
Como ficam os escritórios de representação da InvesteSP no exterior?
Para a atração de investimentos, nós temos escritórios internacionais abertos lá fora (as representações do Estado no exterior estão instaladas em Xangai, Dubai, Munique e Nova York). O que pensamos em fazer, nesse momento, é avaliar os resultados que esses escritórios estão trazendo, em parceria com a InvesteSP, e a partir dessa avaliação abrir um número maior de escritórios. À luz do que já é feito em outros estados e regiões de países desenvolvidos, como EUA e União Europeia. Tem estados, por exemplo, com 15 a 20 representações comerciais e de atração de investimentos no exterior.
A InvesteSP perde força?
A Investe São Paulo continua como está. Ela tem um corpo técnico muito qualificado. Temos um presidente novo, que é o Rui Gomes Júnior, recém-empossado. É altamente técnico e competente, da confiança do governador. A InvesteSP tem contrato de gestão com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico. O que nós queremos é o estabelecimento de um contrato de gestão entre a Secretara de Negócios Internacionais e a InvesteSP. Mas um contrato que não terceirize essas iniciativas de promoção comercial e de investimentos. Um contrato onde fique claro que a estratégia é definida na nossa secretaria e a empresa é o braço executor dessa política.

Algum setor específico terá prioridade para a atração de investimentos?
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Nosso papel, como Secretaria, não é a seleção de projetos. Essa seleção fica a cargo da Secretaria de Infraestrutura, do PPI, pro exemplo. O que a gente faz é, a partir da coordenação, selecionar os projetos importantes e ir atrás do funding. Sobre um política específica para a atração de um determinado investimento A, B ou C, nosso entendimento é que essas políticas devam ser horizontais. A atração de investimentos será advinda da melhoria do nosso ambiente de negócios, das vantagens comparativas do Estado de São Paulo.
E quanto ao parceiros estratégicos?
Em linhas gerais, acho que tem duas dimensões importantes: a primeira é o mapeamento de quais são os principais parceiros comerciais do Estado e com quais países nós temos um fluxo bilateral de investimentos mais forte. O mapeamento disso é o passo inicial para estabelecer os escritórios. O segundo critério é o ‘foward look’, o olhar para a frente. Para onde o Estado está caminhando em termos de novas fronteira de acesso a mercados? Aí nós temos que olhar, por exemplo, para a região asiática, com mais ênfase. Temos hoje, no âmbito federal, a recente conclusão do acordo de livre-comércio do Mercosul com Cingapura – eu inclusive participei como negociador-chefe do Ministério da Economia. Temos negociações em curso com a Coreia do Sul e o governo brasileiro pensa em abrir negociações com Indonésia e Vietnã. Isso é um exemplo daquilo que nós como Estado de São Paulo devemos olhar, que é para onde está caminhado a abertura de mercados para as exportações do Brasil e do Mercosul. Certamente tem que estar alinhado com essa agenda, para eventualmente a abertura de novos escritórios.
Como será a participação do Estado no Fórum Econômico de Davos?
Temos uma agenda já montada, muito ambiciosa, de encontros para o governador Tarcísio. Ele tem sido bastante procurado para reuniões bilaterais. Temos diversas reuniões marcadas com CEOs globais de grandes empresas – já instaladas ou que planejam investir em São Paulo. Temos também reuniões com fundos soberanos de investimento, com presidentes de bancos multilaterais de desenvolvimento econômico (BID e Banco Mundial, por exemplo) e com OCDE, que é importante para nós. Temos reuniões marcadas também com ministros de Estado e eventualmente também estamos articulando reuniões com presidentes. É uma agenda de altíssimo nível, de chefe de Estado. São Paulo tem sido assim tratada. Esse polo é a terceira maior economia da América Latina a 21ª maior economia do mundo. E temos aí dois grandes objetivos com essa visita. Evidentemente o primeiro é a atração de investimentos, é apresentar e “vender” São Paulo para a comunidade global de negócios. E também, evidentemente tem um componente de cunho sinalizador: que nosso governo tem um compromisso fundamental com a agenda de desenvolvimento econômico moderna, especificamente a sustentabilidade, com a inclusão social e com o combate à desigualdade social.
E quanto ao trabalho antigo da Secretaria?
O que estamos fazendo na verdade é adicionar a dimensão econômica nessa secretaria. A paradiplomacia tem que continuar a ser feita, com memorandos de entendimento em setores de tecnologia, cultura e meio ambiente. Tudo isso continuará sendo feito, talvez até com mais ênfase do que no passado. Mas o grande diferencial é de fato a dimensão econômica que estamos trazendo para a área internacional do Estado de São Paulo. A transformação dessa Secretaria para além da paradiplomacia, numa alavanca de crescimento econômico do Estado.
A atração de eventos internacionais está nos planos?
A agente atuará, seja como o papel de protagonista, dependendo do evento, seja em parcerias com outras secretarias. Certamente atuará em cooperação com essas áreas, mas existem eventos que eventualmente a gente pode ter o papel de protagonista, que sejam relacionados à Cultura, ao Turismo. Por exemplo, a gente pode pensar em São Paulo sediar eventos da agenda econômica internacional. No ano que vem, por exemplo, o Brasil sediará o G-20. Por que não São Paulo sediar alguns desses eventos? São encontros ministeriais e presenciais. Esse é um exemplo de um evento externo que nós poderíamos ter um papel protagonista.
Sustentabilidade é hoje um importante atrativo de investimentos. Como o Estado vai trabalhar isso?

São Paulo é um Estado que tem uma matriz energética lima, sustentável. Estamos compromissados a sustentabilidade, a preservação ambiental. E acompanhando com preocupação alguns movimentos que vem acontecendo na esfera internacional. A gente sabe que se discute na União Europeia a imposição de barreiras para além das tarifas de importação para bens exportados por outros países que eventualmente sejam julgados como bens com pegada de carbono A, B ou C, o chamado Carbon Border Adjustment Mechanism (CBAM). Essas discussões também vêm ocorrendo nos Estados Unidos. Ou seja, regiões do mundo que unilateralmente estão tomando medidas para eventualmente botar barreira a exportações de outros países com critérios não necessariamente compatíveis com o sistema multilateral de comércio. Isso preocupa, muito embora São Paulo tenha uma pegada ambiental muito forte. Nosso entendimento é que essas discussões, ao invés de serem feitas nesse nível unilateral, deveriam ser feitas no ‘locus’ correto, que é a OMC
A reindustrialização é um dos objetivos da secretaria?
A desindustrialização é um fenômeno que vem ocorrendo há pelo menos 30 ou 40 anos no Ocidente. Onde ela não aconteceu nessa velocidade foi justamente no continente asiático – especificamente a China. No caso dos outros países, ela foi acompanhada de um fenômeno chamado ‘servitização’ dessas economias. O processo de perda de participação da indústria (no Brasil) tem a ver também com a nossa pouca inserção internacional. Esse é o primeiro ponto. Economias mais inseridas na globalização perderam menos participação da indústria do que as economias que são mais fechadas O segundo ponto tem a ver com as características do Brasil. Nós tivemos políticas tributárias ruins ao longo do tempo – um misto de IVA com sistema acumulativo -, isso também em função de governos que gastaram muito e exigiam que o Estado tributasse mais também para compensar esse aumento de gastos. A agenda do Estado de São Paulo é exatamente focada nesse ponto. É uma agenda sim de reindustrialização, de melhoria no ambiente de negócios, de redução eventualmente de carga tributária que incide sobre as nossas exportações, especificamente na parte comercial. A gente quer trabalhar para desonerar as exportações brasileiras e desburocratizar. É uma agenda voltada para a reindustrialização, mas não a dos anos 1950s, 1960s, uma reindustrialização moderna.
Então, o papel dos serviços continuará importante?
A gente também quer trabalhar o setor de serviços, não só no comércio de bens. Um dado interessante: a cada US$ 1 que São Paulo exporta para o mundo de bem industrial, cerca de US$ 0,40 corresponde ao pagamento de serviços (importados ou produzidos localmente). O que a gente tem detectado é que as barreiras de importação de serviços sofisticados (os que não estão disponíveis no Brasil) são muito altas. Daí a importância de a gente retirar as barreiras ao comércio de serviços em São Paulo porque isso também contribui para a industrialização do Estado. Hoje em dia vc não consegue nem mais diferenciar o que um serviço e o que é um bem. O exemplo clássico é do iPhone ou outro smartphone. Ele é um bem ou é um serviço? Olha a quantidade de serviços que tem embutido nesse equipamento. É dessa reindustrialização moderna que São Paulo está falando.
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